CO Campelos: são 70 anos a jogar à bola no lugar que vivia da fábrica
Em 01 de março de 1953, a vida social em torno da Companhia de Fiação e Tecidos de Guimarães ganhou uma nova dimensão: a do desporto, com a fundação do Clube Operário de Campelos. “Em 1953, o meu pai colocou-me logo a sócio. Pagava 25 tostões. Era cinco coroas [de escudo]”, recorda ao Reflexo José Pimenta, presidente do clube em dois períodos: 1983 a 1985 e 2014 a 2021. É precisamente essa efeméride que o clube da 1.ª Divisão da Associação de Futebol de Braga decidiu assinalar a 04 de março, com o hastear da bandeira na sede – antiga escola primária -, um jogo de velhas guardas no Campo José Maria Machado Vaz, uma eucaristia e um jantar.
Essa sede, com os retratos dos seus presidentes e os galhardetes de centenas de clubes, e o campo onde se vivem as emoções da bola – antigamente pelado, desde 2020 relvado sintético – são os bastiões da memória de um clube que começou a jogar num “campo de milho lavrado, com balizas” onde hoje é o parque industrial de Ponte, em “jogos populares”, antes de se mudar para o campo que hoje detém – à altura o Campo de São José – na então quinta do Miogo, em Vila Nova de Sande, propriedade da família Jordão. Então com 12 anos, José Pimenta ainda se recorda da inauguração, a 07 de setembro de 1958. “Houve uma avioneta no dia da inauguração. Deu duas voltas por cima do campo e largou a bola no meio. O campo estava a abarrotar”, descreve.
A partir desse recinto, o clube operário projetou-se para a década de 60, com “grandes equipas” onde pontificaram nomes como Sebastião, antigo guarda-redes de Estoril, Benfica e Vitória, internacional português por uma vez, ou Silva, outro ex-guardião vitoriano, e foi campeão da 2.ª Divisão da Associação de Futebol de Braga (AF Braga), realça o ex-dirigente.
Mesmo sem contribuir financeiramente para a atividade do Campelos, a fábrica têxtil fundada em 1890, por James Lickfold, influenciava o dia a dia do clube, disponibilizando pessoas para arranjarem o campo. E o seu encerramento em 1968, com a consequente emigração, fez o clube parar até 1975, ano da retoma graças ao esforço de “uma rapaziada” intitulada “os restauradores”, que negociou também a posse do campo com o proprietário à época, José Maria Machado Vaz. “Ele deu-nos a possibilidade de o terreno ser do Campelos enquanto o Campelos existisse. O Machado Vaz entretanto vendeu a quinta, mas não o campo. O campo ficou sempre no Campelos e é propriedade do clube”, esclarece José Pimenta.
A partir daí, o clube que é filial n.º 2 do Vitória Sport Clube e sócio n.º 387 da Federação Portuguesa de Futebol caminhou, com altos e baixos, pelos campeonatos da AF Braga. Ao revisitar os seus tempos de presidente, José Pimenta elege a subida à 1.ª Divisão, em 1983/84, e a subida à Divisão de Honra, em 2019/20, também a época da inauguração do relvado sintético.
Iluminação e transporte são prioridades
Adepto, jogador, capitão de equipa e, desde 2022, presidente, Cristiano Silva recorda os jogos no meio da claque, no “princípio dos anos 2000”, e a primeira ocasião em que envergou a braçadeira, num duelo com o Fórum de Airão, entre 2017 e 2019, como os episódios afetivos que coroam a sua relação com o Campelos.
Aos 37 anos, o ex-jogador disse ter aceitado suceder a Flávio Pinto com o propósito de “ajudar” o clube e admite que a fábrica, hoje detida pela Têxtil Manuel Gonçalves, ainda tem peso no dia a dia associativo. “Tenho colegas de direção que trabalham lá e falam disso a outros colegas, que gostam do bairrismo e entram para sócios”, diz o responsável por uma instituição cujos associados rondam os 400.
Ciente de que é “dificílimo” lançar um projeto de formação, até pelos clubes vizinhos que já a têm, Cristiano Silva elege a instalação de luzes LED no campo de jogos, projeto candidatado aos apoios desportivos da Câmara Municipal de Guimarães 2022/23, e a aquisição de um veículo para transporte como prioridades. “Quando vamos fora, temos tido a parceria do Centro Social de Campelos, que nos cede uma carrinha. Temos esse handicap de lhes pedir a carrinha de 15 em 15 dias. Vamos tentar obtê-la através de patrocinadores”, espera.