Sabedoria popular e o Covid-19
O tempo não há meio de encarreirar. Queixam-se de quê? “Março, marçagão, de manhã inverno, à tarde verão”; “abril águas mil” e “mau vai o maio em que a velha não come as cerejas ao borralho”, ou seja, ainda vamos ter muita chuva e muito frio pela frente. Não esqueçamos que a Senhora das Candeias riu e, por isso, o inverno ainda está para vir, o que é mau porque o vírus adora o frio e detesta o calor.
Adoro esta sabedoria popular a que o passar dos séculos deu estatuto e relevância. Infelizmente, já são poucos os sábios, pois vão desaparecendo da nossa paisagem. Lavrar a terra caiu em desuso, é muito cansativo e não compensa, pelo que só o pessoal mais velho, formado por aqueles que vão teimando em permanecer nas nossas aldeias, continua a lançar aos ventos os seus conhecimentos intemporais.
E, reconheçamos a verdade, se não fossem as escolas e o permanente buscar as raízes da comunidade, estudar as tradições, os costumes e usos de todo um povo de cada uma das respetivas regiões, muito do nosso património imaterial teria sido perdido já há muito tempo.
Agora com a Covid-19, a humanidade viu-se perante uma pandemia em que, talvez pela primeira vez há muito, todos estiveram iguais. A doença atacou pobres e ricos, moradores em palácios e sem-abrigo, raças de todas as cores, países com grande poder económico ou à beira da bancarrota… Estamos todos no mesmo saco e sem vislumbrar o extermínio do que nos atacou que grassa pelo planeta e ameaça destruir toda a humanidade e pôr de rastos a economia mundial. E estas doenças, provocadas ou não por mão humana, hão de dar cabo de todos os habitantes do planeta.
Quem não se recorda do filme “A Guerra dos Mundos”, um filme de Steven Spielberg com Tom Cruise, em que a terra é atacada por alienígenas que vão destruindo tudo e, quando a humanidade já desespera, eles acabam por sucumbir infetados por um simples vírus terreno que os atacou e para o qual não têm defesas.
Está a acontecer essa guerra, só que os alienígenas somos nós próprios (com a manipulação genética e biológica nos nossos laboratórios) ou terá tido origem nos animais? Incógnita, pelo menos para nós todos que não pertencemos a uma elite. Não pretendo seguir por teorias da conspiração (que talvez o não sejam e creio que há mão humana nesta tragédia!), mas estamos todos confinados em casa, ao nosso concelho, com uma Páscoa festejada a “solo” em que a família se verá pelo Skype, pelo zoom, pelo whatsapp ou apenas se escutará. E quantos não terão hipótese sequer de falar com filhos e familiares que estão longe!
Tanto medo de uma guerra nuclear, quando se causam estas pandemias num abrir e fechar de olhos. Num mês, a maior parte dos habitantes de todo o mundo está fechada em casa, a produção baixou drasticamente, pois são poucos os que trabalham a tempo inteiro, há o teletrabalho e muitas das coisas que achávamos imprescindíveis acabaram por não ser precisas. Acabaram os eventos de toda e qualquer espécie, concertos, jogos de futebol, teatro, ópera, cinema, até os Jogos Olímpicos, adiados um ano. E o depois… é uma grande incógnita.
A prisão domiciliária é um fardo para muitos, principalmente, para os jovens. Numa altura destas, é preciso pôr em prática alguns dos exercícios que eles mais detestam: pôr a leitura em dia (há muitos sites com livros online); escrever contos, histórias, poesias; jogar online em grupo (o vírus ainda não se transmite pela Internet) ou sozinhos; há alguns jogos interessantes (sugiro o Elevate para quem quiser melhorar o Inglês); há as sopas de letras, as palavras-cruzadas,…; jogos de cartas; jogos de tabuleiro; andar a pé (sem sair de casa) ou nas redondezas; fazer ginástica; refletir; descansar; dormir;…
E depois, há a idiotice dos que ainda não compreenderam o que significa “estar de quarentena”, “fique em casa” que se metem no carro para irem para o Algarve ou para irem passar férias só Deus sabe onde. Estes deviam ser presos e pagar pesadas coimas. Estão a gozar com a vida alheia? Já estão uns quantos presos e deveriam estar muitos mais.
Como tenho dito nos comentários que vou fazendo nas redes sociais (outro lugar onde ocuparem tempo!), o Covid-19 surgiu numa altura em que muitos países têm à frente pessoas que não raciocinam… e levaram a isto… e não foi só num país nem em dois… É incrível a quantidade de gente que tem postos importantes, relevantes e que tomam atitudes completamente idiotas…
Não falei propositadamente da escola e das universidades fechadas e com os alunos a fazerem os testes e fichas online e das aulas a serem dadas em plataformas e… mas não concordo que este seja um ano zero. Os jovens não têm culpa e não devem ser prejudicados. Os iluminados que puxem pela cabeça e encontrem soluções, mesmo para os não privilegiados que não têm Internet nem computador.
E, por incrível que pareça, nós estamos mal mas o planeta está muito melhor! É possível ou não implementar algumas medidas? O vírus provou que é.
Espero que consigamos derrotar o maldito e que isso aconteça em breve, para se poder recomeçar a viver.
Cuidem-se! Fiquem em casa!