Palavras Mágicas
Tal como os químicos colocados nos medicamentos curam o físico, as palavras têm o condão de curarem a alma, a mente.
E há palavras mágicas, poderosas, que abrem portas. Haverá outras que as fecham mas essas não são para aqui chamadas.
Que dizer da palavra OBRIGADO/A, tão pequena e tão rica em conteúdo semântico e com um poder enorme para abrir os horizontes que jamais sonharíamos poder tão facilmente franquear? O Português é a única língua em que essa palavra diz ao outro que estamos devedores da gentileza, do favor que nos faz ou fez. E não custa nada dizer e é tão bom ouvir.
Neste mesmo campo e com um poder ainda mais sólido, existe o PERDOA ou DESCULPA. “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti e nunca terás de pedir desculpa”. Mas, as faltas cometem-se e é importante que, desde cedo, o jovem reconheça o valor incalculável desse trissílabo precioso. Reconhecer os erros é um ato de humildade e de contrição, é retirar todo o peso da culpa que se lança para os ombros de alguém que, inocente, não tem de arcar com as consequências e, em simultâneo, carregar com a nossa culpa que o/a enche de amargura, de mágoa, de dor.
“Eu sei uma palavra mágica” disse o João na catequese. “Que palavra?” quis saber a catequista. “PERDÃO” responde muito sério o João, os olhitos verdes a brilhar na carinha redonda emoldurada por caracóis castanhos. Como é maravilhosa a ingenuidade das crianças! E como soube captar na perfeição o poder da palavra. Magia! Há realmente palavras mágicas, temos é de aprender a utilizá-las com frequência.
Na mesma onda, há outras expressões com grande peso social COM LICENÇA, POR FAVOR que, infelizmente, também estão a cair em desuso. Porquê? Porque é que as regras de cortesia e da boa educação deixaram de ser veiculadas? Fala-se tanto em Educação para a Cidadania. Sem querer ser saudosista e bater no ceguinho (que não vale a pena!), no meu tempo, todas elas saíam esporadicamente e todos (os bem educados, claro!) as diziam. A boa educação não se media pelo tempo que se andava na escola (e ainda bem, pois a maioria andou muito pouco!), via-se nos modos que as pessoas apresentavam no trato social e que revelavam muito do que se passava em casa.
A educação sempre coube em qualquer lugar, a qualquer hora, independentemente das pessoas. Agora, quando há um miúdo bem-educado (educado à antiga) que utiliza as tais palavras mágicas sobressai, pois estamos desabituados de as ouvir. A ordem é direta “Dê-me isto!” ou “Faça-me aquilo!” e, embora eu vá resmungando os meus “Por favor, também se cá usa!”, a verdade é que se vão usando pouco.
Isto para não falar dos adultos, dos pais, muitos dos quais parece nunca terem ouvido falar em tais coisas. A educação começa em casa. A escola só a complementa e enriquece. E quando ela não existe e se abstém de exigir regras é um problema.
E tudo isto a propósito das Jornadas Mundiais da Juventude a ouvir o testemunho do Papa que se dirige aos milhares de pessoas, de jovens que o escutam, o aplaudem… Um bom orador capta pela palavra e o Papa Francisco captou a atenção de todos aqueles jovens utilizando apenas as palavras, mas dirigindo-as ao âmago de cada um. Os telemóveis eram para tirar fotografias e gravar o direto. Não havia silêncio, havia resposta oral e entusiasmada dos milhares que o ouviam.
Há, pois, que dar a volta a todo este imbróglio, porque os jovens são jovens (nós também fomos), rebeldes por natureza mas moldáveis. Em vez de se guerrearem há que dar as mãos e todos - pais, professores e educadores – começarem a falar a mesma língua no que à Educação diz respeito. Eu não posso dizer A se o outro vai dizer B. Temos de sincronizar as ideias, utilizar as mesmas regras, os mesmos motivos, para falar com a juventude e a cativarmos para as palavras mágicas que, eventualmente, os transportarão também para as outras que se misturam e constroem os livros de que andam tão arredados.
Não sei se acabar com os telemóveis, laptops, tabletes vai produzir algum efeito, neste momento. As Tecnologias são necessárias, não talvez com o exagero em que caímos. Nem 8 nem 80. No norte da Europa já os proibiram nas escolas, nós, sempre a reboque, com um atraso de uns 20 anos, continuamos a investir. Asneira? Não sei.
Há falta de diálogo, da palavra oral entre todos e em todos os campos, familiar, escolar, social… todos se debruçam sobre o telemóvel e a sala pode estar cheia que se ouve o zumbido de uma mosca. Mas isso já é outra história. Fiquemo-nos pelas palavras mágicas.
Por isso, POR FAVOR, digam DESCULPE, OBRIGADO/A, PERDÃO e COM LICENÇA q.b., para que voltem a figurar no vocabulário básico educativo da Língua Portuguesa.