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Coerência

Nuno Vaz Monteiro
Opinião \ quinta-feira, julho 25, 2024
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A uns tudo se permite e justifica, a outros tudo que é de mau se imputa e “levam por tabela” pelo que fizeram, pelo que não fizeram e pelo que poderão vir a fazer.

Há assuntos que mexem com a minha paz de espírito e me deixam mesmo revoltado, e a incongruência que existe naquilo que é o tratamento político e social entre a esquerda e a direita é um deles.

A uns tudo se permite e justifica, a outros tudo que é de mau se imputa e “levam por tabela” pelo que fizeram, pelo que não fizeram e pelo que poderão vir a fazer; muitas vezes fruto de delírios e estratégias políticas de amedrontamento.

Vimos há uns dias, ainda no decorrer do euro2024, que um jogador turco foi suspenso por dois jogos por ter feito um gesto durante um festejo. Numa suposta alusão a um grupo turco de “extrema direita”, o gesto com as mãos a formar a figura de um lobo custou caro ao jogador, porque, segundo as regras da UEFA, “por não cumprir os princípios gerais de conduta, por violar as regras básicas de conduta decente, por utilizar eventos desportivos para manifestações de natureza não desportiva e por levar o desporto futebol ao descrédito”. No entanto, tivemos, mais que uma vez, o jogador Mbapé, que veste a camisola da França, a fazer campanha política, em conferência de imprensa, a favor do voto na esquerda francesa para as eleições mais recentes, sem que incorresse em qualquer sanção ou sequer um aviso. Vimos até vários órgãos de comunicação social a elogiar este acto de campanha durante as conferência de imprensa do euro2024.

São vários os exemplos desta falta de coerência, tantos que irritam.

No ano passado, aquando dos grandes protestos e tumultos contra o aumento da idade da reforma, também em França, a RTP3 noticiou o assunto e passou uma entrevista do ministro do interior francês, com uma tradução que fez muitos telespectadores protestarem junto do provedor do telespectador. Dizia o ministro francês que a “extrême gauche” atacou violentamente as forças da autoridade e voltou a repeti-lo no final da entrevista. A RTP3 traduziu como “extrema direita” aquilo que, na base do conhecimento da língua francesa, se conhece como esquerda. Uma forma de levar os desconhecedores da língua francesa a ter uma ideia completamente oposta à realidade do que foi transmitido. Truques e estratégias de amedrontamento, como referi acima.

Também, em Portugal, se vê com repulsa e como um dos grandes males do mundo a “suposta” extrema direita. Fruto de uma constante desinformação por parte dos órgãos de comunicação social, as pessoas atacam os partidos à direita sem saberem muito bem o porquê. Mas em relação à extrema esquerda, de quem se conhece atos de vandalismo com montras e estátuas, edifícios públicos e propriedade privada, não se vê nenhum mal.

Alguns até vocalizam o desejo da morte de presidentes da república democraticamente eleitos e albergam nas suas fileiras membros de grupos terroristas condenados em tribunal em Portugal. Mas está tudo bem em relação a eles.

Voltamos a França para o exemplo desta semana, o primeiro dia de sessão no novo parlamento. De acordo com uma antiga tradição, a primeira sessão é presidida pelo deputado mais velho e terá como secretário o deputado mais novo, ao qual cabe a função de receber todos os deputados cordialmente, com um aperto de mão, que desde sempre tem significado de paz, de concórdia, de cordialidade, de respeito. Neste caso, o secretário foi Flavien Termet, deputado que tem apenas 22 anos e que foi eleito pelo partido de Marine Le Pen. Neste ato, viu-se os “democratas” da extrema esquerda passar pelo jovem deputado e deixarem-no de mão estendida, um atrás de outro e outro, até que chega um deputado, que é um antigo membro do partido comunista, e faz um gesto de intimidação, como se alguma superioridade tivesse. Se fosse ao contrário, seria uma imensa contestação e abriria telejornais.

Não se pede muito. Pede-se isenção e coerência!