Das “trevas” à esperança: APAP livrou-se de surto e chama mais voluntários
No dia 12 de novembro soou um grito de alerta. “Estamos em risco de fechar atividade”, escrevia nas redes sociais a Associação Protetora Animal de Ponte (APAP), uma associação sem fins lucrativos sediada em Ponte – mas com uma área de atuação muito mais vasta – que se dedica à causa animal. Um surto de panleucopenia “abalou-nos em todos os sentidos: tanto emocionalmente como financeiramente”, escreveram, anunciando que entre despesas veterinárias na luta contra o surto foram contraídas dívidas na casa dos 6 mil euros. “Sem fundos e no limite, estamos a arrastar o inevitável”, foi escrito num tom claro de desespero por parte dos voluntários que dão corpo a esta hercúlea tarefa.
Passados dois meses, que na agitação da publicação pareceram corresponder a um período temporal mais alargado, os patudos que a APAP ajuda podem respirar fundo. “Estamos exaustas, mas isto deu-nos força” começam por dizer ao Reflexo Cristiana Dias e Tânia Ribeiro, tesoureira e secretária da direção, respetivamente. De facto, estes dois meses foram uma grande aventura, mas a luta começou muito antes com o tal surto de panleucopenia. Conseguiram chegar ao foco do problema, mas a contaminação já estava imparável. “Foi horrível. Todos os dias mais um gato. Íamos à associação de bata, com luvas, a limpara tudo com lixivia. Chegámos a um ponto em que tivemos 22 internados. Conseguimos salvar mais de metade, o que é muito bom numa panleucopenia”, destaca Cristiana, nesta última parte com um sorriso enquanto recorda os momentos de pânico. “A nossa fé deveu-se ao facto de conseguirmos salvar o primeiro gatinho”, suspira. “Uma loucura”, complementa Tânia, revelado que “a cada internamento estávamos a falar entre 400 a 500 euros. Mas, se desistíssemos não os estávamos a defender e não íamos ser diferentes em nada. Decidimos empenhar tudo o que temos. Se fossem necessários microcréditos, faziam-se”, conclui.
A realidade é que este caminho levou a associação, parca em recursos e assente no voluntariado, a chegar a uma situação “insustentável”. “Já nos estávamos a arrastar desde junho, reunimos e dissemos: «Não dá mais»”, explica Tânia Ribeiro, sendo complementada por Cristiana Dias. “O que ia entrando mal dava para as despesas e criámos uma enorme bola para trás. Olhamos por esse país fora e vemos situações de associações com dívidas de 30 mil euros em clínicas. Estávamos perto desse ponto em poucos meses. Daí o apelo desesperado, mesmo continuando a dar resposta ao que nos ia chegando, muitas vezes a título pessoal”, assegura.
“Começam a chegar as pessoas certas”
Mas, aquela publicação, com um “título provocador”, reconhecem, teve o condão de atrair “as pessoas certas”. “Depois do apelo começaram a chegar as pessoas certas, sensíveis com esta causa, que até então não se tinham cruzado no nosso caminho. Conseguimos criar um grupo com empresas, particulares, que ajudaram muito”, destaca Cristiana Dias.
Abre-se o rosto, sai o sorriso após o balanço da venda de rifas que decorreu até ao Natal. Essa venda há muito estava em curso, mas com o grito de desespero teve um novo impulso: “Muita gente nos quis ajudar, praticamente éramos só nós a cravar às nossas famílias, mas houve um boom: pessoas a vender na empresa, estabelecimentos; tivemos mesmo muita ajuda”, introduzem. Ainda “com um saco de moedas para depositar”, o “balanço é incrível”. Foram vendidas 6807 rifas, “não estávamos à espera”, diz Cristiana, a mais otimista: “Podemos dizer que saldamos a dívida”, atira com um sorriso ainda mais rasgado. “Não estávamos à espera, mas já estávamos a viver dessas rifas deste agosto, esse dinheiro não nos chegou todo agora”, elucida. Entre donativos e muitas ajudas, na APAP sentiu-se “um amor nunca sentido até então”.
Um sentimento que se espera capitalizar para o futuro. “Estamos sempre no lado das trevas, do desespero, de alguém que pontapeia o cão, de um atropelamento, gatos envenenados. Lidamos com pessoas que não gostam da causa animal. A nossa realidade é esta, mas a partir daquele momento começou a surgir boa gente que partilha do nosso sentimento”, destacam, olhando para os próximos passos. “Estamos a tentar olear a associação de forma mais sustentável, quer a nível financeiro quer de voluntários. Somos poucos voluntários precisamos de mais voluntários que se identifiquem com a causa animal”, concluem.