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“Quero sentir que dei o meu contributo para a nossa comunidade”

Bruno José Ferreira
Política \ domingo, janeiro 02, 2022
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Ainda jovem, aos 31 anos o taipense Nelson Felgueiras assumiu recentemente a função de vereador da Câmara Municipal de Guimarães. Com pelouros como o desporto e a juventude, o vereador quer deixar o seu “contributo para a nossa comunidade”.

Aos 31 anos abraça um novo desafio, chegando a vereação da Câmara Municipal de Guimarães. Como têm sido os primeiros tempos nestas funções?

Tem sido um enorme desafio. No início é naturalmente necessária uma fase de conhecimento do funcionamento da Câmara Municipal de Guimarães, dos seus serviços e das pessoas. Estes primeiros tempos têm sido muito intensos, tenho feito questão de somar ao conhecimento da casa também o conhecimento da realidade no terreno, nas áreas que me estão confiadas, sobretudo nas áreas do desporto e da juventude, em que tenho feito questão de estar no terreno a conhecer os clubes, dirigentes, e as instituições. Têm sido semanas intensas, mas com enorme entusiasmo, que era essa a expetativa que tinha ao assumir este tipo de funções.

São as funções mais desafiantes até agora?

Todas as funções que ocupamos têm desafios inerentes e, portanto, seria injusto da minha parte dizer que o desafio maior é este ou aquele. Todos foram importantes no momento em que tive oportunidade de os abraçar. Naturalmente que exercer funções executivas na Câmara Municipal de Guimarães é um desafio enorme e um privilégio tremendo. É algo que sinto que me dá a possibilidade de contribuir para a minha comunidade. Desde muito novo foi algo que sempre gostei de fazer. É um dos maiores desafios que abraço.

Esperava chegar a este patamar com esta idade, ambicionava isso ou foi algo que foi surgindo?

Esta porventura será uma reposta politicamente correta, mas é genuína da minha parte. Nunca fiz projetos daquilo que gostava de fazer do ponto de vista da minha intervenção pública. Entendo que o desempenho deste tipo de funções é um serviço público que nós prestamos. As coisas têm surgido de forma natural, progressiva, pelo envolvimento que tenho tido, pelo trabalho que tenho feito, pelas pessoas que tenho tido ao meu lado e que me permitem fazer esse trabalho, que de alguma forma têm propiciado a oportunidade de fazer intervenção, que começou desde muito cedo. Foi algo que foi surgindo e quis agarrar com muita força.

Herda alguma das pastas do também taipense Ricardo Costa. Como foi a passagem de testemunho?

Correu tudo pelo melhor. Felizmente na Câmara temos um conjunto de serviços e de pessoas que trabalham nestas áreas há muito tempo que têm uma estrutura que facilita a transição. Quando assumo funções já havia um conjunto de dossiês que estavam a ser desenvolvidos, como a questão das candidaturas aos apoios, que terminam poucas semanas depois do início de funções. Com tranquilidade fiquei a par dos dossiês que estavam em andamento, e também demos início a um conjunto de questões que entendemos que eram prioritárias nesta fase.

A vila das Taipas continua a ter um vereador. Considera que isso é benéfico?

Deixe-me ser rigoroso. Sou natural e residente em Sande São Clemente, na fronteira com Caldas das Taipas; fiz o infantário, a escola, a participação associativa, a catequese, tudo nas Taipas. Por isso, eu próprio digo que sou um taipense. O facto de ter uma proximidade geográfica aquela área faz com que possa estar mais desperto para as dificuldades que possam ser sentidas. Desse ponto de vista diria que sim, pode ser uma mais-valia, sendo que o exercício destas funções comporta uma atenção permanente a todo o concelho, não só a uma zona. É nessa condição que me coloco. Mas, é natural que alguém que cresceu e vive neste território tenha uma sensibilidade maior àquilo que é a realidade daquela zona do concelho.

A nível político quais são as suas ambições, até onde gostava de ir, quais são os seus sonhos?

Estou na vereação e a intenção, o objetivo, é fazer um bom trabalho enquanto vereador da Câmara Municipal de Guimarães. a minha perspetiva é essa, estou plenamente empenhado e concentrado nas funções que tenho à minha frente, que são desafiantes e aliciantes. Espero fazer um bom trabalho, prestar um bom serviço e sentir que de alguma forma estamos a retribuir a confiança que os vimaranenses nos deram. Quero sentir que, de alguma forma, dei o meu contributo para ajudar a melhorar as coisas, a fazê-las crescer e evoluir. Fazendo isso fico plenamente satisfeito e orgulhoso do meu contributo para a nossa comunidade.

DESPORTO: “Os clubes continuam a querer crescer e a ter condições”

No pelouro do desporto há várias associações, clubes e coletividades que se relacionam diretamente com a Câmara Municipal de Guimarães. Como tem sido esse trabalho no terreno?

Tem sido positivo. Já tinha conhecimento do tecido associativo desportivo, e não só, no concelho de Guimarães, mas nestas funções, enquanto vereador do desporto, é de facto diferente. Tenho conhecido de perto diversos projetos desportivos do nosso concelho, tenho visto a aposta que os clubes e a Câmara Municipal têm feito num conjunto de instalações desportivas, na formação, tenho conhecido as propostas e as ideias dos dirigentes, e é com satisfação que constato a perceção que já tinha, que de facto em Guimarães temos gente muito boa na área. Temos projetos muito interessantes, alguns consolidados e outros a começar, tenho visto com muito agrado a dinâmica dos vimaranenses nesta área.

O desporto será o pelouro que mais trabalho lhe proporcionará. Que projetos tem para esta área?

A Câmara Municipal de Guimarães tem feito uma aposta muita forte na requalificação de equipamentos desportivos, com os sintéticos, requalificação de balneários e bancadas. O que tenho percebido é que os clubes continuam a querer crescer e ter condições. Tenho também feito o desafio para que no desporto consigamos acrescentar novas camadas àquilo que é a oferta dos clubes desportivos. A questão do género, por exemplo, é algo que quero ver com muita força. Tenho lançado esse desafio aos diversos dirigentes desportivos para que cada vez mais tenhamos praticantes de ambos os géneros. Há modalidades em que temos mais praticantes do sexo masculino, outras em que temos mais do sexo feminino, e a ambição passa por ter mais praticantes de ambos os sexos em todas as modalidades.

Tenho também lançado o desafio, vejo essa preocupação dos clubes, de apostar cada vez mais numa intervenção social. Além da visão puramente desportiva, competitiva e formativa, há cada vez mais uma responsabilidade de social, estão envolvidos na comunidade, muito preocupados na parte da formação com a inserção dos seus atletas, o que é algo extremamente positivo.

Outro elemento que gostávamos de acrescentar tem a ver com a questão ambiental. A Câmara Municipal de Guimarães tem feito um forte investimento na área do desporto, do ponto de vista das infraestruturas, e é importante que este investimento e esta aposta que o município tem feito em parceria com os clubes, esteja alinhado com as metas do nosso concelho, como a sustentabilidade ambiental.

Nos próximos tempos estaremos concentrados em trabalhar uma revisão geral no regulamento de apoio aos clubes desportivos, que visa estes eixos referidos, a questão do género, a questão da intervenção e inclusão social, o cruzamento entre a prática desportiva e também a educação. É primordial que os clubes tenham como missão formar cidadãos plenos, conscientes e ativos, e a parte da educação aqui é fundamental.

O maior investimento desportivo do município nos últimos anos tem sido feito nas associações, nos relvados sintéticos. O desporto informal poderá ser uma das apostas?

É claramente, diria que é uma das prioridades. Num ecossistema desportivo temos um elemento que é absolutamente essencial, que são os clubes. Naturalmente que a Câmara Municipal tem apoiado os clubes, os clubes têm um conjunto de praticantes, apoiando os clubes apoia-se os praticantes e isso é um eixo que não vamos, de todo, abdicar. Mas o desporto informal é uma das prioridades. No contexto pós pandemia percebemos a dificuldade que existe para as pessoas estarem ativas do ponto de vista físico e a atividade física é importante pelo ponto de vista físico, mas também mental. É uma responsabilidade dos municípios potenciar os espaços que possibilitem a prática de atividade desportiva e também os programas e atividades. Estamos a trabalhar nisso, com uma componente muito forte da Tempo Livre. Os números mais recentes dizem-nos que apenas três em cada dez portugueses praticam desporto e desses três apenas um pratica desporto em clubes; os outros dois, em três praticam desporto de uma forma não formal. Esses merecem e têm de ter uma resposta eficaz. No município temos um conjunto de equipamentos que possibilitam isso. Os pavilhões das escolas são espaços de excelência e estamos a trabalhar para construir um modelo do ponto de vista da utilização destes equipamentos que possibilite precisamente que estejam abertos para a comunidade, que sirvam a comunidade e deem respostas à necessidade dos praticantes desportivos que não o fazem de forma formal. É algo que queremos trabalho com intensidade, porque é um dos eixos fundamentais para que o desporto seja global.

JUVENTUDE: “A juventude em Guimarães é um diamante em bruto”

Continuando a fazer a ponte para a juventude, tem já experiência nesta área, desde 2018 é presidente da Comissão de Braga da Juventude Socialista, quais são as principais linhas orientadoras a este nível?

A juventude em Guimarães tem um potencial enorme. É um diamante em bruto. Temos um potencial enorme no tecido juvenil do nosso concelho. Temos um grande número de jovens, somos dos concelhos mais jovens do país, e a somar a isso temos jovens com muita dinâmica. O papel do município é criar condições para que os jovens tenham uma participação ativa, tenham espaços e plataformas onde possam ter essa participação. Uma sociedade sem os jovens não é uma sociedade completa. Temos de criar programas e incentivos para esse despertar, para que essa atenção por parte dos jovens aconteça. Estamos a trabalhar com intensidade para robustecer o musculo da Câmara Municipal numa primeira fase, para ter condições para ir para o terreno numa real perspetiva de dinamização da participação juvenil no concelho de Guimarães.

O concelho tem vindo a perder população, não de uma forma muito significativas, mas é uma realidade, sobretudo população jovem nas franjas do concelho. Não sendo uma problemática da juventude, uma vez que envolve o urbanismo e outras áreas, também o pelouro da juventude pode ter a sua intervenção nesta temática?

Claramente. A diminuição da população não é um problema do nosso concelho, é um problema do distrito, do país e do mundo ocidental, fruto de um conjunto de motivos cujo principal é, porventura, a menor capacidade de emancipação dos jovens. É uma realidade global. É precisamente nessa perspetiva que temos de lutar; enquanto vereador da juventude lutarei para colocar a juventude no concelho de Guimarães. Temos que perceber que as políticas públicas têm de ser desenhadas do ponto de vista setorial: urbanismo, habitação, mobilidade, cultura, etc., mas têm de ter um foco muito grande na preocupação com a juventude. Portanto, todas as políticas setoriais têm de ser pensadas em função da juventude. A juventude tem de estar no centro da definição da nossa política. Quando pensamos o urbanismo ou a habitação no concelho de Guimarães temo de ter uma atenção especial com os jovens que precisam de encontrar um espaço para se fixarem, para arrendar ou comprar casa. Quando pensamos políticas de economia e empregabilidade, temos de pensar nos jovens, para terem estabilidade na sua vida, para se fixarem e terem uma atratividade do ponto de vista da remuneração. Quando pensamos na mobilidade temos de criar condições para que os jovens do nosso concelho, sejam eles da freguesia mais periférica ou mais central, tenham igualdade de oportunidades para se fixarem em Guimarães. Somando estas lógicas, existe a ambição muito concreta de que a juventude seja um elemento essencial na definição e políticas públicas por parte do município para dar resposta aos desafios que a minha geração enfrenta.

A juventude e o desporto são os pelouros que lhe darão mais notoriedade e que exigem mais complexidade. Nos outros pelouros quais são os seus objetivos?

Os pelouros que têm uma dimensão política mais presente são o desporto e juventude, que por si só já são um programa político em si. Tenho também a fiscalização, as contraordenações, a Polícia Municipal e as execuções fiscais. Diria que a maior ambição do conjunto destes serviços é garantir que tudo corre bem, que sejam discretos. Se forem discretos é sinal que está a correr bem. Temos tido um desafio que convoca as forças de segurança, aqui na Câmara Municipal a Polícia Municipal, que se prende com alguns atos de vandalismo que temos tido, até surpreendentes em Guimarães. Temos de estar atentos a isso, mas fiscalização, as contraordenações e execuções fiscais são encaradas numa lógica de acompanhar os munícipes. Na fiscalização, e consequentemente nas contraordenações, temos questões do licenciamento para construção, e é importante uma atitude atenta, mas também é necessária uma atitude pedagógica, de chegar às pessoas e explicar e ajudar nesses processos.

CC Taipas já “tem apoios aprovados”, CART apresenta “projeto ambicioso “

Os dois clubes mais representativos das Taipas têm neste momento projetos em preparação para melhorar as suas infraestruturas. Como estão esses processos?

Quer o Taipas quer o CART já tive oportunidade de visitar estes dois clubes nas minhas funções, falei com ambas as direções, que me apresentaram os seus projetos. Um e outro estão em análise no âmbito do processo de atribuição de apoios. Do ponto de vista do Clube Caçadores das Taipas está mais adiantado, uma vez que os apoios foram concedidos em anos anteriores, já existe uma verba prevista para a colocação do relvado naquele campo lá em baixo. Isso já está destinado, já há verba para isso, também para uma intervenção de conclusão da obra nos balneários já está previsto, carece agora de uma regularização que é inerente a todo o concelho. Desde 2018 houve uma pequena alteração, não só para os clubes desportivos, mas do ponto de vista genérico que determina que todos os apoios financeiros carecem da legalização e regularização das entidades que recebe esses apoios. É nesse âmbito que o Taipas está a trabalhar, a direção está a trabalhar afincadamente e assim que isso esteja concluído, tal como disse, já existe verba destinada para isso.

O CART apresenta um projeto ambicioso, acho que é importante olhar com atenção para o CART, porque oferece uma componente diferenciadora. Enquanto vereador do desporto reforço que o desporto não é só futebol. O futebol é importante no nosso concelho no nosso país, mas o desporto não é só futebol e o CART é diferenciador sob esse ponto de vista. Também sob o ponto de vista do género é diferenciador, porque tem muitas praticantes, e merece essa atenção. Estamos a trabalhar para perceber de que forma é que podemos tornar este projeto ambicioso operacional, porventura de forma faseada. É algo a que dedicaremos atenção nos próximos tempos, em diálogo constante para encontrar as melhores soluções.

[ndr] entrevista originalmente publicada na edição de dezmebro do Jornal Reflexo.