Citânia de Briteiros esconde ainda muitos segredos
A Citânia de Briteiros tem tido campanhas arqueológicas numa base anual, por altura de julho, que se desenrolam durante o mês, podendo estender-se para setembro ou outubro. O mês de julho está relacionado com o período de estágio dos alunos de arqueologia da Universidade do Minho, que participam nestas campanhas.
Desde 2005 que estes trabalhos se vêm realizando. "O facto de se conseguir garantir que todos os anos se fazem trabalhos arqueológicos na Citânia, permite manter uma dinâmica de investigação", explica Gonçalo Cruz, arqueólogo da Sociedade Martins Sarmento, que coordena a investigação arqueológica na Citânia de Briteiros e também, nos últimos anos, no Castro Sabroso.
Em 2018 foi feita uma intervenção no balneário Este. Acredita-se que a Pedra Formosa, que se encontra exposta no Museu da Cultura Castreja, é proveniente deste mesmo local. Recorde-se que este balneário foi parcialmente destruído no século XX, durante a construção da estrada que atravessa o castro. Por isso, esta estrutura está mesmo ao lado da estrada, dificultando a sua musealização.
Nesta mesma altura, também foram feitas escavações numa casa, que aparentemente terá sido uma habitação romana. Nas primeiras escavações, não se diferenciavam as estruturas mais antigas. Havia um entendimento que apontava para que as casas redondas eram da Idade do Ferro e as casas retangulares eram do tempo dos Romanos. Entretanto, os arqueólogos e os historiadores já conseguiram contrariar essa ideia. Hoje, sabe-se que já havia habitações de forma retangular na Idade do Ferro.
Crê-se que a primeira ocupação da Citânia terá sido feita no final da Idade do Bronze. No entanto, isso não se tem confirmado com a investigação mais recente. É possível que vestígios que comprovem a ocupação nessa época possam ainda ser encontrados.
Gonçalo Cruz confirma que as habitações mais antigas que existem na Citânia de Briteiros estão datadas dos século IV a.C. ou no máximo V a.C. A partir do século III a.C. surgem as casas de pedra de forma redonda e as casas retangulares surgem no final do século II a.C.
Acredita-se que nesta fase também começaram a ser construídas as ruas numa base aproximadamente ortogonal, correspondendo ao pico de ocupação já no século I a.C. A citânia continuou a ser habitada na época romana pelo menos até ao século II d.C. dando-se depois o eu progressivo abandono a partir dessa altura.
Tudo isto são conclusões das escavações efetuadas nos últimos anos na Citânia de Briteiros.
O que estará por estudar em Briteiros?
Sobre os trabalhos futuros, o arqueólogo Gonçalo Cruz avança que há um projeto para fazer uma escavação na zona do adro da Capela de S. Romão. Esta intervenção apenas será possível quando houver condições para se fazer uma escavação em área. Existe também o objetivo de efetuar uma escavação na Casa do Conselho. Não existe nenhuma escavação recente no local. Não existe nenhuma informação nos diários de Martins Sarmento, desconhecendo-se, por exemplo, quando foi descoberta esta estrutura. Existe ainda em plano a necessidade de escavar zona da muralha e de portas da muralha e de colher uma amostragem maior das ruas.
Gonçalo Cruz acredita ser ainda possível descobrir vestígios de um povoado mais antigo e perceber qual era a sua configuração. Mesmo a fase inicial da Idade do Ferro tem ainda muitas lacunas do ponto de vista do seu conhecimento, assim como a utilização do povoado na época romana carece de um estudo mais aprofundado, assim como o sistema defensivo. Há registos de uma sondagem que foi efetuada na primeira muralha, em 1977, por uma equipa da Faculdade de Letras do Porto. Os resultados desse estudo são muito inconclusivos. É necessário efetuar novas sondagens, em locais diferentes, para perceber em que fase é que foram construídos.
Projeto do Orçamento Participativo para Sabroso aguarda por execução
As intervenções sistemáticas que têm sido feitas em Sabroso, de limpeza e desmatação do castro, têm sido executadas pela Junta de Freguesia de Sande (S. Lourenço). São trabalhos importantes, mas o monumento necessita de intervenções ao nível arqueológico, nomeadamente de conservação e restauro das estruturas.
O projeto elaborado em 2013, previa a criação de condições para tornar o castro visitável, nomeadamente, a vedação do sítio e a colocação de informação para os visitantes.
O projeto inicial previa um investimento de cerca de 170 mil euros. Mas para tornar o projeto elegível para apresentação ao Orçamento Participativo, em 2017, ele foi redesenhado para ficar orçamentado em 49 mil euros. O projeto, que teve como base aquele que já existia, elaborado pela Sociedade Martins Sarmento, foi então adaptado e foi apresentado pelo cidadão Carlos Marques.
Neste momento, o projeto de valorização do castro depende da execução do orçamento participativo, que aguarda desbloqueio por parte da Câmara Municipal de Guimarães, que é quem tem o compromisso de executar os projetos vencedores do concurso. Além da vedação, estava prevista a escavação mais intensiva de uma parte do castro, para que as estruturas ficassem visíveis. Todas estas pretensões, estão agora a aguardar luz verde da autarquia vimaranense.