Marta Mestre trabalha para afirmar o CIAJG como um “espaço plural”
Esperando um arranque lento na introdução de mudanças, a curadora tem como objetivo tornar este espaço mais plural e criar mais pontos de contacto entre o CIAJG e Guimarães, começando desde já pela universidade. Marta Mestre acredita no potencial da tarefa que tem em mãos e crê que será possível estabelecer parcerias importantes para o futuro.
O que a levou a propor-se a desempenhar este cargo de curadora do (CIAJG)?
O CIAJG e o trabalho de José de Guimarães são uma referência no meio cultural e artístico. O CIAJG possui um acervo único não só do ponto de vista da qualidade, mas também da originalidade. O potencial de debate e construção de sentidos em torno a este acervo é muito grande e abarca questões do presente tais como a alteridade, a nossa relação com os outros, as assimetrias globais, a relação norte e sul, as hegemonias do conhecimento. As coleções de José de Guimarães, assim como a sua obra, são alimento para refletir. Tudo isto são ingredientes que me interessam. E tudo isto existe em Guimarães.
O facto de ter sido a aposta entre um número considerável de candidaturas leva a que tenha mais responsabilidade?
A responsabilidade tem a ver com a importância do CIAJG e as expectativas que este cargo exige. Sei que tenho um trabalho exigente pela frente e isso motiva-me. Também sei que é um trabalho que não se faz sozinha. Ocupar-me-ei do programa artístico dentro de uma visão de conjunto. É necessário que esse programa seja acompanhado por uma dimensão institucional mais ampla.
No dia do anúncio prometeu um “programa de continuidade”, mas com a introdução de “mudanças”. Já tem isso mais estruturado e uma ideias mais concreta que seja possível anunciar?
Trabalhar a continuidade, no caso de um museu, é um ponto essencial. Trata-se de reforçar valores simbólicos e culturais na longa duração. As principais mudanças que irei fazer vão realizar-se ao nível das “zonas de contacto” entre o CIAJG e o território de Guimarães, reforçando a necessidade de trabalhar e conhecer a cidade, as instituições, as escolas, os artistas. Ao longo de 2021 essas mudanças serão visíveis, e vamos começar pela Universidade. O programa artístico terá o seu início em março. Acredito que será um ano de arranque lento, mas que nos permitirá estabelecer parcerias importantes para o futuro.
Que objetivos tem para o CIAJG? Em traços gerais quais são as suas grandes ambições?
O meu principal objetivo é trabalhar para que o CIAJG seja um espaço plural, de encontro de diferentes vozes, sujeitos, identidades. Parece simples, mas é algo complexo. Os ingleses têm uma expressão que gosto – “entanglement” – e que significa “entrelaçar”. Entrelaçar valores, objetos, pessoas, afetos. O CIAJG tem um grande potencial de continuidade e maturação institucional... está a chegar o seu 10ª aniversário. É um balanço que deve ser feito por todos e todas.
Frisou o estatuto internacional do CIAJG aquando da sua apresentação. Internacionalizar quer a programação quer os próprios visitantes é o caminho ou um dos caminhos?
Assim como o CIAJG precisa reforçar as zonas de contacto, de que falava há pouco, com o território, também precisa de fazer circular os seus valores no plano internacional. O CIAJG é um espaço que, embora localizado num território e contexto específicos, interpela a outras geografias e temporalidades, encena diferentes formas de narrar o mundo e, nesse sentido, não cristaliza a cultura local, mas estabelece pontes para fora.
Destacou a ideia de pretender mudar-se para Guimarães. É importante esta proximidade?
Sim, passarei a viver em Guimarães. Quero conhecer este território.
PERFIL MARTA MESTRE |
· Marta Mestre, natural de Beja
· Licenciatura em História da Arte pela Universidade de Lisboa · Mestrado em Cultura e Comunicacão/Museologia pela Universidade de Avignon (França) · Curadora do Instituto Inhotim (Minas Gerais 2016-2017) · Curadora-assistente do Museu de Arte Moderna (Rio de Janeiro 2010-2015) · Curadora-convidada e professora da Escola de Artes Visuais Parque Lage (Rio de Janeiro 2016) · Curadora do Centro de Artes de Sines (2005-2008) |