
BRT: oposição vê PS está a tirar tapete à Câmara. Bragança nega ser "refém"
O facto de a bancada socialista se ter abstido numa moção do PSD na Assembleia Municipal (AM) de 28 de fevereiro, a defender a adoção do bus rapid transit (BRT) mostra que a Comissão Política Concelhia do PS, liderada por Ricardo Costa, candidato socialista às Autárquicas de 2025, tem uma visão que diverge da do atual presidente da Câmara, Domingos Bragança, considerou Ricardo Araújo. Para o vereador da coligação Juntos por Guimarães, esses “desentendimentos” podem comprometer os interesses estratégicos de Guimarães e privar o território de uma oportunidade única.
“Este projeto é estratégico para Guimarães. Espero que não esteja refém da oposição do PS a este projeto. Basta ver o sentido de voto da última assembleia municipal, numa moção que cita apenas o que o presidente da Câmara diz. Interessava uma clarificação por parte dos partidos políticos da AM quanto a este projeto estratégico. Foi retirado todo o conteúdo político que pudesse ser alvo de divergência, e mesmo assim o PS absteve-se nessa votação. Espero que o presidente não esteja a ficar refém do PS”, referiu, durante a reunião do executivo municipal realizada nesta segunda-feira.
O vereador disse que o presidente da Camara procurou o consenso da oposição neste objetivo, que subscreve, algo que, no seu entender, não acontece com a concelhia do PS. “Quem lhe tira o tapete é o seu próprio partido”, atirou.
O presidente da Comissão Política Concelhia do PSD e candidato laranja às Autárquicas de 2025 acrescentou que a concelhia socialista está a “colocar areias na engrenagem” de um projeto que se constitui como alternativa de transporte público para a ligação à futura estação de alta velocidade em Braga e para a mobilidade intraconcelhia entre a cidade-berço e o norte do concelho, já protocolada entre Câmara de Guimarães, Câmara de Braga e Governo desde 03 de maio de 2023 e em fase de elaboração do projeto.
Candidato socialista à sucessão de Domingos Bragança, Ricardo Costa já defendeu publicamente a criação de uma linha intraconcelhia de metro de superfície (LRT), com um investimento de 270 milhões de euros para 20 quilómetros, a executar em oito anos.
“Urge a apresentação final do projeto”
Para Ricardo Araújo, tais “dúvidas plantadas com responsabilidade do PS” devem motivar o executivo liderado por Domingos Bragança a apresentar o projeto o mais rapidamente possível, em vez de “informações aos bocadinhos para a comunicação social”, o que, a seu ver, pode até criar mais desinformação.
Em respostas enviadas à Lusa, divulgadas em 18 de março, a Câmara Municipal revelou que haverá horários para ligações de 30 minutos entre Guimarães e a estação ferroviária de alta velocidade em Braga, com uma única paragem em Caldas das Taipas, mas também que haverá viagens a contemplarem as 12 paragens contempladas no traçado entre o Estádio D. Afonso Henriques e Balazar − contam-se ainda Cepsa, Caneiros, Fermentões 1, Fermentões 2, São João da Ponte, Ponte, S. Gemil, Taipas Av. República, Taipas Av. 25 de Abril e São Martinho de Sande – e as quatro do ramal para o AvePark – Charneca, Av. Combatentes, AvePark e Zona Industrial de Barco. Nesse artigo, o município esclarece ainda que a solução BRT simples contempla um investimento de 157,8 milhões de euros, que pode ascender a 300 milhões, com a melhoria da infraestrutura para ser futuramente adaptada a metro ligeiro de superfície.
“Essas notícias estão a contribuir para degradar o espaço público. Tendo em conta o investimento, o custo de oportunidade e o custo de operação, o metrobus é a melhor solução. O resto é comprometer soluções de transporte público dedicado para Guimarães nos próximos 10 anos. Informações de forma avulsa não contribuem para o total esclarecimento dos vimaranenses, pelo que urge a apresentação final do projeto”, reiterou.
“Quão mais rápida for a apresentação do projeto, mais rápido será o compromisso de qualquer Governo para o financiamento. “É isso que falta para o Governo se comprometer com uma verba para este projeto. O Governo não se vai comprometer com o financiamento sem projeto”, observou ainda.
“Não vejo razão para dúvidas”
O presidente da Câmara Municipal de Guimarães diz estar perplexo com as dúvidas que ainda suscita o projeto do metrobus (BRT), quer para ligação à futura estação de alta velocidade em Braga, quer para a mobilidade intraconcelhia entre a cidade-berço e o norte do concelho, e pediu que o seu sucessor no cargo, após as Autárquicas de 2025, não estrague o caminho até agora percorrido, vertido no protocolo entre Câmara de Guimarães, Câmara de Braga e Governo desde 03 de maio de 2023 e nos estudos já realizados.
“É curioso que, às vezes, ouço dizer que para ligar à alta velocidade até demora 45 minutos. Fico perplexo, porque considero sempre as outras pessoas inteligentes. Aquilo que se pretende é levar os passageiros ao longo da via dedicada, fazendo com que o metrobus resolva o problema do concelho de Guimarães, do transporte público fiável. (…) Não vejo razão para estas dúvidas”, vincou, durante a reunião do executivo municipal desta segunda-feira.
Confrontado com a afirmação de que a Comissão Política Concelhia do PS está “a fazer do presidente da Câmara refém” de uma outra visão para a mobilidade, proferida por Ricardo Araújo, vereador da coligação Juntos por Guimarães e candidato do PSD às Autárquicas de 2025, Bragança rejeitou essa tese – “se a partir de certo momento, fosse refém, teria de sair do cargo, porque já não representaria os vimaranenses” – e pediu a todos os quadrantes políticos união em torno de “uma oportunidade única”, ainda que defenda com “unhas e dentes” uma sociedade plural, onde vigora o direito a opiniões diferentes.
O autarca referiu ainda que gostaria de apresentar o projeto do BRT em abril, e afirmou ser ainda cedo para lançar estimativas fidedignas do investimento necessário. “Os valores só se sabem ao certo quando os projetos de engenharia definem os preços-base. Até lá são estimativas grosseiras, perceções de valor”, realçou.
O BRT vai contemplar “percursos diretos da cidade à alta velocidade”, que até podem ser reduzidos para 15 minutos, mas a maioria dos horários contempla todas as paragens, para se cumprir o objetivo de “um transporte público confortável e fiável para ser autêntica alternativa ao uso do automóvel”, em linha com os objetivos da Capital Verde Europeia 2026.
“Resolveremos o transporte público na zona norte do concelho. Quem morar, residir, trabalhar neste conjunto de freguesias e nas freguesias limítrofes tem resposta adequada, com fiabilidade. Poderá saber a que minuto o metrobus chega à paragem de cada freguesia. O que importa é recolher as pessoas de sítio para sítio. Se não fosse assim, teríamos o absurdo de quem vive na Calas das Taipas eria de pegar no transporte particular vir á Cidade e aceder à alta velocidade”, reiterou.
Domingos Bragança negou ainda que o futuro BRT opere como é aludido em algumas fotografias de transportes públicos já em funcionamento, tendo lembrado que o canal em via dedicada vai estar preparado para, no futuro, se transformar em metro ligeiro de superfície.
“O autocarro rápido em via dedicada não tem nada a ver com algumas fotografias que aparecem aí. Apenas não tem catenária, porque é alimentado a bateria de hidrogénio que dura imenso tempo, por centenas de quilómetros. Só não tem carril”, esclareceu.
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