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Em Brito há “um Gerês em ponto pequeno” por explorar

Bruno José Ferreira
Sociedade \ quarta-feira, agosto 31, 2022
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Há 30 anos "havia gente aos pontapés", agora a paisagem é fabril. "Isto foi a Póvoa de muita gente".

Se há locais que os tempos foram transformando para melhor, outros há em que se nota o inverso. Em Brito, há “um pequeno Gerês” por explorar, “só que o Gerês está estimado”, atira Cesário Silva. Há trinta anos costumava descer ao rio com regularidade. O hábito mantém-se, mas apenas para caminhar e notar as diferenças do passado. “Isto foi a Póvoa de muita gente”, compara, ao dizer que muitas pessoas usavam este espaço no verão antes do período de férias na Póvoa de Varzim.

“Há uns trinta anos havia aqui gente a pontapés, famílias que vinham com o merendeiro”, recorda, enquanto aponta de cima do açude para uma zona mais baixa em que a água começa a escassear: “É o poço da morte”, diz com um misto de alegria e saudosismo. “Só três indivíduos é que saltavam de cá de cima, do açude, lá para baixo. Era preciso dar impulso e cair no sítio certo”. Mais ao lado há a raiz baixa e a raiz alta, um local mais acessível ao mergulho de todos.

Enquanto vai calcorreando a margem, não consegue esconder a mágoa por ver o local com a vegetação quase a engolir o rio, praticamente não havendo acesso. “Antigamente vínhamos pelo lado de Brito, ou de Vila Nova, mas com a instalação de uma fábrica em Vila Nova cortaram o acesso cá para baixo”, sinaliza, fazendo uma vez mais a ponte entre o presente e o passado: “Com a água a correr, os penedos faziam autênticas piscinas para a canalha”.

O misto entre o baú das memórias, um baú de coisas boas, vai-se cruzando de forma constante com a realidade atual. Nesse limbo, Cesário Silva solta mais uma tirada, desta vez em relação à água. “Antigamente a água andava sempre por cima do açude, agora não passa o açude. Há menos água. E antigamente vinha limpinha, podia beber-se que não fazia mal nenhum”, diz com gosto. “Quem me dera ainda dar uns mergulhos neste rio”, desabafa.