Saúde Mental e Educação Emocional
A saúde mental de crianças e adolescentes aflige a humanidade de uma maneira global. Há cada vez uma maior procura de psicólogos e de terapeutas disto ou daquilo, porque os jovens não foram criados para aprenderem a fazer face aos problemas que os afligem e as depressões e as crises de ansiedade aumentam exponencialmente. Que fazer?
Não acredito que o problema esteja na pressão das aulas ou do trabalho, das redes sociais ou até das expectativas que os pais possam ter em relação aos seus educandos.
Acho que o problema está precisamente na abstenção parental. Chega-se a exageros extremos. Uns porque são demasiado opressores e outros porque demasiado permissivos. E, no fim, entrega-se à escola o papel de EDUCAR, porque já não sabem como lidar com a situação.
Como é que a escola pode educar, se a maioria das horas dos jovens é passada em casa? Vão dizer-me que, agora, estão cada vez mais assoberbados com projetos disto e daquilo... É verdade, há demasiados projetos e esquece-se um tempo muito imprtante para os jovens- o tempo livre.
Livre sem maquinetas infernais que os formatam, livre sem aulas de balé e de música (para bem do ego dos pais, não dos filhos!).
Ter uma atividade fora da escola chega e sobra: seja música (essencial ao ser humano, dizem as novas descobertas científicas), seja balé ou patinagem artística sobre rodas (a música também la está), seja o Rope Skipping (que nasceu nesta terra), mas só uma. Os pais não são ou não devem ser choferes dos filhos para andarem daqui para ali e dali para acolá.
Diante desse cenário, já se fala em incluir a Educação Emocional no currículo dos alunos. Por amor de Deus, resumindo numa única palavra, disciplina se quiserem, Educar para a Cidadania, Os Alunos já têm Educação para o Ambiente, Educação para a Saúde (não está aqui incluída a emocional?), Educação Financeira (no papel está, se foi concretizada ou não, é uma coisa bem diferente), Educação para a Cidadania (esta não é o guarda-chuva que deveria abrigar todas as outras?).
Querem ensinar os meninos a reconhecerem e saberem gerir as suas emoções, a reconhecerem a empatia e a necessidade de interagirem.
Muito bem. Então, comecem por lhes tirar os telemóveis, os i-pads e os i-pods, os tabletes e os computadores e, talvez, os alunos deixem de funcionar como robôs. Ponham os alunos a escrever, a ler e, atrevia-me a dizer , a contar.
Uma reportagem da TV, há uns anos, à porta da Faculdade de Engenharia, perguntava aos futuros engenheiros a tabuada. Quanto dá 7x8, pr exemplo, e ficavam enrascados. Não sabiam. Porquê? As malditas calculadoras! Hoje, até para somarem 2000+500 utilizam a calculadora do telemóvel. E não estou a brincar, estou a relatar um caso que se passou comigo. E depois para saber o troco que me tinha de dar, foi o cabo dos trabalhos, porque não sabia subtrair.
Ainda publiquei no outro dia uma foto do Jornal Escolar O Pequeno Jornalista em que se falava da Educação Emocional, já em 2001. Está a ser feita ou não? As escolas têm psicólogo, agora. Qual o seu papel?
Saber lidar com as emoções é uma ferramenta essencial para lidar com os desafios da vida quotidiana. Se nem os adultos sabem! Cada dia é um dia. Não há parâmetros, não há regras. O azul é azul mas tem uma infinidade de tonalidades diferentes.
A interação melhora o ambiente escolar a começar pela interação entre os professores e restante pessoal. Se a escola funcionar como uma família, tudo corre sobre rodas e os comportamentos agressivos, que sempre existiram, desaparecem. Os alunos apenas replicam o que vêm em casa. Pode não ser agressão física, mas é o bullying verbal com consequências bem mais nefastas. E esse sempre existiu, só que se chamava «dor de cotovelo».
E depois aparece essa conjunção que sempre detestei – SE.
Se na escola houver um ambiente de tolerância, de respeito, de regras elementares da boa educação como «bom dia», «Boa tarde», ´desculpe», «foi sem querer», «por favor», «obrigada»;
Se houver empatia em relação aos colegas, aos professores, aos funcionários;
Se o exemplo vier de cima, da própria Assembleia da República, da forma como se dirigem ao Presidente da República «Viste o Marcelo...»? Quem? O teu colega?, ao professor de outra disciplina...
Se o Português e a Matemática não vierem em primeiro lugar e desculpem-me todos os outros, mas o Português está na base da aprendizagem de tudo. Não há engenheiros, arquitetos, advogados, médicos, professores... se não souberem português.
Se os professores detiverem a autoridade dentro da aula reconhecida pelos pais e pela escola, se as associações de pais souberem fazer o seu papel (e aí mando-os lerem a legislação que diz respeito às associações de pais), se a Câmara cumprir o seu também e o ministério, essa entidade cada vez mais distante da Educação da mesma forma;
Se todos estes SES condicionais coexistirem, então haverá um clima escolar mais positivo, um melhoramento no desempenho académico, uma vez que estudantes emocionalmente equilibrados estão mais aptos a concentrarem-se e a aprenderem.
Saiamos da cauda da Europa e demos as mãos aos que já deram provas de comandarem a educação. Se a Suécia e a Finlândia já acabaram com os computadores, tabletes, telemóveis e afins, porque é que continuamos, moscas tontas, a apetrecharmos as escolas com tecnologia que, dentro de dois anos ou menos, está ultrapassada? Gastar dinheiro para quê?
Que sejam os manuais escolares, os velhos cadernos e esferográficas e os quadros com marcadores as ferramentas principais com a ajuda da Internet, quando necessária.
Dizia-me no outro dia um professor que, agora, os alunos com o ChatGTP apresentavam os trabalhos sem sequer os lerem.
Não eram meus alunos , porque se deteta com facilidade o que é de um aluno e o que é de uma máquina. Não estamos a falar de emoções? Pois é isso que falta aos textos escritos pela máquina. Sensibilidade estética, emocional.
Cuidar da saúde mental dos jovens é mais premente do que possam pensar, porque num mundo hostil, globalizado e competitivo, baseado no «salve-se quem puder», em que impera a lei da selva, a habilidade de se saber comunicar de modo eficaz, de resolver conflitos e de lidar com as emoções são diferenciais marcantes no mercado de trabalho.
Ao ensinar estas competências desde cedo, as escolas e os pais estão a cuidar da saúde mental dos alunos/filhos, mas também a investir no seu sucesso profissional.
Dizem que os educadores não se sentem preparados para abordar questões emocionais. Verdade. Tanto se aplica aos professores como aos pais. Os miúdos têm de saber desde sempre o que significa um NÃO. Se é não hoje, deve ser também amanhã. E esse é outro dos problemas. Não se tomar sempre a mesma atitude face a um determinado problema.
Não vamos sobrecarregar a escola e os alunos com mais uma Educação com um nome todo pomposo. Que sejam os Diretores de turma, os pais, os professores, como um todo, a detetarem as falhas neste ou naquele aluno. Não é por acaso que um aluno pega numa arma de fogo e entra aos tiros pela escola e mata quem lhe aparece pela frente. Esse aluno deu sinais. Só que todos preferiram olhar para o lado, para não se incomodarem, para não terem de informar os pais, a polícia (sim, isso mesmo, a polícia)...
É essencial que as políticas educacionais reconheçam a importância da saúde emocional e promovam a formação contínua de pais, de professores e de outros educadores (catequistas, psicólogos, terapeutas...) nesse campo.
Em suma, a educação emocional é uma necessidade urgente e um investimento no futuro. Ao priorizar o bem-estar emocional dos jovens, vamos criar uma sociedade mais saudável, empática e preparada para os desafios do século XXI. É hora de se fazer uma grande reflexão sobre o que realmente significa educar e de reconhecermos que o desenvolvimento emocional é complementar do sucesso académico.
E não passa pela criação de uma nova disciplina - Educação Emocional.
Não esvaziem a Educação para a Cidadania!
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