A casa de Eduarda Sofia Ferreira é a de uma Eco-Família XXI
Produção biológica de hortícolas, rega da horta sem água da companhia, separação de todo o lixo e poupança energética são algumas das rotinas de que não abdicam os seus cinco habitantes. São os membros da família que conquistou o terceiro lugar nacional no concurso Eco-Famílias XXI.
Eduarda Sofia Ferreira aproveitou o terreno em redor da moradia para o cobrir com uma horta que produz “diferentes culturas” ao longo do ano; aquela extensão é mais “bonita e rentável” no verão, mas, para a professora, nada é mais recompensador do que ver os filhos Lourenço, de 12 anos, e Rodrigo, de cinco, habituarem-se a frutos e legumes naturais desde tenra idade. “É muito gratificante ver uma criança ir à horta e poder colher um morango sem qualquer produto químico. Isso vale tudo quando falamos de agricultura biológica”, confessa ao Reflexo.
A produção biológica de hortícolas é um dos motivos pelos quais o agregado de Eduarda, ainda constituído pela mãe, Laura Ferreira, e pelo marido, Carlos Magalhães, obteve o terceiro lugar nacional no concurso Eco-Famílias XXI referente a 2020/21. A distinção da Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE), anunciada a 21 de junho, coroou a progressiva sensibilidade ambiental que ganhou na coordenação de um projeto eco-escola em Santana, na Madeira, entre 2003 e 2016, assinala.
De volta às Taipas, ficou a par do concurso da ABAE no ano passado, através do secretário da Brigada Verde da vila, José Fonseca. Inscreveu-se na Junta de Freguesia e foi a mais bem classificada entre as famílias taipenses que concorreram. Esse reconhecimento alargou-se à esfera nacional, com o galardão atribuído em Pombal, mesmo impossibilitada de marcar presença. Não acreditava ser distinguida, mas começou a suspeitar disso perante a insistência da organização para que estivesse no evento. “Só depois é que vi o porquê: um dia antes contactaram-me a solicitar uma fotografia da família para projetarem na cerimónia”, diz.
Da biodiversidade à reciclagem
O concurso rege-se por um questionário “bastante exaustivo”, diz Eduarda, no qual a família tem de esclarecer o que faz quanto à produção agrícola, mas também aos consumos de água e de energia ou à separação de resíduos e reciclagem. Até o conhecimento da biodiversidade da freguesia é pedido. “Havia questões sobre espécies da freguesia: Tínhamos de tirar fotografias e de as descarregar numa plataforma”, esclarece. A exigência de comprovativo estendia-se às restantes questões, sendo pedidas fotografias ou faturas, acrescenta.
Convicta de que a sua família tem “cinco consumidores muito conscientes”, Eduarda enumera os comportamentos que, a seu ver, lhe permitiram receber o galardão: uso de água do poço no sistema de rega da horta, controlado por aspersores, alimentação baseada em produtos regionais e hábitos mais prosaicos, como lavar os dentes com a torneira fechada, utilizar as máquinas de lavar na capacidade máxima e evitar ter aparelhos elétricos em stand by.
E, claro, separa o lixo para a reciclagem. “Há um ecoponto na cozinha. Na garagem, tenho uma caixinha para rolhas de cortiça, uma para tampas e outra para rolos de papel”, afirma a professora, considerando-se “acérrima defensora” da política dos 5 R’s – repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar.
A adoção de uma vida segundo tais princípios foi “gradual”, mas até relativamente “fácil”, porque se habituou a ter horta desde pequena. Essa atenção à sustentabilidade também já está enraizada nos filhos, habituados a iniciativas desse cariz através da escola e do Laboratório da Paisagem. “Aliás, são eles muitas vezes que pegam na tampa e vão pôr na caixa certa”, detalha.
Mesmo liderando uma eco-família de referência no país, Eduarda vê mais caminho a percorrer. Contrabalança o “orgulho” do prémio com a “responsabilidade” de garantir que o seu agregado não “retroceda” e de que outros se redefinam segundo práticas mais amigas do ambiente. “É preciso transmitir esta ideia de que é preciso agarrar a sustentabilidade e lutar por ela. Coisas tão simples como evitar sacos plásticos ou separar o lixo são desafios diários”, declara.