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Sobre a origem do vidro

Gonçalo Cruz
Opinião \ quinta-feira, março 07, 2019
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Não terão sido os Fenícios os responsáveis pela chegada dos primeiros objetos em vidro ao Noroeste da Península. O fenómeno verificou-se aqui através da ação dos mercadores do sul da Ibéria.

Contas de colar em pasta vítrea, recolhidas na Citânia e em Sabroso. Colecção da SMS.

A Citânia de Briteiros e o Solar da Ponte têm recebido ultimamente, por iniciativa do Município de Guimarães, a visita de todos os alunos do 5.º ano do Concelho. Um dos aspetos focados nestas visitas integra os programas de História apenas neste ano de escolaridade: a "invenção do vidro" por parte dos Fenícios. Esta é daquelas ideias tradicionais que, pese embora a necessária relativização étnica acerca do que serão os Fenícios e os Cartagineses (também conhecidos como Púnicos), parece confirmar-se. Contudo, é também importante referir que os Fenícios poderão ter sido os principais responsáveis pela comercialização deste produto, que era fabricado em diferentes pontos do Próximo Oriente, nomeadamente no Egipto.

Não terão sido os Fenícios os responsáveis pela chegada dos primeiros objetos em vidro ao Noroeste da Península. O fenómeno verificou-se aqui através da ação dos mercadores do sul da Ibéria, particularmente da cidade de Gadir (atual Cádiz), que integrava o sistema de comércio marítimo sob o controle da colónia fenícia de Cartago, na atual Tunísia. Este ainda incipiente intercâmbio de produtos trouxe o vidro, e a sofisticação que ele representa, aos castros do Norte da Península, ao longo do primeiro milénio antes da nossa Era.

Os objetos em vidro recolhidos na Citânia e em Sabroso, atribuíveis ao período pré-romano, consistem apenas em contas, de formatos e colorações diversas, usadas em colares. No fundo, objetos que hoje colocamos no domínio da bijuteria, mas que, na Idade do Ferro, sendo objetos exóticos importados de terras longínquas, reforçavam o status social de quem os exibia. Não é de estranhar que estes colares tivessem também uma conotação de boa sorte, como parecia ter toda a simbologia na Idade do Ferro, original ou importada...

No período Romano o vidro teria já uma utilização alargada, com uma multiplicidade de objetos vítreos, muitos já fabricados nesta região, a partir de vidro em bruto importado.