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Manuel Machado: “Queremos futebol, mas temos de ser responsáveis”

Redação
Desporto \ sábado, dezembro 19, 2020
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Mais de metade dos jogos do Campeonato Pró-Nacional da AF Braga foram adiados devido à pandemia. Um cenário incaracterístico, mas que, de certa forma, era expectável. Manuel Machado, presidente da AF Braga apela à serenidade e à compreensão. Dirigente tem mágoa por não ver os miúdos jogar e não compreende porque não há público nos jogos.

O principal campeonato de futebol da Associação de Futebol de Braga, o Pró-Nacional, arrancou no dia 24 de outubro com a realização dos primeiros jogos. De lá para cá estavam agendadas cinco jornadas, mas mais de metade dos jogos não se realizaram devido à pandemia. Na série B, em que estão incluídas as equipas vimaranenses, entre as quais o CC Taipas, o Ponte e o Sandinenses, de um total de trinta jogos apenas se realizaram catorze. Casos de Covid-19 nos clubes, delimitações das autoridades de saúde e até do Governo, nomeadamente limitações à circulação, têm tido um contributo decisivo para este cenário.

A título de exemplo, o CC Taipas realizou três jogos até agora, o CD Ponte um jogo e Os Sandinenses dois jogos. Em todos os clubes foram detetados surtos da pandemia, que levaram a que a atividade fosse suspensa. Para estas últimas semanas do ano o calendário foi suspenso e a intenção da AF Braga passa por reagendar os jogos em atraso para que seja possível recomeçar a dez de janeiro com todas as equipas em pé de igualdade, jogando inclusive e meio da semana com concordância dos clubes em recintos com luz artificial.

O Reflexo falou com Manuel Machado, presidente da AF Braga, que referiu que “todo este processo está a ser gerido dentro do que é possível gerir, atendendo a que o mundo inteiro tem muitas dúvidas e poucas certezas”. O dirigente deixou bem claro que a prioridade é a saúde pública e, por isso, as decisões que são tomadas têm todas que ser responsáveis.

“A AF Braga é a segunda maior do maís em equipas seniores. É o Porto, depois somos nós e, por fim, é Lisboa. É evidente que nós não estamos a tomar decisões. Nós estamos a fazer intenções para se decidir a ver se é possível, e vamos comunicando com os clubes dentro daquilo que é o razoável na defesa da saúde pública. Queremos o futebol, mas temos que ser responsáveis e só fazer os jogos que seja possível fazer. Pode acontecer a situação que, se nós chegar a janeiro e verificarmos que a calendarização, nomeadamente no Campeonato Pró-Nacional e na Divisão de Honra não dá para fazer a segunda fase fazemos só uma fase e, de resto, é uma coisa que pode vir a acontecer e estou convencido que, se tiver de acontecer, os clubes não irão por problemas. É muito difícil para quem decide. Temos mais de cem equipas nos seniores, se calhar teríamos cinquenta ou sessenta opiniões diferentes. Quem decide é que tem a responsabilidade de ver as regras que são impostas pela DGS, pelo Governo, com problemas aqui e ali”, aponta Manuel Machado.

 

“Falta de verdade desportiva pode ser extensível a todas as competições”

Mesmo sendo a saúde pública o principal objetivo comum nesta fase, a realidade é que com a realização de jogos a competitividade leva a que verdade desportiva seja posta em causa por vários intervenientes. Algo sobre o qual Manuel Machado não se alonga, uma vez que na sua opinião vários fatores levam a que a verdade desportiva possa ser posta em causa nos mais diversos campeonatos.

“Não sei a que nível se coloca isso da falta de verdade desportiva. A falta de verdade desportiva pode ser extensível a todas as competições: não há público, o que tem influência; e há clubes com mais testes de Covid-19 do que outros. Isso são coisas laterais no meio disto tudo, que não podemos controlar. O que desejaríamos era que os campeonatos decorressem de forma natural, nós e todas as associações, a Federação Portuguesa de Futebol e a própria Liga, mas como é isso possível com este cenário? Nem todas as decisões vão de encontro ao que os clubes pretendem. A situação é clara: os clubes estão com dificuldades financeiras, não há público, e isso faz falta. Há toda uma circunstância difícil de gerir, mas acredito nos clubes e nos dirigentes”, aponta.

 

“Não ter público é um atestado de menoridade aos dirigentes”

De resto, a ausência de público, tal como o próprio Manuel Machado traz à conversa, é uma situação que o dirigente não compreende, quando se comparando com outras realidades. O líder máximo do futebol distrital diz que na maioria dos jogos, mesmo antes da pandemia, os recintos encontram-se longe da lotação máxima.

“Não compreendo o que se vai passando a nível desportivo e a nível de outras atividades. A cultura tem moldes para ter espetáculos, mas os clubes também cumprem. Está a passar-se um atestado de menoridade aos dirigentes e aos clubes, o que não é verdade. Os dirigentes são responsáveis. Quando há casos comunicam e não jogam. Ponto. Então não podemos circular entre concelhos e podemos circular a nível nacional, levar o vírus de Braga, ou de Guimarães, para Lisboa ou Leiria, por exemplo? No Campeonato de Portugal, na Liga Revelação, é que não há vírus? Afinal de contas qual é o rácio de contágio no futebol? Qual é o problema de por cem pessoas ou 120 num campo de futebol que leve mil pessoas a nível distrital? É, normalmente, os espetadores em situações normais. Devidamente acondicionados, com máscara e com comportamentos adequados, medir a temperatura, era impossível ter publico?”, questiona o dirigente.

 

“Ausência de formação pode ser um problema de sanidade mental”

Mas, para além da vertente competitiva nos seniores, ao fim ao cabo o ponto de maior visibilidade da AF Braga, há uma vertente que ainda deixa mais mágoa a Manuel Machado, que é a questão da formação. Desde março que a formação está sem competir, em muitos clubes os treinos estão suspensos e noutros há treinos em moldes diferentes. Algo que Manuel Machado considera “muito mau” e que se pode revelar mesmo um problema de sanidade “mental” para jovens e progenitores.

“Como se sabe não há formação, o que é muito mau. Vai ser, ou melhor, está a ser um ano e um período muito mau para a formação. Vai-se perder atletas, infelizmente. Estou esperançado que mais para a frente se possa abrir portas à formação, num campeonato diferente, claro, em moldes diferentes porque isto até pode virar um problema de sanidade mental, não só para os miúdos, mas também para os educadores. Enfim, deixa-me uma mágoa muito grande”, diz Manuel Machado em declarações ao Reflexo.

 

“É importante que cada um de nós faça a sua parte”

O cenário é incerto. Há mais dúvidas do que certezas, mas ainda assim Manuel Machado tem presente que a mensagem que dever passada é de esperança e de confiança. A convicção o dirigente e essa confiança verifica-se ao ponto de, nesta fase, ainda não se atirar a toalha ao chão no que à realização da festa do futebol distrital diz respeito.

“Acima de tudo quero passar uma mensagem de confiança; sabemos que os clubes têm feito tudo e mais alguma coisa para que tudo corra bem. Infelizmente, como se vê, os números continuam a aumentar aqui e em todo o mundo. Ninguém é capaz de dizer com toda a seriedade quem se porta bem e quem se porta mal. É importante que cada um de nós faça a nossa parte. O que gostaria era que os meninos jogassem, os treinadores gritassem, os adeptos aplaudissem, os árbitros apitassem e tivéssemos a Taça AF Braga, que não podemos ter, para fazer a festa do futebol distrital. Mas, ainda não está posta de parte essa festa. Se em junho tivemos condições em termos sanitários pensaremos em fazer na mesma a entrega de troféus, a quem os venceu. podendo fazer um jogo entre o primeiro de cada divisão, por exemplo, vamos ver. Temos é que cada um fazer a nossa parte”, remata Manuel Machado.