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"Nova sede é fundamental para o bom funcionamento do Agrupamento"

Redação
Sociedade \ sábado, novembro 14, 2020
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Aos 34 anos, Leandro Neves sucede no cargo de Chefe de Agrupamento, a Ernesto Martinho.

Leandro Neves ingressou no Agrupamento de escuteiros das Taipas em 1996, ainda com idade de Lobito mas passou a integrar a secção dos exploradores. Fez todo o seu percurso escutista nas diferentes secções e, ainda como Caminheiro, desempenhado funções em Comissão de Serviço, teve uma passagem fugaz no apoio à secção dos exploradores. Investido como Dirigente em 2011, começou por integrar a equipa de animação da primeira secção, dos lobitos, onde permaneceu durante 5 anos. A emigração de uma dirigente para França conduziu à necessidade de captar Leandro Neves para chefe de unidade dos pioneiros, onde se manteve até ser recentemente eleito chefe de Agrupamento, única função que exercerá cumprindo com aquilo que as normas escutistas aconselham para um Chefe de Agrupamento.

No seu ingresso e mesmo durante o seu percurso escutista, alguma vez se imaginou a chegar a Chefe de Agrupamento?
Quando entrei, obviamente que não. Depois, na fase da adolescência, até tive um período em que estive para me afastar do escutismo. Só depois é que senti que poderia vir a tornar-me dirigente do CNE. No imediato, nunca pensei chegar a Chefe de Agrupamento, quer eu, quer os meus colegas, porque pensávamos que o Chefe Ernesto ia ser intemporal. Mesmo quando se colocou essa necessidade, nunca pensei que pudesse ser já eu a substituí-lo no cargo. Claro que pensei que pudesse a vir a ser eu um dia mas, não já, em substituição direta do chefe Ernesto.

Sente-se preparado para os novos desafios que lhe serão colocados no cargo?
Preparados, nunca estamos. O desfio e a responsabilidade são enormes. Não tenho medo e mesmo que não me sinta preparado, sei que temos uma equipa que me ajudará no que for preciso. Já com o chefe Ernesto era assim. Trabalhamos muito à base do trabalho de equipa, por onde passam todas as decisões. Isso dá alguma segurança, tendo em conta que as coisa não mudaram assim tanto. Eu já fazia parte da Direção anterior e houve apenas uma troca de lugares já que o chefe Ernesto continuará a integrar a Direção do Agrupamento. Claro que este novo cargo vai implicar que dedique mais tempo e que tenha de assumir outras funções e responsabilidades, mas, não me parece uma mudança assim tão grande. As decisões não se centrarão numa pessoa, mas, sim, numa Direção.

Sabe-se que, normalmente, nestes processos de eleição, tenta-se sempre apresentar uma solução que reúna consenso, como parece ter sido o caso. Apesar disso, o que é que o motivou e esteve na base da sua aceitação para assumir este novo cargo?
No Agrupamento das Taipas estivemos sempre muito acomodados e seguros com a liderança do Chefe Ernesto. São muitos anos. Todos nós, atuais dirigentes, crescemos com a presença dele e, ainda hoje tenho a convicção que é a pessoa que reúne todas as qualidades para assumir a liderança do Agrupamento. Contudo, a sua opção pessoal foi de deixar o cargo e compreende-se. Para além de acomodados, era também um pouco por egoísmo nosso estarmos sempre a exigir que continuasse naquela função. Desta vez foi intransigente. Há muitos anos que vinha a dizer que seria o último mandato e a nossa dose de egoísmo foi sempre conseguindo mantê-lo. Desta vez, foi mesmo irredutível na sua decisão e tivemos de resolver a questão da forma que é conhecida. Foi um processo longo e cheguei a pensar que com esta questão da pandemia ele se iria esquecer do assunto. Mas, não. Tivemos mesmo de avançar para a sua substituição. Percebi também que as razões profissionais apontadas pela Marta Mendes para não assumir o cargo eram mais fortes que as minhas e acabei por ser eu a aceitar avançar.

Considera esta uma herança pesada, assumir um cargo ocupado durante tanto tempo pelo Chefe Ernesto?
É uma herança pesada pelo cargo em si, porque ser escuteiro já é um cargo prestigiante. Não é pesado porque o camião que vai transportar esta carga está bem mantido pela Direção. Trabalhamos em equipa. O Chefe Ernesto pelo bom trabalho que fez exige de quem vem a seguir, não só eu como sucessor direto, mas os próximos chefes terão sempre a responsabilidade de manter o trabalho, porque vai ser sempre comparado.

Em trinta anos terá sempre tempo para equivaler o trabalho do Chefe Ernesto?!…
Não conto estar no cargo tanto tempo (risos). O mandato é de três anos, é quanto espero permanecer, depois nas próximas eleições se verá. Espero que seja outra pessoa.

Que linhas orientadoras tem para este mandato?
Temos uma linha que foi imposta, que é transversal a todas as associações, que é como sobreviver ou manter a atividade neste tempo de pandemia. É desafiante. Temos de apelar à criatividade. Nunca parámos. Num primeiro momento fizemos reuniões online. Em julho fizemos uma retoma. Em setembro sentimos a necessidade de voltar às reuniões presenciais, depois das férias, até para tentar chamar de novo os nossos miúdos. Conseguimos fazer isso, mas vamos ter de abrandar novamente. Depois temos os problemas normais do Agrupamento, que são públicos, a falta de espaço, um problema que a nossa Direção vai continuar a tentar resolver. O grande objetivo do Agrupamento passa por manter o trabalho que o Chefe Ernesto tem realizado. Resolver o problema do espaço, uma vez que a atual sede não se adequa ao número de elementos que temos e às atividades em tempo de Covid-19.

De que forma será possível conseguir manter os miúdos motivados nesta fase?
Temos algumas orientações a nível nacional, que nos são transmitidas através do Núcleo de Guimarães. Temos algumas linhas que devemos seguir de acordo com as regras da DGS. É sugerido fazer práticas com grupos reduzidos, o que para nós é simples porque temos o sistema de equipas, que vão de cinco a oito elementos na vertente presencial, porque o escutismo baseia-se muito na prática, ao livre, e é muito difícil trabalhar isso online. Temos de mesclar presencial com online. São permitidos acampamentos. Mas, por exemplo, exigem apenas um elemento por tenda, coisas que ao nível da logística se torna complicado.

Será uma liderança de continuidade, ou tem algumas ideias de rutura?
Rutura não porque eu fazia parte da anterior Direção. Temos maneiras de pensar diferentes, formas diferentes, mas as decisões eram da Direção que se mantém a mesma. Nós até tentamos que as decisões sejam tomadas para além da Direção e, que todos os dirigentes sejam tidos em conta nas tomadas de decisão. Há coisas que tenho uma forma de pensar que poderíamos trabalhar de outra forma, mas é mais isso, a forma de trabalhar, do que na decisão. Podemos delegar muito mais tarefas, até porque eu não tenho a capacidade que o Chefe Ernesto tinha de liderar todos os departamentos. Penso muito mais que ajudem, até para não cair toda a responsabilidade num só elemento, o que é muito esgotante. Eu via o quanto isso era esgotante para o chefe Ernesto. Em termos de decisão não será diferente. Sinto, por exemplo, e sugeri isso após a última Feira das Associações, que podemos melhorar a comunicação entre associações nas Taipas. Há pouca interajuda. Há muita rivalidade entre tudo. Sinto uma rivalidade que não faz sentido.

Relativamente à nova sede há algum desenvolvimento?
Mantém-se tudo igual. Tivemos uma reunião em julho com o Presidente da Câmara, em que nos foi reafirmada a vontade de nos apoiar na construção da sede. Estamos a tentar desbloquear uma situação burocrática com a Taipas Termal, que ainda não foi desbloqueada, porque tal como tivemos oportunidade de dizer ao Presidente das Câmara, é uma promessa que fez e tem de ser cumprida neste mandato. O mandato termina para o ano e não sabemos se ele será reeleito. Acredito que será possível resolver esta situação.

É primordial para o bom funcionamento do agrupamento?
Completamente. Mesmo antes da pandemia já o era, agora ainda pior, com a obrigação de respeitar distanciamento. É impossível ter uma reunião de secção na atual sede, no espaço que temos. Neste momento, respeitando as regras, deveremos ter lugar para oito pessoas. Temos secções com mais de vinte elementos, o que torna impossível reunir. Antes da pandemia já notávamos isso. Se tivéssemos de fazer algum trabalho de valor que tivesse de ser aproveitado no futuro, não podemos armazenar, temos de deitar fora. Em termos de reunião é impossível ter várias secções reunidas à mesma hora, o que obriga os dirigentes a reunir em horários diferentes, em horários menos convenientes. Depois não há cruzamento entre secções, os miúdos não se identificam, não conhecem os escuteiros das outras secções.

Que comentário lhe merece a mensagem/conselho que lhe foi dirigida pelo Chefe Ernesto na entrevista que no mês passado concedeu ao Reflexo?
A mensagem é a que qualquer dirigente tem de ter sempre presente. Foi a mensagem que o Chefe Ernesto me deixou, que estamos ali para os miúdos, dedicamos muitas horas aos miúdos. O importante é pensar nos miúdos. Cresci com o Chefe Ernesto, a maioria dos dirigentes que cá estão eram miúdos e já o Chefe Ernesto era Chefe deste Agrupamento. Esteve 35 anos como Chefe de Agrupamento, e terei as palavras dele sempre em conta. Quando tirei o curso de dirigente foi-nos transmitido que deveria ter responsabilidade, mas essencialmente que estamos lá para lidar com os miúdos todos, os fáceis e os difíceis. Dos fáceis qualquer um toma conta, mas estamos disponíveis para todas as crianças e sempre a pensar no bem deles. Agradeço o apoio dos pais, que me foram transmitindo confiança e dos dirigentes, que me têm apoiado, sabem que não foi uma vontade pessoal mas sim uma necessidade do agrupamento.