"A elevar o nome das Taipas" há 188 anos, Banda Musical pode mudar de lugar
Depois de um período menos bom, a associação tem vindo a aumentar a presença em festividades e o objetivo é continuar a crescer, cimentando essa posição. Colocar a Banda num lugar de destaque, “que já lhe pertenceu”, é a ambição dos atuais responsáveis.
A Banda Musical das Taipas, associação mais antiga da vila e uma das mais antigas do concelho de Guimarães, celebrou no passado dia 22 de outubro 188 anos de existência. Nem o mau tempo que se fez sentir foi suficiente para abrandar a batuta que guiou as celebrações, com vários associados a reunirem-se junto à sede da associação, na Praceta da Casa da Música. Os mais antigos relembraram a ramada que ocupava o espaço, no compasso de espera para que as bandeiras fossem uma vez mais hasteadas.
Paulo Lopes Silva, vereador da Câmara Municipal de Guimarães, esteve presente no momento simbólico, a par de José Fonseca, membro do executivo da Junta de Freguesia de Caldelas e de Henrique Azevedo, presidente da Banda Musical das Taipas. As bandeiras chegaram, ao topo – sinal de vitalidade da instituição –, seguindo-se um pequeno momento musical por parte da banda, que assinalou o momento ao ritmo dos sopros dos músicos taipenses.
Seguiu-se a habitual romagem ao cemitério por parte dos elementos da banda, para prestar homenagem aos elementos já falecidos, terminando as festividades com uma missa na Igreja Matriz de Caldelas. Pelo meio, o prato forte das celebrações: o habitual concerto que teve lugar no Centro Pastoral Das Taipas. No seu discurso, o atual líder da instituição frisou que, ao longo destes 188 anos, a banda tem vindo a “elevar o seu nome e o nome de Caldas das Taipas”, graças ao “empenho abnegado e apaixonado de muitos ao longo destes anos que deram a sua vida e suaram a camisola”.
“A Banda está bem e recomenda-se”
Em entrevista ao Reflexo, num retrato atual da instituição Henrique Azevedo diz que “a Banda Musical das Taipas está bem e recomenda-se”, revelando que “a programação da próxima época está a correr bem”. Na agenda da banda, constam já seis festas no ano que vem, “boas festas com outras bandas, duas delas com a banda de Pevidém”. O presidente da associação explica ao nosso jornal que, após alguns anos de prosperidade, a pandemia veio abrandar o ritmo de crescimento. “Tomámos posse no dia 29 de dezembro de 2016 e pode dizer-se que a pandemia veio travar uma caminhada que vínhamos a fazer desde 2017, aumentando a nossa presença em festas sucessivamente”, sustenta.
No primeiro ano desta direção, a Banda Musical das Taipas participou em 11 festas, quase o dobro das seis em que participou em 2016. Em 2018, foram 17. Nos dois anos seguintes, a Banda das Taipas esteve em cerca de 20 festas, “mas depois veio a pandemia e foi complicado”. “A juventude precisa disto, procurámos não perder a atividade durante a pandemia”, recorda, ainda que tal fosse praticamente impossível.
“Em 2020 andávamos todos um pouco assustados, mas em 2021 já percebemos um pouco a dinâmica e, com o apoio da Câmara Municipal de Guimarães, fizemos algumas atividades pelo concelho, com pequenas formações, uma vez que não se podia juntar a banda toda”, dá nota Henrique Azevedo. Entre essas atividades o presidente destaca o concerto de Natal em São Francisco: “Foi muito bom levar um concerto destes à cidade. Tínhamos vindo a fazer apenas nas Taipas”, destaca.
“Projeto é levar a Banda para o mais alto nível”
Com sensivelmente 65 músicos nas suas fileiras, a Banda Musical das Taipas por norma aponta como número mínimo de atuação 55 elementos. A ambição para o futuro passa por consolidar a instituição, fazendo-a chegar a patamares que já atingiu no passado a nível de reconhecimento musical. “O nosso projeto para a banda é levá-la para o mais alto nível, o lugar que já lhe pertenceu, no topo”, atira Henrique Azevedo. Para isso é necessário financiamento capaz de sustentar parte da atividade, de forma a “ter um bom reportório”. “A Banda das Taipas esteve apagada alguns anos e quem não é visto não é lembrado”, lamenta.
Financeiramente o presidente da Banda considera que o ano que agora está a terminar foi “muito bom”, na medida em que foi feito investimento para poder alavancar novamente a atividade. “Não recebemos dinheiro da Câmara, foi alterado o procedimento da atribuição de apoios, não vimos um e-mail, e acabámos por não receber nada – costumamos receber 5 mil euros. o dinheiro está a fazer falta, acabamos o ano com um saldo muito baixinho, como nunca, mas fizemos muitos investimentos”, vinca, explicando que a Banda “foi a várias festas perder dinheiro”. “As comissões de festas começaram a trabalhar tarde, não sabiam se iam fazer a festa, mas mesmo assim decidimos ir”, sustenta Henrique Azevedo, revelando ao mesmo tempo que, para complementar a sua atividade, a Banda entra noutras iniciativas, como o Cantar dos Reis ou a Feira das Associações, algo que este ano não foi possível dado o calendário preenchido.
Outra das ambições é garantir a natural regeneração da filarmónica. Segundo o líder máximo da instituição, a média de idades da banda andará nos 30 anos. “Temos muita malta jovem, mas também temos muita malta acima dos 30”, refere. Para colmatar as saídas é necessário ir arranjando soluções. “Temos muita malta a tocar fora, e sai daqui muita juventude com valor para o estrangeiro, por isso há sempre necessidade de meter gente nova e ir regenerando a banda”, pontua.
"Problema para resolver": pode haver mudança de local
Nesta senda transgeracional entre a regeneração presente e a preservação do passado, a ramada que outrora corporizava a passagem para a sede da Banda deixa sobressair a nostalgia, mas a filarmónica pode estar prestes a mudar a sua sede. Há um projeto de construção habitacional no terreno contíguo à sede da Banda Musical das Taipas, o que leva a que tenha de se repensar o local. Henrique Azevedo considera que “foi cometido o erro no passado de permitir que o edifício fosse construído no meio da praça”, mas a Banda, que está instalada num edifício da Câmara Municipal de Guimarães, foi alheia a esse processo.
Recorda que uma parcela de terreno – 60 metros quadrados – pertencia à paróquia. “Foi cedido pelo padre Abílio à paróquia de Caldelas para nela funcionar a banda”, relembra, lamentando que a mesma tenha passado para o município. “Perdemos essa propriedade”, considera.
Com a construção que vai nascer, foi proposto à banda mudar de local. “Temos esse problema, o Salgado Leite quer muito construir ali e apresentou-nos uma loja – nem sequer é a área que temos”, adianta o presidente da Banda Musical das Taipas. “O empreiteiro faz o prédio na mesma se não sairmos, mantém o nosso edifício”, refere, ainda que com algumas reservas. Outra solução passa por “concentrar tudo na Academia”, na antiga Escola do Pinheiral. “Já me foi dito para ver um projeto para isso, um estudo”, adianta, acrescentando que há “infiltrações graves na Academia de Música”. “Por uma questão sentimental, a verdade é que as pessoas gostam daquele local”, elucida o atual responsável máximo pela Banda.
Charles Piairo: "São 188 anos, temos de deixar este legado para os que virão" Há mais de 25 anos na Banda das Taipas, os últimos cinco enquanto maestro, Charles Piairo Gomes tem um discurso semelhante ao de Henrique Azevedo. “Atrevo-me a dizer que a Banda está bem e recomenda-se”, diz ao Reflexo. A pandemia não teve os efeitos nefastos que se chegaram a perspetivar. “Não tivemos uma grande perda de músicos, nem de motivação”, elenca, pelo que há neste momento “uma boa fornada de jovens músicos que veio da Academia de Música Fernando Matos. Esta é, aliás, uma das vertentes essenciais da coletividade, a aposta na formação. “Temos muitos músicos jovens, o que é uma das bases em que queremos investir, nos jovens músicos que passam pela Academia da Banda e que são o futuro”, explica Charles Piairo. No hiato em que se faz o balanço da temporada passada e se olha já para a próxima, o maestro perspetiva o futuro com agrado. Um ano de 2022 com a presença em várias festas e procura para 2023 atesta, de certa forma, o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido. “A Banda passou por uma fase menos boa, mas está num momento bom, e as comissões procuram-nos; o que é bom, é sinal que o que andámos a semear já está a dar os seus frutos e já estamos a colher para os anos que aí vêm”, destaca, expondo que a associação teve “uma época muito boa”, além do esperado, “depois de termos tido um ano atípico”. Para além da vertente artística, do plano meramente musical, o maestro destaca também a componente “social” que normalmente a banda comporta na formação de pessoas e não de músicos, o que na sua opinião é um incentivo para dar continuidade ao trabalho que está a ser desenvolvido. “É difícil gerir muitas mentalidades, muitas opiniões, e para lá do lado artístico da banda há essa componente social, chegar a um grande grupo de músicos, saber educar de uma forma positiva, transmitir a importância da Banda, ensinar aos jovens o que é ser músico de uma Banda, fazer com que tenham gosto pela Banda, criando um ambiente familiar de amizade, sustenta. O facto de vários jovens seguirem a música a nível profissional depois de se iniciarem na Banda, e de outros terem uma carreira de sucesso a nível internacional, é mais um motivo de orgulho. “Companheiros meus entraram comigo e hoje estão no estrangeiro em grandes orquestras, nomeadamente o João Martinho. Muitos músicos ingressaram na Academia por lazer e hoje seguem uma carreira musical, músicos das Taipas, o que faz com que o nosso trabalho seja positivo. Dá força para percebermos que estamos no caminho certo”, reconhece. Nos 188 anos da Banda Musical das Taipas, Charles Piairo destaca a "grande responsabilidade” participar na continuidade da associação, "mais antiga das Taipas”. “São 188 anos, temos de deixar este legado, e melhorá-lo, para outros que virão, porque a banda não é nossa, a banda é de todos os taipenses”, atira, reconhecendo que “é um trabalho de muita gente, e apenas é possível graças ao trabalho de toda a direção”. De olho na próxima temporada, para já o foco da Banda está na preparação do concerto de Natal, “o concerto que normalmente a Banda oferece à comunidade”. |