Consequências
Em 1992 foi inaugurado o Hospital de Guimarães. Neste mesmo ano o Grupo Sonae comprou os terrenos das Lameiras à autarquia vimaranense por um milhão de contos (cinco milhões de euros). Ao adquirir estes terrenos, estando contemplado como condição prévia, o Grupo Sonae comprometeu-se a construir as instalações definitivas da Central de Camionagem, motivo principal pela sua aquisição pela autarquia, pondo assim termo ao longo folhetim da incapacidade municipal em resolver a construção deste equipamento há muito reclamado.
No entanto, este processo não foi fácil, obrigando o investidor a declarar publicamente a sua disponibilidade para conjuntamente com a Câmara Municipal resolver as questões relacionadas com o impacto e a integração estética do empreendimento a edificar num local periférico ao coração da cidade e próximo de alguns serviços públicos, para acalmar as vozes discordantes de quem não entendia a razão de se instalar este hipermercado e toda a construção envolvente neste local – terreno classificado como aptidão agrícola e situado em zona de cheia do leito da Ribeira de Couros e do transtorno mais que evidente que iria provocar no tráfego da principal artéria de entrada da cidade.
Não menos importante e muito pouco esclarecida foi a mudança verificada para a utilização do terreno que sendo adquirido pela câmara com o objectivo de aí construir um equipamento público foi permitida a sua venda parcial para construção de edifícios de investimento privado…
Passamos a ter um hipermercado com uma Central de Camionagem, junto ao Hospital de Guimarães, com ligação e acesso directo por passagem elevada pedonal entre os dois espaços. Um pouco mais tarde deslocalizou-se o Mercado Municipal do gaveto da Paio Galvão e Conde de Margaride para junto da Central de Camionagem instalada no Centro Comercial. A feira semanal, que andou sempre de maço para cabaço, seguiu o mesmo caminho e fixou-se junto ao actual Mercado Municipal. Dentro da Central de Camionagem, propriedade do município, foi instalada uma Loja dos CTT.
Num pequeno espaço de tempo, assistimos à concentração de vários equipamentos numa parcela delimitada da cidade, com uma capacidade de oferta de serviços e bens sem paralelo no concelho.
1992 foi o ano do princípio da formação de uma nova centralidade comercial urbana e o início do abandono e esvaziamento da capacidade atractiva do comércio local no nosso centro urbano tradicional, a zona intramuros e as ruas adjacentes.
Foi notícia uma reunião do denominado Conselho Consultivo para o Investimento e Emprego da Câmara Municipal de Guimarães, na esperança de encontrar soluções capazes de dinamizar o comércio local. Tarefa difícil, mas urgente e necessária.
Sinceramente aguardo que todos os elementos envolvidos nesta discussão consigam encontrar a fórmula capaz de inverter o cenário actual, há muito conhecido e publicamente denunciado mas que, infelizmente, foi sempre desvalorizado pela maioria socialista do executivo municipal.
Torcato Ribeiro escreve com ortografia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.