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Uma casa agrícola, com certeza...

Gonçalo Cruz
Opinião \ quinta-feira, novembro 21, 2019
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Revela-se, pouco a pouco, a ocupação económica da família que habitou esta casa. Apreciadores da arquitetura romana na construção do seu espaço habitacional, parecem ter seguido os novos gostos.

 Labrum, pequeno tanque de pedra onde se recolhia o primeiro azeite, depois da prensagem.

Um dos compartimentos da grande casa "romana" da Citânia de Briteiros, que temos vindo a descrever, foi um dos alvos preferenciais das últimas escavações. Espaço considerado por Sarmento como uma possível oficina, foi também interpretado, no século XIX, como local de "banho público". A esta ideia estava associada a existência de um pequeno tanque de pedra, agora reescavado. Além do tanque, outros elementos contribuíram para interpretar esta estrutura como... um lagar.

A identificação de um grande contrapeso em granito, assim como os elementos pétreos de encaixe do que seria uma prensa de madeira, associados a este tanque, permitiram esta nova leitura do espaço. É comum a existência de lagares escavados na rocha atribuíveis à época romana, muitas vezes próximos dos locais de cultivo e geralmente associados à produção de vinho. Mais rara é a identificação de lagares em espaços domésticos, o que coincide com o facto de existirem poucas villae ou granjas romanas integralmente escavadas. Este conjunto é assim de uma certa raridade, mormente a sua existência ter sido banal na época em que se utilizou. É difícil, por vezes impossível, identificar o produto que seria aqui produzido, vinho ou azeite. No entanto, a recolha do que parecem ser caroços de azeitona carbonizados parece indiciar a sua utilização no fabrico de azeite.

Assim, na divisão mais baixa da casa, que comunicava com o átrio da mesma, funcionaria um lagar de azeite, do qual conhecemos a zona de prensagem, o local onde a pasta de azeitona era prensada e o tanque, ou labrum, onde o primeiro azeite era recolhido. Este labrum foi feito com pedras reaproveitadas de outras construções, como é o caso de uma das pedras do fundo, que é uma antiga soleira de porta!

Falta-nos identificar o local onde a azeitona seria triturada, usualmente no mesmo compartimento da prensa, bem como as estruturas de decantação, na qual se utilizava água quente. Este aspeto pode, na verdade, explicar o facto de esta casa ter tido água canalizada. Anexa a este compartimento, uma divisão alongada pode ter sido a cella olearia, onde o azeite se armazenava.

Revela-se, assim, pouco a pouco, a ocupação económica da família que habitou esta casa. Apreciadores da arquitetura romana na construção do seu espaço habitacional, parecem ter seguido também os novos gostos e práticas trazidos pela romanização, sendo a produção e utilização do azeite uma delas.

Como em muitos outros temas arqueológicos, novas descobertas significam respostas, mas também significam uma nova problemática. Também neste caso, a identificação de um lagar levanta novas questões sobre onde seria o local de cultivo, dentro ou fora do castro, bem como procurar saber se esta estrutura visava apenas o autoconsumo ou estaria já inserida numa nova lógica de mercado e de economia monetária.

Como escreveu Sarmento nas suas notas, "procurar sempre".