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Um pequeno passo que pode ser gigante

Movita em Reflexo
Opinião \ quinta-feira, dezembro 04, 2025
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As reuniões abertas são importantes, sim, mas não chegam para organizar as ideias, os contributos e as preocupações da comunidade.

A Junta de Freguesia anunciou recentemente que, a partir de agora, todas as últimas quartas-feiras de cada mês, pelas 18h00, haverá uma reunião ordinária aberta à população. Um gesto simples, até discreto, mas que carrega um significado profundo: o reconhecimento de que a democracia local só existe plenamente quando é participada.

Este passo merece ser valorizado. Não por ser inovador — afinal, deveria ser o padrão —, mas porque marca uma mudança de atitude num tempo em que muitos cidadãos se afastaram da vida pública, por descrença, cansaço ou falta de canais acessíveis. Abrir portas, de forma regular e transparente, é reconhecer que a política local deve ser feita com as pessoas e não apenas para as pessoas. Só isso já merece nota positiva.

Mas não nos iludamos: este gesto, por si só, não resolve o desafio maior da participação cívica. As reuniões abertas são importantes, sim, mas não chegam para organizar as ideias, os contributos e as preocupações da comunidade. Sem estruturas que apoiem essa participação — associações, grupos de trabalho, espaços de escuta e co-criação — corremos o risco de ficar apenas pelo anúncio. É como dizer “estamos abertos”, mas não oferecer ferramentas para que as pessoas transformem as suas ideias em propostas sólidas.

E é precisamente aqui que importa fazer a reflexão necessária. A Junta sabe que a Movita existe e sabe qual é o seu propósito: aproximar cidadãos, ativar a participação e transformar ideias em ação cívica organizada. Por isso, teria feito sentido existir — e ainda faz todo o sentido — uma aproximação à nossa Associação para explorar estratégias comuns, sinergias e formas de amplificar este movimento. A participação não se impõe nem acontece apenas porque se abre uma porta uma vez por mês; constrói-se com trabalho conjunto, coordenação e vontade real de envolver quem já está no terreno.

Dito isto, deixamos claro que também nós daremos esse passo. Se a Junta não iniciou essa ponte, seremos nós a fazê-lo — porque o nosso compromisso é com a comunidade. E se existe agora um gesto que aponta na direção certa, então cabe-nos a todos garantir que ele se transforma em prática, colaboração e resultados concretos.

A democracia local precisa de mais do que portas abertas uma vez por mês. Precisa de ecossistemas onde as pessoas possam pensar, discutir, propor, planear e acompanhar. Sem isso, ficamos na boa intenção — necessária, mas insuficiente.

Ainda assim, reconheçamos o essencial: este é um passo gigante na direção certa. Um passo que merece ser apoiado, consolidado e, acima de tudo, mantido no futuro — independentemente de quem liderar a Junta. Porque a participação cívica não tem cor partidária. É um bem comum. E é precisamente para isso que a Movita existe: para fortalecer a ligação entre cidadãos e instituições, ajudar a organizar ideias e projetos e garantir que a voz da comunidade é mais do que um comentário ocasional — é um contributo estruturado.

Se este caminho continuar, estaremos certamente mais próximos de uma política local feita pelos Taipenses, para os Taipenses e com os Taipenses. E aí, sim, estaremos a construir uma democracia mais adulta, mais aberta e mais viva.


Ismael Afonso