Expressões Artísticas no 1.º Ciclo: A disciplina invisível.
As áreas de Expressão musical, dramática e plástica, continuam em grande parte das escolas do 1.º Ciclo do Ensino Básico, a ser encaradas como marginais, opcionais ou meramente lúdicas. Embora os documentos orientadores do currículo reconheçam o seu papel central no desenvolvimento integral da criança, a realidade quotidiana denuncia a sua constante subvalorização.
É recorrente que as horas destinadas a estas disciplinas sejam ocupadas com tarefas de recuperação de conteúdos das áreas ditas “nucleares” e as Expressões Artísticas se convertam em tempos de fichas, redações e contas. Em vez de serem espaços de experimentação criativa, de expressão emocional e de construção sensível do conhecimento, transformam-se em tampões logísticos de uma lógica educativa centrada no desempenho mensurável.
Esta tendência não pode ser dissociada do cansaço e da desmotivação de muitos professores titulares de turma, frequentemente sujeitos a cargas horárias excessivas, turmas heterogéneas, exigências burocráticas desproporcionadas e metas curriculares irrealistas. A juntar a tudo isto, a formação inicial e contínua nas áreas artísticas e expressivas revela-se, em muitos casos, insuficiente ou ausente, deixando os docentes inseguros quanto à planificação e concretização destas práticas.
Mas seria injusto centrar a responsabilidade apenas no corpo docente. A verdade é que também os encarregados de educação raramente exigem a valorização destas disciplinas. Poucos se indignam com a sua ausência ou questionam a sua qualidade. Na maioria das vezes, os resultados na disciplina de Português e Matemática continuam a ser os únicos indicadores de sucesso que mobilizam os discursos familiares. Este silêncio cúmplice reforça a ideia de que as Expressões Artísticas são “acessórias”, uma ideia que contraria frontalmente tudo o que se sabe sobre desenvolvimento infantil.
As disciplinas musical, dramática e plástica são tão estruturantes quanto qualquer outra área curricular. Através delas, as crianças exploram linguagens alternativas ao verbal e ao lógico-matemático, desenvolvem o pensamento simbólico, a coordenação motora, a sensibilidade estética, o espírito crítico, a capacidade de comunicação e a criatividade, competências fundamentais para o século XXI e para qualquer percurso de vida pessoal e profissional.
É, por isso, urgente recentrar a discussão curricular e formativa, assumindo a necessidade de:
- investir na formação contínua dos professores nestas áreas;
- assegurar a presença de especialistas nos contextos escolares;
- redefinir o conceito de “essencial” no currículo;
- e envolver as famílias na defesa de uma educação que vá além dos testes e das metas.
Enquanto as Expressões Artísticas forem tratadas como tempos de ocupação ou “folgas pedagógicas”, estaremos a limitar o potencial de desenvolvimento das nossas crianças e a falhar, coletivamente, na missão de educar com sentido e com profundidade.