21 agosto 2025 \ Caldas das Taipas
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Vivemos na mentira todos os dias!

Teresa Portal
Opinião \ quinta-feira, agosto 21, 2025
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Devia haver um castigo mais duro e exemplar. Não sou a favor da pena de morte, mas, não me repugnava nada queimar a mão de quem incendeia.

Há três palavras interligadas a tudo quanto vou citar: Hipocrisia,  Maldade, Mentira.

A Europa está a arder (Portugal, Espanha, França, Itália, Grécia, Turquia) e os governantes em férias, na praia. Depois regressaram aos gabinetes de onde ficaram a ver os outros a comandarem ou a descomandarem os meios... Neste momento, Portugal já é o país da UE com maior percentagem de território ardido.

E houve muitas zonas onde a ajuda não chegou. Viu-se ontem na televisão. Foram os vizinhos, os das aldeias próximas que vieram dar uma mão e trazer água para ver se acabavam com as chamas.

Não vou comentar, porque, para mim, a política está a perder o encanto de há 51 anos para cá, cada vez mais um bocadinho. Andei em listas com as minhas condições, mas... por onde andei, fiquei sempre conectada com o PCP., porque protestava quando era necessário, e dizia o que tinha de dizer na cara das pessoas e não mandava recados. Já disse que vivi o 25 de abril na 1ª pessoa, estava na universidade. Tanta RGA (Reunião Geral de Alunos), tanta estupidez cometida por tudo ter deixado de ser fascista e se ter tornado comunista. Cantei Zeca Afonso, votei em todas as eleições desde essa altura e cada vez mais desencantada. Por isso, quando me tentam doutrinar para um lado ou para o outro, mostro a minha desilusão.

Como disse num cabeçalho, em que homenageavam os bombeiros que estão na linha da frente (exaustos e já a morrer), lembrei-me dos Bombeiros Voluntários das Taipas, considerados os melhores de entre os melhores (Bem Hajam!), e pensei que os ideais de abril escorreram, estão a escorrer ou já estão no esgoto

Não sei o que fazem aos incendiários, mas põem-nos fora em pouco tempo para refazerem o mesmo, perdoem o reforço. Devia haver um castigo mais duro e exemplar. Não sou a favor da pena de morte, mas, não me repugnava nada queimar a mão de quem incendeia. Não voltariam a incendiar, pois já viram reincidentes entre os incendiários.

Depois, temos os roubos descarados que o Facebook e o Instagram (que nos impedem de publicar e pôr gostos ou comentários) permitem impunemente, às claras. Temos o Ronaldo, o Presidente da República, o Primeiro  Ministro, Locutores da Televisão e mais uns tantos a prometerem mundos e fundos, que as pessoas podem ganhar milhares com uma ridicularia. Não são eles, são vozes da IA, mas as pessoas acreditam e, os outros não desmentem, porque mais vale que falem mal de nós do que não falem. Mentalidade comezinha... Se tentar pôr uma cara zangada no Face não aceita, se tentar pôr um comentário, escreve-o mas não aparece. Há pessoas que perderam as economias de uma vida de trabalho e agora, claro, aparecem os abutres, as firmas de advogados que, miraculosamente, se oferecem para seguir o rasto e embolsarem um tanto. Esse foi o motivo pelo qual não segui advocacia. Quando tive um acidente muito grave na autoestrada (levei uma traseirada que andei aos círculos na via até esbarrar na trave central e ficar virada para o sentido de onde vinha.) «Descanse, minha senhora, que o acidente fala por si», disse-me o agente que me foi fazer o teste de alcoolémia ao hospital de S.João. Falava por si, mas fui considerada culpada e o carro foi para a sucata. Andávamos em partilhas, tinha a minha mãe acabado de falecer. Houve um advogado que me contactou. Só mais tarde vim a saber que era especialista em receber grossas maquias para os que ficavam com incapacidades. Eu tive azar e sorte. Sorte, porque a cicatriz quase não se vê (e eu estava um monstro) e azar, porque, à segunda consulta, o advogado mandou-me embora. Aliás, pediu à funcionária que me dissesse que já não seria mais meu advogado e não paguei nada. E sorte, porquê? No hospital, nas urgências, quando um médico me ia coser, há um jovem que diz: «Deixa estar, eu coso essa senhora». Na segunda consulta, nas urgências, enviaram-me para o gabinete do médico que me cosera- era só um interno de Cirurgia Plástica. «Fiquei à espera que me aparecesse à noite outra vez.» «Não apareci, porquem quando comecei a sangrar, pus um saco de ervilhas congeladas no olho (indicação da minha cunhada nutricionista) e acabou por parar». Na quinta consulta, mandou-me erguer as pálpebras e subiram as duas. Ele sorriu e disse: «Sabe, sempre pensei que ia ficar paralisada da pálpebra do olho esquerdo». Nas duas últimas consultas ja estava sozinho, ou seja, era Cirurgião Plástico. E ótimo, pelos vistos.

Foi quando entendi, que o advogado, à segunda consulta, tinha logo percebido que eu não ia ficar incapacitada e não ia ganhar nada comigo.

E há mais. Os cirurgiões que, milagrosamente, descobriram o remédio para isto e para aquilo, que obrigam as pessoas a ouvirem um grande relambório e depois exigem XY por 2 frascos, mas se for três ainda fica mais barato;  aqueles ou aquelas que descobriram curas milagrosas que fazem perdez dez quilos numa semana, porque só se pode beber um copo... e ficava aqui a falar dos fraudulentos a vida inteira, dos hipócritas que se riem dos defeitos, da maleitas alheias...

Para quê? E não falei da IA. Já tinha ouvido falar da tese de doutoramento, mas esta é melhor: deram um importante prémio de literatura internacional a um livro feito pela Inteligência Artidicial e mais não digo.

Tudo isto para dizer que a falta de humanidade e de solidariedade são confrangedoras, mesmo a nível pessoal. Nós temo-nos a nós. Os amigos contam-se pelos dedos. Há os que o são, enquanto precisam dos outros e há aqueles que ficam para a vida, mesmo que não se vejam durante muitos anos. Hoje, usam-se as pessoas e descartam-se, quando já não servem para nada. Não são necessárias.

Faço minhas as palavras do nosso Saramago: « O tempo das verdades plurais acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira, todos os dias».