Obesidade: desconstruir o preconceito
No passado dia 4 de março assinalou-se o Dia Mundial da Obesidade, uma data que vale a pena lembrar e que serve para consciencializar a população sobre esta doença que afeta cada vez mais pessoas.
A obesidade representa um dos maiores problemas de saúde pública que enfrentamos nos dias de hoje. Já considerada como a pandemia do século XXI, é previsto que em 2035 uma em cada quatro pessoas no mundo sofra de obesidade. Atualmente, em Portugal, estima- se que a obesidade afeta cerca de 28,7% da população adulta, com mais de metade da nossa população a apresentar excesso de peso (67,6%). O seu impacto económico é igualmente preocupante, com gastos a representar cerca de 10% da nossa despesa total em saúde.
Importa, portanto, perceber o que é a obesidade. A obesidade é uma doença crónica e multifatorial, definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma acumulação excessiva de gordura corporal com impacto negativo na saúde. O diagnóstico é tradicionalmente feito tendo em conta o índice de massa corporal (IMC = razão entre o peso em quilogramas e o quadrado da altura em metros), sendo considerado obeso o adulto com IMC igual ou superior a 30kg/m2 e com excesso de peso o adulto com IMC igual ou superior a 25kg/m2 mas inferior a 30 kg/m2. Contudo, este método diagnóstico tem vindo a ser contestado, com a mais recente produção científica a defender que o diagnóstico da doença vai além do IMC, devendo também ter em conta a distribuição da gordura corporal e o impacto clínico efetivo desta gordura em excesso.
De facto, mais do que aquilo que é visível aos olhos, importa realçar os danos invisíveis causados pela obesidade. A verdadeira problemática desta doença é que ela é precursora de muitas outras doenças, tais como: diabetes tipo 2; dislipidemia; hipertensão arterial; patologia cardiovascular; apneia obstrutiva do sono; doenças gastrointestinais e hepáticas; infertilidade; artroses e vários tipos de cancro. Adicionalmente, a insatisfação com a imagem corporal pode conduzir ao desenvolvimento de depressão e ansiedade.
Apesar disto, estes doentes são ainda muitas vezes alvo de estigma por parte de pessoas que falsamente acreditam que a solução passa apenas por comer menos e mexer mais. Esta é uma visão simplista que apenas contribui para gerar sofrimento. Na realidade, sabe- se atualmente que o mecanismo da doença é bastante complexo e que resulta não só de um fator, mas sim de uma interação de fatores genéticos, ambientais, comportamentais, psicológicos e socioeconómicos. Não deixa, no entanto, de ser verdade, que um dos grandes promotores da obesidade é um estilo de vida pouco saudável, com erros alimentares e sedentarismo. Daí que um dos grandes pilares do tratamento da doença seja a mudança de comportamentos sustentada no tempo, com a adoção de uma dieta equilibrada e a prática de atividade física. Se estas intervenções não forem suficientes e de acordo com recomendação médica individualizada, é ainda possível recorrer a fármacos e em última instância a cirurgia bariátrica. A psicoterapia pode ainda oferecer um importante apoio ao longo deste processo.
Se está na luta contra a obesidade não hesite em procurar apoio médico!
Bibliografia:
1. World Obesity Federation (2024). Obesity Atlas 2024. Disponível em: https://data.worldobesity.org/publications/WOF-Obesity-Atlas-v7.pdf
2. Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência (CEMBE), Evigrade-IQVIA e Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO) (2021). O Custo e a Carga do Excesso de Peso e Obesidade em Portugal.
3. Rubino, F., Cummings, D. E., Eckel, R. H., Cohen, R. V., Wilding, J. P., Brown, W. A.,
… C Mingrone, G. (2025). Definition and diagnostic criteria of clinical obesity. The Lancet Diabetes C Endocrinology. doi: 10.1016/S2213-8587(24)00316-4.
4. Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade. Manual de orientação para pessoas com pré-obesidade e obesidade. Disponível em: https://www.speo- obesidade.pt/wp-content/uploads/2020/06/Manual-de-orienta%C3%A7%C3%A3o-para-pessoas-com-pr%C3%A9-obesidade-e-obesidade-2.pdf
5. Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo. Obesidade. Disponível em: https://www.spedm.pt/pt/glandulas-e-doencas- endocrinas/obesidade-2
