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Ser escritor não é uma profissão?

Teresa Portal
Opinião \ sexta-feira, novembro 08, 2024
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Já repararam que, em todo o lado, se paga ao padeiro, ao carniceiro, na farmácia, no hipermercado, no hospital, ao médico, ao veterinário… E ao escritor? Nada. Ele não faz nada! Não é ninguém.

Levantei-me mais cansada do que quando me deitei e senti-me uma autómata, enquanto me arranjava. Os olhos podem ou não ser o espelho da alma (como muitos asseguram e outros contestam), mas o rosto com que andamos é, seguramente, o espelho do sono que tivemos. Com olheiras e papos sob os olhos, estou com uma daquelas caras que metem medo ao susto e refletem, à primeira vista, uma noite mal dormida. Agora já se contam por décadas.

E isto é o que faz ter entrado nos -enta há quase três décadas. Os sessentas não são iguais aos trintas, eu é que ainda não me convenci disso! Que fazer? «Quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita» e podia continuar a desfilar provérbios sobre as pessoas “viciadas” no trabalho. SIM, porque escrever é trabalhar.

Dizer não em algumas situações pode ser a diferença entre a sanidade mental e a caixa dos antidepressivos com visitas programadas no tempo ao psiquiatra ou psicólogo. Quando se começa a “patinar” na estrada escorregadia da vida, o mais certo, para quem não tenha prática e jogo de cintura, é uma queda aparatosa com consequências mais ou menos graves. Ora, como o sentido de equilíbrio é muito apurado quando se é jovem, todas as piruetas são possíveis e permitidas e mesmo os trambolhões são menos perigosos. Duas décadas depois, por muito ginasta olímpico que se tenha sido ou seja, os reflexos diminuíram, a elasticidade não é a mesma nem a consistência óssea e as das ao ortopedista são obrigatórias. Todos se vão lá remendar. Mesmo os que apenas teclam no computador e, mesmo aí, ganham tendinites, hérnias cervicais, lombares, com posturas erradas… Por exemplo: no computador, os braços devem estar esticados na mesa de trabalho em vez de pendurados. Sabia?

Somos realmente uns animaizinhos muito complexos e quando se desvenda um pequeno mistério sobre a nossa constituição física e psíquica, novos caminhos labirínticos surgem. A Ciência e a Tecnologia levantam hipóteses, descobrem soluções e forçam a humanidade a avançar à medida que vão evoluindo. Até quando? Para onde?

Quanto mais se descobre sobre o corpo humano mais há para descobrir. Com as injeções da Covid-19, as opiniões dividem-se. Ninguém se entende. O certo é que nunca houve tanta doença autoimune como atualmente. Os medicamentos contribuíram para isso? Talvez! Mas a coincidência existe.

Já repararam que, em todo o lado, se paga ao padeiro, ao carniceiro, na farmácia, no hipermercado, no hospital, ao médico, ao veterinário…

E ao escritor? Nada. Ele não faz nada! Não é ninguém.

Não é por acaso que os professores / escritores, no meu caso, começam a sentir um cansaço difícil de superar, quando a idade começa a pesar. É um esgotamento que vem de dentro, que se sente nos dias como o de hoje, tornando-o ainda mais cinzento e macambúzio. Importa é não descarrilar de vez, desabafar, gravar uns textos, distrair o espírito e esperar por um dia de sol aberto, risonho e bem-disposto, que nos leve o ego para as nuvens e nos eleve a autoestima.

Que comecem a dar valor à escrita e à leitura, porque para se ler, tem de haver quem escreva. Os livros levam-nos para outros mundos e retêm as histórias. Não há nenhum delete. Permanecem milhares de anos, como comprovam as descobertas. Então, deem-lhes vida. Chamem os escritores às escolas!

O futuro é uma incógnita. Avançamos numa escuridão quase total, às apalpadelas, hoje como ontem, em todos os campos. E a ficção científica deixou de ser ficção. Já há autómatos a fazerem o trabalho humano. E os autómatos não ficam doentes. Mudam-se as peças e pronto.

O homem é certamente a maior maravilha do mundo, a que não pode ser jamais superada ou igualada.

Porém, até quando? Acabaremos escravos das máquinas que estamos a criar?

E eu que ia falar sobre a importância do silêncio. Fica para a próxima.