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Papa Francisco, dar sentido à vida…

João Daniel Monteiro Silva
Opinião \ quarta-feira, abril 23, 2025
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As Leis dos homens regulam (e bem) a nossa vida em Sociedade, as Leis de Deus não são um regulamento, são antes um guia para se encontrar o Amor e a Alegria.

Lembro-me como se fosse hoje… havia começado a trabalhar há pouco mais de 2 meses quando vi aquele cardeal desconhecido abeirar-se da varanda principal da Basílica de S. Pedro, acabado de ser eleito Papa, dizendo que vinha quase do ‘fim do mundo’. Não podia imaginar que, 12 anos volvidos, a profunda consternação pela sua morte me encheria de Alegria.

Nenhum (ou muito poucos) de nós, católicos anónimos do velho mundo, conhecíamos a figura. Cresci a olhar para o Papa S. João Paulo II como um evangelizador da Fé (quase como uma estrela), para o Papa Bento XVI como um intelectual e um Doutor da Igreja, pelo que não sabia o que esperar deste novo Papa e do que significava este seu vir do ‘fim do mundo’.

O que não sabia – nenhum de nós sabia – era que, com ele, viria um novo mundo à Igreja.

Já se conheciam e estavam diagnosticados muitos dos males da Igreja: a pedofilia à cabeça (a gula doentia e que, na sua forma mais maléfica, corroeu a Instituição), o ensimesmamento das hierarquias (não só da Curia em Roma mas até nas mais pequenas dioceses e paróquias – a preguiça de sair…), o estilo de vida (a luxúria tantas vezes desajustada), um sempre presente obscurantismo com as contas e os dinheiros (que tantas vezes cedem à ganância…) a indiferença perante a diferença (a soberba), o clericalismo não desaparecido (fonte frequente de injustificada ira perante o mundo das pessoas comuns) e ainda as guerras intestinas dentro da Instituição (reflexo da inveja corrosiva entre pares).

Para tudo isto eram precisas respostas… como são precisas ainda hoje, foram durante toda a História da Igreja e sê-lo-ão daqui por diante. Naquela noite de Março de 2013 ninguém sabia ou tinha respostas para isso e os desafios pareciam tão grandes e a tarefa tão hercúlea que só alguém vindo de fora deste mundo as poderia trazer.

O que não sabíamos (ou tantas vezes nos esquecemos) é que neste mundo há sempre respostas para os problemas. E essas respostas às vezes não são tão complicadas como à primeira vista parecem. Muitas vezes até, essas respostas são as mais simples e sempre estiveram ali mesmo à nossa frente.

A resposta do Papa Francisco foi humildade / sentido de serviço / amor ao próximo / alegria de viver. Ao fim ao cabo o Cristianismo e a Igreja são isso mesmo: o Cristianismo é sobre Amor e Alegria, a Igreja é serva humilde desse serviço ao próximo. O meu entendimento destes últimos 12 anos de História da Igreja resume-se nisso: um humilde serviço ao próximo – vivido na pobreza deste mundo – ancorado no Amor e na Alegria do Novo Testamento – a maior riqueza que vem de Deus.

A abordagem dos temas mais difíceis, a sexualidade, o direito ao aborto, o celibato, a ordenação de mulheres não são nada quando comparados com a missão última da Igreja: dar sentido à vida de cada um de nós, independentemente de quem somos: homens, mulheres, ricos, pobres ou remediados. Foi nisso que este Papado (aos meu olhos) se concentrou nestes últimos 12 anos.

Naturalmente que a Igreja tem uma doutrina, tem princípios, tem uma moral… mas essa doutrina, esses princípios e essa moral devem ser um guia de orientação para se viver na Alegria e no Amor de Deus, não um livro de execução testamentária de Leis que os Homens se impõem uns aos outros (com a chancela de Deus). Deus é infinitamente misericordioso, nunca nos podemos esquecer disso! As Leis dos homens regulam (e bem) a nossa vida em Sociedade, as Leis de Deus não são um regulamento, são antes um guia para se encontrar o Amor e a Alegria. Para mim, foi sobre isto este Papado e, naturalmente, ajudou a fortalecer a minha Fé. Porque criou pontes onde antes existiam muros, criou diálogo onde antes existia silêncio, despertou a Alegria onde antes havia tristeza, fez tudo para fazer brotar o Amor do coração daqueles que menos se importavam com Deus. É esta a missão da Igreja, ir ao encontro daqueles que se julgam perdidos por Deus e fazê-los lembrar que Deus nunca se esquece deles.

Nós, na velha Europa e no Ocidente em geral, com todas as nossas mordomias, frequentemente esquecemo-nos disso. Esquecemo-nos que dentro das nossas casas, nas esquinas dos nossos bairros, nos lugares mais recônditos dos nossos países, nas periferias pelo mundo fora há muitos ‘perdidos’ que precisam de ser ‘encontrados’. Esta foi a grande missão do Papa Francisco. Será, assim espero, a grande missão de quem o suceder e da Igreja Universal.

O luto pela sua morte rapidamente dará lugar à Alegria.

Alegria de vermos a Igreja pronta para uma nova etapa, com alicerces reforçados e prioridades bem estabelecidas para acudir aos esquecidos, aos pobres, aos pecadores, àqueles (a todos nós) que continuam a precisar do Amor e da Alegria de Deus.

 

23 de abril do ano da graça de 2025
João Daniel Monteiro Silva