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Prometer “Dar Vida a Guimarães”? Então Comece por Cumprir a Lei

Daniela Caldas
Opinião \ terça-feira, dezembro 02, 2025
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As populações não precisam de slogans eternizados em estruturas metálicas. Precisam de líderes que demonstrem, na prática, o civismo que reclamam para os outros.

As eleições autárquicas de 12 de outubro terminaram há muito. Ainda assim, ao percorrer o concelho de Guimarães, continuamos a ser confrontados com outdoors do Partido Chega que insistem em permanecer onde já não pertencem. A campanha acabou, mas os cartazes ficaram. O slogan “Dar vida a Guimarães”, repetido em grandes letras, adquiriu agora um significado inverso ao pretendido.

Se a promessa era revitalizar o concelho, o mínimo que se esperava era respeito pelo espaço público e pelas regras que regulam a propaganda política. A legislação é clara: finda a campanha, os materiais devem ser removidos. Não é facultativo, não é simbólico, e muito menos um favor aos cidadãos. É um dever democrático.

O que se vê, no entanto, é uma prática que desmente o discurso. Esta permanência prolongada dos outdoors não “dá vida” a Guimarães; pelo contrário, degrada a paisagem urbana e transmite uma mensagem inequívoca: as regras servem para os outros.

E importa dizê-lo com transparência: quando um partido se afirma como defensor intransigente da ordem, da autoridade e do cumprimento rigoroso das leis, é particularmente grave que seja o primeiro a ignorá-las quando deixa de lhe ser conveniente. Não se pode exigir disciplina social pregando desatenção cívica.

Vai ficando. Porque não há pressa em desfazer a imagem criada para captar votos. Vai ficando. Porque, aparentemente, a visibilidade continua a ser mais importante do que a coerência. Vai ficando. E, ao ficar, denuncia a distância entre o que se promete em palavras e o que se pratica nos gestos.

Guimarães é uma cidade histórica, valorizada pela sua identidade e pela forma como cuida do espaço comum. Transformar esse espaço num repositório de propaganda fora de prazo não é sinal de dinamismo político. É sinal de oportunismo.

Dar verdadeiramente vida a Guimarães implica responsabilidade contínua, respeito pelos cidadãos e cumprimento das normas, mesmo quando ninguém está a aplaudir. As populações não precisam de slogans eternizados em estruturas metálicas. Precisam de líderes que demonstrem, na prática, o civismo que reclamam para os outros.

A política começa no detalhe. E neste detalhe, o Partido Chega de Guimarães está, claramente, em falta.