Bragança quer cooperação entre Cávado e Ave mas sem área metropolitana
Espoletada por Ricardo Araújo, vereador da coligação Juntos por Guimarães (JpG) e candidato aprovado pelo PSD às Eleições Autárquicas de 2025, a discussão sobre o memorando de entendimento entre as Comunidades Intermunicipais (CIM) do Cávado e do Ave para projetos futuros gerou consenso entre a oposição e o presidente da Câmara Municipal, Domingos Bragança: as CIM devem trabalhar em conjunto, nomeadamente no que respeita à mobilidade, mas Guimarães só deve aceitar a constituição de uma eventual área metropolitana nos territórios com a salvaguarda de que não perde centralidade, nem fica numa posição periférica quanto a horizontes de desenvolvimento.
O atual autarca foi mesmo mais longe e disse que, até ao último trimestre deste ano, calendário previsto para as Autárquicas, nunca será assinado qualquer documento no sentido de se criar a área metropolitana que envolva o Cávado e o Ave. É, ao invés, favorável ao reforço do atual modelo territorial para financiamento, assente no Norte como região e nas várias CIM que o compõem. “Não sou a favor da área metropolitana. Sou a favor da cooperação com a CIM do Cávado a partir da CIM do Ave, que tem Guimarães como cidade central de uma comunidade. A divisão territorial e administrativa está muito bem como está. Reforcem os poderes das CIM e tudo estará bem”, disse.
Domingos Bragança evoca a reforma administrativa de 1835, na qual Guimarães deixou de ser cabeça de comarca na província de Entre-Douro-e-Minho para integrar o novo distrito de Braga, para justificar as suas reticências quanto à criação da futura área metropolitana, entidade que, a seu ver, pela sua natureza, canaliza o desenvolvimento para uma cidade que centraliza todas as outras em seu redor; no caso, seria Braga, município mais populoso nas duas CIM, com mais de 190 mil habitantes.
A relevância dos distritos, ainda visível a nível eleitoral, diluiu-se com a criação das CIM em 2013; é através de tais associações de municípios que se realizam as candidaturas a fundos comunitários, por exemplo. “A CIM é boa para Guimarães. Se no futuro quiserem devolver a centralidade a Braga, tudo bem. Não assinarei qualquer coisa nesse sentido”, resumiu. Sem querer vincular a sua visão política à futura liderança da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança vincou que o memorando de entendimento não tem qualquer menção à área metropolitana, mas defendeu que é preciso dar escala à “conexão grande entre as áreas territoriais”, especialmente na mobilidade.
O documento contempla, por isso, a nova concessão para transporte público que vai ocorrer até ao final da década. “Devemos fazer concursos incluindo as duas CIM. Já estamos a fazer ligação por canal dedicado em metrobus (BRT). É o que está negociado. O canal físico a construir dará para migrar sem custos adicionais para metro ligeiro de superfície, que será construído se a procura o vier a justificar. Estamos a trabalhar na ligação à vila das Taipas, por Fermentões, Silvares e Ponte”, realçou.
“Guimarães podia e devia ter feito mais na liderança da CIM do Ave”
Domingos Bragança considerou ainda que a CIM do Ave é uma referência entre as 23 CIM de Portugal, no desempenho e na captação de financiamento, já depois de Ricardo Araújo ter vincado que Guimarães deveria ter um papel mais ativo na liderança desse território, à semelhança do que, a seu ver, acontece no Cávado, sob a orientação de Ricardo Rio, autarca de Braga. “Guimarães tem perdido centralidade e escala. Podia e devia ter feito mais na liderança da CIM do Ave. A própria CIM do Ave deveria ter uma agenda mais ambiciosa para o futuro. Braga assumiu mais no Cávado do que Guimarães conseguiu fazer na região do Ave”, defendeu.
Embora aberto à constituição de uma possível área metropolitana que congregue o Cávado e o Ave, na ótica de se “ganhar escala para se resolverem os problemas”, do planeamento económico e das infraestruturas e serviços públicos, o presidente da concelhia do PSD vincou que essa opção tem contempla riscos, nomeadamente o da perda de afirmação de Guimarães.
“Há riscos, e eles devem ser acautelados da perspetiva de Guimarães, que não pode perder a sua voz. Um dos riscos deste processo é o de perdermos alguma capacidade de afirmação. É algo que não quereremos. Guimarães foi sempre uma porta de entrada para a região de Trás-os-Montes para o litoral do país, daí a razão de termos muitos transmontanos no nosso concelho. Temos de preservar essa atratividade. E temos de olhar para a ligação a sul, ao Porto, pela qual se desenvolveu a nossa indústria têxtil, ao longo do rio Ave. Há uma ligação económica histórica”, referiu.