A árvore da paz
Durante muitos anos, aquela pequena escola foi o coração da aldeia. As suas paredes acolheram centenas de crianças que ali aprenderam a ler, a contar, a desenhar o mundo com lápis de cor. Hoje, restam apenas cinco alunos, uma professora, uma auxiliar e uma sala adaptada a tudo: biblioteca, refeitório, cozinha e até palco improvisado. Mas, apesar da simplicidade, ainda era ali que se celebravam as poucas festas que uniam a comunidade: o início do ano letivo, o Natal, o Dia da Árvore, quando cada criança plantava uma pequena muda que crescia como símbolo de esperança.
No último verão, porém, tudo mudou. Alice, de apenas sete anos, acordou com a aldeia em alvoroço. As chamas aproximavam-se rapidamente, e a Proteção Civil não teve alternativa senão ordenar a evacuação. Não era novidade ver o céu escurecido pelo fumo. Todos os anos o fogo rondava aquelas serras. Mas desta vez foi diferente: o vento traiçoeiro espalhou as chamas, e metade da aldeia foi engolida pelo inferno.
Duas semanas depois, quando o fogo já tinha sido controlado, os habitantes começaram a regressar. Uns encontraram as suas casas intactas, outros apenas cinzas no lugar onde antes havia paredes, fotografias e memórias.
Alice e a família tiveram sorte. A casa manteve-se de pé.
Numa das primeiras voltas pelo lugar, Alice correu até à escola. Queria acreditar que ainda estava lá, mas o que encontrou foi silêncio e destruição. As mesas e cadeiras estavam reduzidas a carvão, os livros chamuscados já não contavam histórias, e o jardim, outrora repleto de gargalhadas, tinha os baloiços retorcidos e o escorrega enegrecido.
De olhos marejados, continuou a andar até ao pequeno bosque onde todos os anos se comemorava o Dia da Árvore. Reconheceu de imediato o espaço, mesmo que agora o chão fosse apenas cinza. Entre troncos queimados, conseguiu distinguir a sua árvore. Tinha sido plantada meses antes com todo o carinho e marcada por um papel preso ao caule: “Árvore da Paz”.
O fogo não perdoara. O papel estava chamuscado, as letras quase ilegíveis, e a pequena árvore, ainda tão frágil, não resistira. Alice ajoelhou-se diante dela. Não chorava apenas pela escola ou pelo jardim, mas por aquela vida que lhe tinham tirado cedo demais.
Naquele instante, entendeu que não era só uma árvore. Era um símbolo. E que, apesar de ter ardido, a vontade de recomeçar não podia arder com ela.