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Tudo no mesmo saco. Início das aulas, o PNL, as Bibliotecas e os Telemóveis

Teresa Portal
Opinião \ quinta-feira, setembro 18, 2025
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Neste cozinhado a que faltam alguns temperos, aí vem o principal: os telemóveis. Apenas pergunto: para que precisam os alunos de telemóvel dentro do horário escolar?

 Os tempos de mudança na educação existem desde o 25 de abril. As reformas sucediam-se umas atrás das outras conforme os governos. O Sistema Educativo Português andou em guerras sucessivas. E os vários governos disseram abertamente que a sua paixão era a educação e a saúde.

Vejam como estão uma e outra.

Quando, finalmente, se chegou ao órgão colegial (conselho diretivo, conselho executivo), todos pensaram que as coisas tinham acalmado e que os professores voltariam a ser olhados como uma classe sem a qual não existe nenhuma outra. Lembram-se quando, em tempos idos, as pessoas mais respeitadas das freguesias eram o médico, o professor e o regedor?

Ninguém pensa que, sem professores não há licenciaturas (médicos, engenheiros, arquitetos, advogados) nem cursos profissionalizantes, nem profissionais.

No início de um novo ano letivo, há sempre um momento de esperança e expectativa de que as mudanças vão ser boas e são para ficar. No entanto, o começo das aulas continua a enfrentar, desde há tempos, diversos desafios que refletem as mudanças estruturais, económicas e sociais pelas quais o sistema de educação tem passado.

Um dos maiores problemas é a falta de professores qualificados e em número suficiente para suprir as necessidades das escolas. Isso já não é novidade. Atualmente, quem quer trabalhar na área da educação (com salários baixos, longe de casa, condições de trabalho desafiadoras, dificuldade de recrutamento, desinteresse pela carreira...)? Essa carência compromete não apenas a qualidade do ensino, mas também a organização das turmas, o cumprimento do currículo e o bem-estar dos alunos e docentes. Como resultado, lá vêm os professores substitutos, a contratos temporários, ou até mesmo à realização de aulas sem o número ideal de docentes, o que prejudica o processo de aprendizagem.

E, para agravar as coisas, saem ordens estúpidas (desculpem mas não posso considerar isto de outra forma). Só entram no IRS os manuais escolares e os materiais vendidos nos estabelecimentos de ensino. As mochilas,  material de escrita ou desenho como lápis, canetas, réguas, por exemplo, ficam de fora a não ser que sejam comprados nas papelarias da escola ou em estabelecimentos diretamente relacionados com a educação. E, se for como no tempo em que eu lá andava (desde 2018), todos esses materias tinham de ser comprados a empresas do estado e o material era de fraca qualidade made in china. Se for no supermercado, tem de ter fatura própria. Mas alguém com um T na testa metia mercearias nas contas da escola? Já não digo nada. Acho que desde o Covid o pessoal estupidificou.

Este ano, o início ainda foi mais agravado pela ignorância do que vai acontecer ao Plano Nacional de Leitura. Criado para promover o gosto pela leitura, melhorar as competências de leitura e escrita, e estimular o acesso à cultura através dos livros em todas as idades, a promoção da literacia em Portugal tem enfrentado desafios ao longo dos anos, incluindo cortes orçamentais, mudanças de prioridades políticas, e dificuldades na implementação em algumas regiões.

Há quem diga que, devido às restrições financeiras e às prioridades atuais, o programa possa ser suspenso ou encerrado. Há quem considere e muito bem que a leitura deve continuar a ser uma prioridade, visto que é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento cognitivo, social e cultural dos jovens. Assim, o debate gira em torno da continuidade do programa e a sua adaptação às novas formas de leitura , impostas pela utilização dos recursos digitais. O PNL garante que todas as crianças e jovens tenham uma formação de qualidade e desenvolvam competências para participarem ativamente na sociedade. Sem leitura, não há escrita. As bases são dadas pela leitura.

As bibliotecas escolares desempenham um papel vital na promoção da leitura, do acesso à informação e ao conhecimento, e na criação de ambientes de aprendizagem estimulantes. Desde a sua implementação, a rede de bibliotecas escolares tem sido uma ferramenta importante para fomentar o interesse pela leitura e pelo estudo, além de oferecer recursos que complementam o currículo escolar.

Porém, com a crise financeira e os cortes orçamentais, muitas dessas bibliotecas têm enfrentado dificuldades na sua manutenção, modernização, e na contratação de profissionais qualificados. Quem manda fará uma barbaridade dessas? Fechar as bibliotecas, unidades fundamentais para a aquisição de conhecimentos, para recreação, para ocupação de tempos livres e para a formação dos alunos?

Por outro lado, há também esforços para revitalizar e modernizar as bibliotecas escolares, uma no cravo outra na ferradura,  incorporando recursos digitais, promovendo atividades culturais e de leitura, e envolvendo a comunidade local. A discussão atual centra-se na necessidade de garantir a sustentabilidade dessas bibliotecas, que depende de fatores como a disponibilidade de recursos, o impacto na comunidade escolar, e as políticas educativas adotadas pelos governos.

E, neste cozinhado a que faltam alguns temperos, aí vem o principal: os telemóveis. Apenas pergunto: para que precisam os alunos de telemóvel dentro do horário escolar? Se se magoam a escola resolve, se precisam de alguma coisa, a escola resolve...

Andei na escola como toda a gente que me lê. Alguma vez precisamos de telemóveis para conversar com os colegas? Os alunos saberão o que é o mata, o que é o lencinho vai na mão, o que é saltar ao eixo, o que é o jogo da macaca, o que é conversar?

Um dia, vi dois alunos sentados num banco, ambos a teclarem. Meti o bedelho. Sabem o que estavam a fazer? A falar um com o outro e sentados no mesmo banco e a utilizarem aquela linguagem truncada que não entendo nem pretendo entender.

Para mim, os telemóveis ficavam em casa e, outra coisa: só os alunos com mais de 14 anos deveriam ter essas máquinas infernais.

Há um estudo que diz que 17% dos adolescentes estão dependentes do smartphone, o que significa baixo autocontrole e problemas emocionais. Sem eles, há mais interação entre os jovens, mais atividades ao ar livre, maior empatia entre os pares. E se, como é natural, surgirem conflitos, estes são facilmente controlados. Uma zanga entre amigos é saudável.

Reduzam as ferramentas digitais às aulas ou projetos que envolvem o uso responsável de telemóveis, promovendo a alfabetização digital e o desenvolvimento de competências para o uso ético e crítico das tecnologias. No fim, enfiem-nos num saco e distribuam-nos à saída das aulas.

Concluindo, é fundamental que as escolas possam continuar a ser locais de aprendizagem, cultura, e crescimento pessoal, formando cidadãos críticos, criativos, e capazes de contribuir positivamente para a sociedade, se se priorizar a formação e valorização dos professores, a manutenção e modernização das bibliotecas escolares, e a criação de políticas que promovam o uso responsável das tecnologias. A participação ativa de pais, professores, responsáveis políticos, e da comunidade em geral é essencial para construir um sistema mais justo, inclusivo, e preparado para os desafios do século XXI.

E não falei da escrita que anda pela rua da amargura...

Chamem escritores às escolas!

Chamem-me também para fazer Oficinas de Escrita Criativa!