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Ensino à distância passou no exame mas não é a mesma coisa

Redação
Sociedade \ segunda-feira, julho 27, 2020
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Diretores dos estabelecimentos de ensino taipenses fazem um balanço positivo o terceiro período, mas demonstram a consciência de que não é a mesma coisa. Alunos têm opiniões diversificadas. Todos querem voltar à escola.

Log Out nos programas e aplicações de reuniões à distância. Desligam-se os computadores. Ponto final no ano letivo 2019/2020. As férias grandes chegam sem uma despedida do recreio, sem um abraço de até para o próximo ano. O presente ano letivo fica também ele marcado na história como um ano ímpar no que ao ensino diz respeito. As escolas encerraram as portas físicas e tiveram de, em tempo record, abrir as janelas virtuais para continuar a atividade educacional, através de um inédito ensino à distância. De todo este processo sobram várias incertezas que o Reflexo tentou esclarecer, até porque dentro da anormalidade que a pandemia tornou o terceiro período letivo, o sistema de ensino tentou manter a normalidade, seguindo o processo avaliativo para que os alunos não saiam prejudicados.

Após conversa com o diretores dos sistemas de ensino das Taipas, nomeadamente João Montes do Agrupamento de Escolas das Taipas, e Celso Lima da Escola Secundária das Taipas, assim como alguns alunos, a conclusão basilar desta experiência é que, salvaguardando naturais diferenças para o ensino presencial, o ensino à distância correu bem e o balanço é positivo, mas não é a mesma coisa.

O ponto de partida é o mesmo visto dos mais diversos quadrantes. “A pandemia Covid-19 alterou aquilo que era o quadro estabelecido de oferta educativa, que teve de ser estruturada. Todo o trabalho teve de ser alterado de um momento para o outro, com uma solução distinta, o plano de ensino à distância”, aponta João Montes, numa ideia semelhante à de Celso Lima: “Este é um ano que não tem alinhamento com os restantes, é um ano que tem um contexto completamente diferente. Se estatisticamente quisermos avaliar este ano letivo, ele é completamente atípico, desalinha-se completamente do resto, o que terá efeito da vida dos alunos e das famílias”, defende o diretor da Escola Secundária das Taipas.

Balanço positivo de um tempo vivido com “maturidade”

Continuando com Celso Lima, na secundária taipense o balanço que se faz deste período de pandemia é positivo, com a escola a conseguir dar resposta às exigências. Neste caso há, contudo, uma particularidade. A escola não se limitou ao ensino à distância, mas proporcionou, conforme decretado, ensino presencial para os alunos que fazem exames nacionais, este ano apenas como critério de admissão ao ensino superior.

Começando pelo ensino à distância, o diretor da Escola Secundária das Taipas destaca a “maturidade” com que o processo evoluiu, para que no final o balanço seja positivo. “As regras foram mudadas em meados de março. A escola implementou o sistema de ensino à distância. Diria que todo este panorama e este contexto foi vivido com muita maturidade. Sentimos que foi vivido, de acordo com o feedback que temos, de forma positiva, tendo sido bem implementado. Pelos questionários que temos feito essa situação é demonstrada, ou seja, há satisfação e reconhecimento por parte da comunidade de que a escola implementou com rigor, com seriedade e com muito cuidado os planos de insino à distância”, atesta.

Para o professor o nível de afluência dos alunos de 11.º e 12.º ano com exames nacionais é também um indicador de que a escola conseguiu cumprir com a sua função de proporcionar condições para que os alunos voltasse às salas de aula em condições de segurança. “A retoma dos alunos das atividades presenciais também foi regular; não tivemos grandes ausências, os alunos vieram regularmente, os casos de ausência, ou por atestado médico de grupos de risco, casos residuais, ou por opção dos encarregados de educação também foram muito poucos. Temos situações pouco expressivas e a assiduidade foi muito regular. Portanto, mesmo o processo de funcionamento por parte dos alunos decorreu com tranquilidade, acataram muito bem todas as orientações, acho que tudo foi tranquilo. A escola, apesar de todas as circunstâncias, conseguiu adaptar-se bem, assim como a comunidade, às novas exigências”, defende Celso Lima.

Trabalho de proximidade dos diretores de turma determinante

Passando para o Agrupamento de Escola das Taipas, João Montes considera que o plano aplicado foi “de sucesso”, atendendo ao enorme desafio que a pandemia colocou ao ensino. Nesse sentido, o balanço é extremamente positivo. “Tivemos de oferecer aos alunos e às famílias um novo conceito, sem qualquer tipo de rede, sem que houvesse da administração central um pensamento claro e estruturado. Essa estratégia foi definida por nós, de forma atempada. Aplicámos um sistema de ensino à distância que nunca foi usado de forma integral; existem muitas ferramentas digitais, mas poucas foram pensadas para um ensino integralmente à distância, a maioria das ferramentas é um complemento. Surgiu da nossa parte um ensino remoto de emergência. De forma estruturada criámos a dita escola de proximidade. Temos a consciência de que foi um plano de sucesso, uma estratégia muito bem definida e acompanhada ao longo do processo”, afirma o professor.

Para esta avaliação positiva pesaram vários fatores, sendo que a postura pró-ativa da escola no sentido de dar respostas aos eventuais problemas deste modelo de ensino foi um deles, conforme enumera João Montes. “Relativamente à eficácia do ensino à distância, de forma natural, o pensamento é que o ensino à distância aparenta ser mais benéfico para os alunos experientes e parece ser uma má opção para os alunos que já sentem mais dificuldades; fizemos um plano semanal de apoio à tarefa o trabalho dos diretores de turma, na proximidade com as famílias, foi determinante”, assegura. Por outro lado, a consciência de que “os alunos dependem das relações emocionais que estabelecem”, levou a escola a organizar “várias sessões de videoconferência para avaliar o estado emocional das crianças e das famílias, intervindo quando houve necessidade”. Atendendo a que também para os professores este foi um momento de aprendizagem, houve por parte da escola “uma nova alfabetização digital”, através da realização de sessões de formação sobre o manuseamento de instrumentos digitais. Um dos problemas mais debatidos, a desigualdade de oportunidades no acesso aos meios tecnológicos, João Montes frisou que nesse aspeto entidades como a Junta de Freguesia de Caldelas e a Câmara Municipal tiveram um papel determinante para atenuar as diferenças.

Critérios de avaliação definidos sem preocupação

Momento final de qualquer ano letivo, o processo de avaliação é peça-chave no ensino e, ao fim de contas, o aferir daquilo que foi feito durante o ano. A situação foi, e é, de exceção mas a avaliação manteve-se mesmo não havendo os tradicionais testes. Nada que, na visão dos diretores, constitua um problema. Os critérios de avaliação foram reajustados convenientemente, e a questão de que a avaliação é contínua foi reforçada.

“Alterámos os critérios de avaliação, ajustando-os durante este período de ensino à distância, de forma a não discriminar nem gerar assimetrias entre alunos. A avaliação é contínua, logicamente que houve dois períodos de avaliação em que os docentes já tinham um conjunto de indicadores de desempenho para posicionar a avaliação final do ano letivo. Os alunos não serão prejudicados; foram dadas as ferramentas necessárias aos docentes para terem instrumentos de avaliação que validassem de forma objetiva o desempenho dos alunos. Acreditamos que os alunos têm uma avaliação justa e equilibrada, que corresponde ao seu desempenho”, assegura João Montes.

Um discurso semelhante ao de Celso Lima. “É claro que a avaliação não reveste o caráter generalizado de anos anteriores, temos uma questão nova, que são os instrumentos de avaliação que tiveram de ser diversificados e aplicados devido ao ensino à distância. Estamos num processo tranquilo e não termos situações de preocupação a este nível. Considero que essa questão está ultrapassada, porque a escola definiu no início do ano letivo os critérios de avaliação, chamou ao debate as estruturas intermédias para analisar estas questões, e essas necessidades, que foram fáceis de assegurar. A avaliação torna-se tranquila tendo isso bem fundamentado”, atira do diretor da Escola Secundária das Taipas.

Vontade de voltar à escola

Depois de todo este turbilhão de emoções, de uma realidade completamente atípica, ainda sem saber ao certo que as questões de saúde pública ditarão, já se olha para o futuro, mesmo sem saber o que o futuro reserva. Neste limbo em que se faz a passagem, Celso Lima acredita que o sistema de ensino terá ferramentas para fazer com que as vidas futuras destes alunos não sejam afetadas. “A escola conseguiu, de forma tranquila, ter proximidade com os alunos e com as famílias. Estamos gratos por isso, por esta proximidade de comunidade, o que é muito, muito importante. Todos ajudaram e contribuíram. Espero que os alunos, porque merecem, tenha a compensação deste esforço e sejam as menores vítimas deste processo”, defende Celso Lima.

Na visão de João Montes leva-o a acreditar que daqui em diante, em virtude da ausência física da escola, estes alunos verão de forma diferente o processo de ensino e a necessidade de contactar com a escola e com os professores. “Sabemos que o ensino presencial, pela sua dinâmica, é muito mais eficaz. Foi notório. Fizemos uma avaliação de todo este processo junto dos professores, diretores de turma e alunos e famílias, através de um questionário com uma amostra enormíssima, e houve uma convicção notória: o nosso programa estava bem estruturado, com um apoio excelente de retaguarda, mas há por parte de todos a preferência de voltar à escola. No fundo, a grande mensagem é esta. Até do ponto de vista emocional proporcionará condições para fazer um trabalho excelente no futuro, porque agora os alunos conhecem a dura realidade de não poderem estar presentes”, remata o diretor do Agrupamento de Escola das Taipas.

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