THE HUMAN LIBRARIES – As Bibliotecas Humanas
Para não me afastar do tema «Educação, Leitura e escrita», vou falar de uma iniciativa que está a ter um grande êxito, nos países que costumam estar na linha da frente da educação, os nórdicos.
Agora decidiram tomar medidas para os idosos. Cada vez há mais gente muito válida aposentada ; por isso, o aumento do tempo de serviço tem a ver com o aumento da esperança de tempo de vida, que subiu cerca de vinte anos. Nunca se viu tanta gente a utrapassar a fasquia dos 100 anos e com a cabeça a funcionar em condições. É uma pena que sejam trancados em centros de dia ou em lares da terceira idade.
As livrarias humanas, também conhecidas como Human Libraries, são iniciativas sociais e culturais que transformam pessoas em “livros vivos”, permitindo que as outras pessoas — os “leitores” — conversem com elas para conhecerem as suas histórias, as suas experiências e as suas perspetivas de vida.
O projeto apareceu na Dinamarca, no início dos anos 2000, já existe na Noruega e o conceito ganha cada vez mais importância na vida quotidiana atual, marcada pela desinformação, pela proliferação das Fake news (notícias falsas) propaladas pela Inteligência Artificial e pela dificuldade crescente de estabelecer diálogos empáticos.
Hoje, 14 de novembro, fiquei horrorizada com o discurso do laureado pelo Prémio Nobel (Química e Física), atribuído ao Pai do desenvolvimento da IA por ter resolvido problemas de natureza biológica alertando para os perigos que daí advêm, pois o que inicialmente se propunha resolver os problemas urgentes neurológicos, de repente, foi ferramenta repressiva para os países que os utilizam como medidas de vigilância maciça. Daí à construção de armas mortíferas que decidam quem deve morrer e quem deve viver é um passo. E quando os seres que forem criados forem mais inteligentes que os humanos, até que ponto poderemos ficar no controlo? Tudo depende das companhias e do seu foco de interesse: o bem-estar humano ou o lucro? Se tudo caminhar como até agora, os países que mantêm a supremacia são os que mandam no mundo. Não estamos à beira de uma quarta guerra mundial, o conceito tal como existe, porque esta será subreptícia, utilizando as máquinas e a biologia. Todas estas mortes silenciosas e aterrorizadoras que se têm visto, principalmente de jovens, não têm explicação lógica. Uns apontam para o grande potentado da indústria farmacêutica que «não quer curar ninguém, quer apenas remediar para que haja sempre pessoas doentes, e as doenças não acabem»; outros para essa grande ameaça visível, que avança a passos agigantados para tomar conta do mundo e escravizar o homem- a IA.
De regresso ao tema original: as «bibliotecas humanas». A criação de espaços seguros, nos quais os indivíduos possam partilhar vivências autênticas, derrubando preconceitos e promovendo a compreensão mútua, é uma realidade lá, no Norte gelado, porque não o há de ser cá?
Cada “livro vivo” representa uma identidade e um desafio particular. Poderia ser um emigrante, alguém que vive com uma condição de saúde específica, um profissional de uma área pouco conhecida, alguém que enfrentou discriminação ou superou situações-limite. Essas pessoas idosas falariam /falam das suas fontes de conhecimento humano inerente ao seu eu ou ao eu adquirido. Diferente de uma palestra formal ou de um discurso preparado, a conversa numa livraria humana é espontânea e orientada pelas perguntas do leitor. O diálogo personalizado permite que se explorem nuances e sentimentos que dificilmente surgem em contextos mais rígidos e com mais públco. Ali as pessoas trocam impressões e aprendem a aceitar a opinião dos outros. Infelizmente, estes primeiras tentativas destinam-se às pessoas idosas , mas poderiam num futuro próximo levar os idosos às escolas pera se estimularem conversas intergeracionais.
Outro aspeto central é que o encontro não beneficia apenas o leitor, mas também o «livro vivo». Muitos participantes relataram/ relatam que a experiência os ajuda a resolver e desembrulhar as suas próprias histórias, transformando situações de vulnerabilidade em instrumentos de diálogo. Ser ouvido com respeito e curiosidade pode fortalecer a autoestima e criar um sentimento de pertença, especialmente em comunidades marginalizadas. Ao partilharem as suas vivências, os «livros vivos» também aprendem com as reações e dúvidas dos leitores, daqueles que os leem, percebendo que a sua história tem impacto e pode estimular mudanças reais.
As «livrarias humanas» contribuem para o desenvolvimento de competências sociais essenciais, como a escuta ativa, a empatia e a comunicação intercultural e (quem dera) a intergeracional. Num mundo cada vez mais digital, no qual as interações são frequentemente rápidas e superficiais, essas iniciativas valoriza(ria)m o encontro humano autêntico. Trata-se de um convite para acalmar, prestar atenção e reconhecer a complexidade das pessoas à nossa volta. Quando se abre espaço para ouvir o outro, amplia-se não apenas o conhecimento de cada um, mas também a capacidade de conviver com a diversidade. Num tempo em que a sociedade enfrenta tantos desafios de convivência, iniciativas como esta lembram que a verdadeira sabedoria está muitas vezes escondida nas histórias de vida das pessoas comuns.
Já todos ouviram a frase "Quando um velho morre, é uma biblioteca que arde", expessão popularizada por pensadores como Amadou Hampâté Bâ que realça a perda de conhecimento e tradições quando um idoso falece, especialmente em sociedades onde a transmissão oral é predominante.
Com um espírito um pouco diferente, li agora que a Livraria Lello e o Movimento Reformers materializaram essa interação e amizade num clube de leitura que, durante um ano, vai juntar seniores em mais uma ação de combate ao isolamento. A sessão inaugural foi esta terça-feira, 17 de novembro, e arranca oficialmente, em janeiro. E o primeiro livro é «O Feiticeiro de Oz». Desenvolvem ainda outras atividades.
Na mesma linha de pensamento, as Universidades Séniores dos Clubes Rotários promovem atividades para promoverem a interação e a amizade entre os mais idosos, o combate ao isolamento, embora o espírito não seja bem o dos «Livros vivos».
«Quando um velho morre, é uma biblioteca que arde». Talvez esteja aí um bom ponto de partida. Vou propor ao Rotary Club essa atividade, a dos «livros vivos». Começaremos com a conversa generalizada ou dialogada sobre as vidas que constroem/ construiram histórias e poderemos caminhar para o Clube de Leitura.
O que eu gostava mesmo é que estas «Bibliotecas Humanas» entrassem nas escolas e transmitissem os conhecimentos de há muito tempo atrás. Muitas vezes, comento nas minhas partilhas que me sinto «jurássica», porque falo de coisas que ninguém sabe, porque vim da cidade para um ambiente completamente diferente, porque passaram pelas minhas mãos muitas gerações de jovens que, não se dão a conhecer, nem com um PRESENTE. Exigi demais, como é costume, mas o sonho é o último a desaparecer e, enquanto houver crianças e sonhos, o mundo pula e avança, como dizia o poeta.
Que a positividade exista na alma sempre! Já agora, lanço o desafio: punhamos a «Terra onde a Lua fala», a contar histórias e a ser uma enorme «biblioteca humana viva». E tem tanto que falar! Quem, da nova geração, sabe como era feito um talher? Caldas das Taipas não é a capital das Cutelarias? A Cutipol não recebeu ultimamente um prémio mundial?
Fiquem a pensar...