Ser comunicador...
Palavras sábias. É triste que as pessoas saiam de uma conferência, sinal de que não lhes está a agradar… Ora, nem sempre isso é verdade. Quantas vezes a conferência até é interessante, mas uns quantos preferem sair para perderem tempo em atividades ocas e sem sentido como seja ir conversar para o café depois de assinarem a presença ou beberem uma cerveja conforme a estação do ano em que se encontram.
Contudo, há ocasiões em que as palestras são uma seca, um martírio para quem não quer fazer papel de mal-educado e simplesmente sair. Abençoados os que conseguem dormir nessas ocasiões, apesar desses dormirem sempre, basta sentá-los numa cadeira mais ou menos confortável que não são esquisitos! Muitas vezes me interrogo como é que essas pessoas (invariavelmente homens) conseguem dormir nas posições mais incómodas e em situações que não lembram ao diabo. Parece que estão a dever ao sono…
Há realmente palestras que não interessam a ninguém por demasiado teóricas ou teorizadoras ou por demasiado eruditas. Os palestrantes não descem ao nível do público, não têm poder comunicativo, não captam a atenção de ninguém. Nessa altura, tenho pena do conferencista porque, tal como a mosca, continua a teimar na mesma tecla, continua a ser uma seca, em suma, não se enxerga, não faz a mínima ideia de que está a “chatear”qb. Quem não faz a mínima ideia de que é chato vai sê-lo toda a vida, pois no fim todos o aplaudem educadamente. Que vai acontecer? Da próxima vez, atuará da mesma maneira- chateará uma nova plateia que abanará o pé, tamborilará com os dedos no braço da cadeira, bocejará, espreguiçar-se-á, meterá as mãos pelo cabelo, limpará os óculos uma e outra vez, enfim, fará toda uma série de ações que qualquer um mais avisado poderá ler e interpretar como sinais de fadiga, de aborrecimento, porém, aquele “chato”, que não sabe que o é, não perceberá nada e julgar-se-á uma sumidade. E até pode ser! Pode ser competente na chatice!
Quando, pelo contrário, estamos perante um comunicador, a plateia ri, participa, aplaude, fica como que pendurada das suas palavras, sorri, inclina-se para a frente… até se esquecendo de falar com o vizinho do lado (por muito charmoso que ele ou ela possam ser!).
O público bebe as palavras que lhe são dirigidas e, percebe-as, já que o comunicador se preocupou em estudar o público que vai enfrentar e está atento aos sinais para que não deixem de o seguir, para que não escapem da corrente das suas palavras.
Também os professores assim são. Os entusiastas provocam entusiasmo, contagiam os alunos com a sua disposição em chegar mais alto e mais longe; os outros provocam aborrecimento, não predispõem para o estudo, porque só veem problemas em todo o lado menos neles próprios. São maçadores, aborrecidos, monótonos. E ninguém aguenta a monotonia nem o tom monocórdico.
Nunca esqueci uma palestra a que assisti na UM. O seminário que o professor doutor ia dar era sobre um tema qualquer da área do Português e tinha a ver com a Formação de Professores.
Subiu ao estrado, ligou o projetor e apresentou um slide cheio de pontinhos brancos num ecrã preto. Já todos nos interrogávamos sobre o que seria aquilo, quando se saiu com a frase: “Nós estamos aqui”. E apontou um dos pontos. Prendeu de imediato a assembleia. O slide era o universo e depois foi passando uma série deles em que se aproximava do tal aqui: a Via Láctea, o sistema solar, a Terra, a Europa, a Península Ibérica, Portugal, o Norte, o Minho, Braga, a UM, o anfiteatro. Acabou com uma boa gargalhada da assistência. Tinha-a cativado desde logo e, ao longo da palestra, foi exigindo a participação do público da direita, da esquerda, da frente e de trás. O assunto até poderia ser uma seca e alguns tinham sido obrigados a inscreverem-se porque, não sendo professores, eram alunos dele e tinham uma cadeira que tinha a ver com o tema explorado, mas até isso ele apontou, tendo toda a gente autorização para sair menos os que estavam por obrigação. Nova gargalhada.
O riso esteve presente ao longo das três horas do seminário que orientou e, muito sinceramente, lamentei os alunos que, tendo um professor como aquele, não lhe davam o devido valor. Ele era um comunicador nato.
Conheci alguns ao longo da minha vida, o Vitorino Nemésio e o seu programa “Se bem me lembro…” que fez a delícia da minha adolescência e outros…
Os últimos, porque acredito nos jovens, nomeadamente nos que estudam e se superam foram o meu filho Carlos Pedro, que me encantou com o discurso de tomada de posse do Rotaract Club de Caldas das Taipas sem papel e o outro, o past presidente do Interact, atual Representante Distrital do Interact 2021-22, que bebeu os ensinamentos recebidos.
Que maravilha ver estes comunicadores em ação!