Viver online tornou-se imperioso…
A Covid-19 instalou-se há dois anos no mundo e veio para ficar. Estar Online/ navegar pela NET tornou-se uma atividade comum a alunos e professores com aulas via zoom ou outro programa qualquer do mesmo género, com tarefas enviadas por email ou planos de trabalho para alunos infetados ou de quarentena… com reuniões de professores de grupo, de conselho pedagógico… com reuniões de avaliação, com formação…
Mesmo os obstinados, que teimavam em manter-se afastados das “modernices” que os assustavam e perante os quais se sentiam impotentes e ignorantes, tiveram de se adaptar… E as empresas foram obrigadas a utilizar o teletrabalho e quer-me parecer que este vai ser um processo a ser cada vez mais utilizado se se quiser combater o maldito coronavírus e outros que por aí venham.
A máquina pode ser bloqueadora para muitos, principalmente para os que colhem um prazer físico do contacto da mão e do bico da lapiseira, lápis ou caneta a correrem pelo papel em busca das palavras que deem sentido ao simples ato de escrever. O papel não é falso. Não esconde nem apaga o que nele escrevinham, sabe Deus com quanto esforço, por vezes. A máquina tem sempre razão (dizem-me!); foi erro humano, afirmam categoricamente, mas frequentemente não o sabem nomear, indicar, descobrir. E o trabalho vai por «água abaixo», neste caso, pelos intrincados circuitos que constituem a tal máquina e há que (re)iniciar a atividade da qual não existe rascunho. Tenho uma atitude cética para com as máquinas, sejam elas quais forem: aparelhos eletrodomésticos, instrumentos audiovisuais e / ou informáticos. Desconfio delas desde sempre, talvez porque não aceito com facilidade o que não é explicável na tecnologia que, à partida, deveria ser infalível.
Quando fiz a 4ª classe recebi um relógio que me acompanhou, no pulso, durante grande parte da minha vida de estudante liceal e universitária. Era uma máquina das antigas, a que era preciso dar corda, mas funcionava como um cronómetro. Só o tirava para tomar banho e depois logo regressava ao pulso. Dez anos passados, o «cebolinha» começou a adiantar-se umas vezes e outras a atrasar-se. Fez várias visitas ao relojoeiro que me garantia que não se passava nada com o relógio, pois lá funcionava direitinho, correndo com os segundos, os minutos e as horas, sempre no seu passo seguro e certo. De regresso a casa era a mesma dança. Mal o colocava no pulso… corria como um louco ou andava como uma lesma… Experimentei colocá-lo na mesinha de cabeceira. A mesma coisa. Passou para a cómoda do outro lado do quarto. Milagre! Começou a acompanhar os passos do tempo no seu tempo certo.
Impossível… improvável… mas a verdade é que o relógio se habituara ao meu pulsar e acompanhava o meu ritmo de vida. Se andasse nervosa, tomava o freio nos dentes e partia disparado, fazendo 70 minutos nos 60 que constituem a hora. Se, pelo contrário, estivesse calma, o preguiçoso recusava-se a fazer os 60 minutos da hora e apenas contabilizava 50. Muitos me disseram que tal não era possível, só sei que, ainda hoje, e já não o uso há mais de quarenta anos, se eu o colocar no pulso, ele volta a seguir fielmente as pisadas do meu ritmo biológico e psicológico.
Venham os engenheiros, os técnicos dizer que não é possível interferir com as máquinas. Chamem-lhe «magnetismo», chamem-lhe o que quiserem, mas que é possível, é. O mesmo acontece com os computadores. Estou certa disso, embora não tenha «provas».
Recordo-me de ter visto um filme de ficção científica, do qual não sei o nome, em que o computador central de uma nave espacial, «Max», assumia o controlo da mesma e se tornava perigosamente numa «coisa pensante» ultrapassando as instruções e as tarefas para as quais havia sido criado. Ficção? Não se aproxima perigosamente a ficção da realidade? Os grandes inventos não começaram por ser ficção? O desejo do homem de criar asas e voar – pobres Ícaros de ontem!- não é hoje uma realidade? Os Desportos Radicais – a Asa Delta, o Parapente, o Paraquedismo- não são a concretização possível dos anseios mais loucos do homem?
Acredito sinceramente no poder da mente humana que, na busca da máquina perfeita, pode vir a construir uma que o venha a suplantar e, quem sabe, a destruir. É arrepiante pensar nisto, mas Leonardos Da Vinci e Júlios Verne não faltam! Olhados com desconfiança no seu tempo, criticados, menosprezados, são admirados hoje como homens que viveram muito à frente da sua época, que anteciparam e esboçaram máquinas que só se concretizaram alguns séculos mais tarde.
E todo este palavreado apenas porque, à semelhança de outras atividades, o estar OnLine assusta quem prefere continuar a escrevinhar o seu bilhete, um pequeno recado, escrever uma carta, mandar um telegrama, telefonar, ou, mais modernamente, mandar uma mensagem pelo telemóvel. É que o e-mail utiliza a tal famigerada máquina bloqueadora e caprichosa. Mas tudo depende da disposição com que enfrentamos as situações e, qualquer dia, os CTT terão, eventualmente, muito menos serviço. Claro que isso já não é para a minha geração, corrijo, para a maior parte da minha geração.
E quanto ao navegar pela Net e utilizar a maravilhosa autoestrada da informação e da comunicação, tudo depende da hora e do acesso, porque se for «hora de ponta» é como se estivesse no meio do trânsito caótico, prepare-se para esperar… esperar… até chegar a sua vez… se não perder a paciência.
Posso parecer muito pessimista e avessa ao progresso. Errado! Acompanho-o mas não me deixo escravizar. Não dependo do meu telemóvel, da mesma forma que não dependo do computador. Utilizo-os com alguma facilidade, mas no caso do segundo tomo as devidas precauções. Há sempre um rascunho! Por isso, o bloco de notas é uma presença constante e um companheiro fiel na minha carteira. É fácil de transportar, é barato e está sempre «carregado». O computador portátil pode ser bastante mais útil e cómodo do que o monstro que temos em casa, mas não deixa de ser uma máquina que tem «sempre» razão e, ainda por cima, fica sem bateria nos momentos mais «inoportunos».
Porém, sejamos otimistas e vejamos só o aspeto positivo destas maravilhosas máquinas. E, quando viajar «cá dentro ou lá fora», leve-as consigo, se quer estar contactável e em contacto com o mundo.