Cultura em Guimarães: cidade rica, freguesias esquecidas
Com as eleições autárquicas a aproximarem-se, é tempo de olhar com atenção para as políticas culturais do concelho. Guimarães é apontada como exemplo de dinamismo cultural, mas será essa oferta realmente acessível a todos? A cultura, e particularmente a música, continuam fortemente concentradas na cidade, enquanto muitas freguesias vivem à margem da programação regular.
É verdade que o município criou projetos como o ExcentriCidade, que leva teatro, música e residências artísticas a freguesias como São Torcato, Barco ou Ronfe. Também o Impacta já apoiou centenas de iniciativas culturais, promovendo alguma diversidade territorial. Mas estes projetos, embora meritórios, permanecem pontuais e insuficientes para garantir um acesso sustentado à criação e fruição musical fora do centro urbano.
O contraste é visível: os grandes equipamentos culturais — como o Vila Flor, o Teatro Jordão ou a Plataforma das Artes, concentram os recursos e as agendas. Nas vilas e aldeias, os salões paroquiais e auditórios estão muitas vezes ao abandono e o calendário cultural reduz-se às festas populares.
No campo da educação musical, a desigualdade é gritante. Faltam professores de música em todas as escolas do 1.º ciclo e o acesso ao ensino artístico depende das parcerias com o Conservatório de Guimarães. Freguesias com tradição, como as Caldas das Taipas, têm banda de música com uma escola ativa, mas outras freguesias vivem no silêncio musical.
Os próximos quatro anos exigem mais do que promessas: exigem metas concretas. Quantas atividades culturais por freguesia? Que orçamento dedicado à cultura, nomeadamente à música local? Que condições para fixar artistas e apoiar projetos sustentáveis fora da cidade?
A cultura não pode continuar a ser privilégio de quem vive perto dos palcos centrais. Guimarães precisa de uma política cultural que vá além do simbólico e que trate as freguesias como territórios de criação e não apenas de receção.