O que é um escritor?
Ser escritor é uma profissão que deve ser respeitada como qualquer outra e, como tal, remunerada. Em vez de tijolos como o trolha, uso as palavras para construir textos com diversos fins mas absolutamente necessários à humanidade, se começarmos pelos livros da escola onde todos aprendemos o bê-a-bá. Não me vou aqui perder a tecer considerações sobre os vários tipos de textos que não vêm ao caso. Vou focar-me na leitura recreativa, um poderoso auxiliar da educação e do bem-estar da vida de qualquer pessoa.
Qual é o estipêndio do escritor? Receber pela sua deslocação, pela permanência no local para onde foi convidado e, claro, que comprem os livros. O escritor tem de os pagar à editora ou, se fez edição de autor, tem de recuperar o dinheiro investido para poder continuar a publicar.
Passa-se o mesmo comigo agora que enveredei por esta carreira. Se fosse rica, editava os meus livros e oferecia-os às bibliotecas de todo o país. Era a escritora mais feliz do mundo!
Como nunca me saiu o totoloto nem tenho milhões, tenho de fazer como os outros: investir na divulgação e promoção do que edito.
E escrevo porquê?
“Todos somos escritores, só que alguns escrevem e outros não” dizia Saramago. Porquê?
“O que faz o leitor tornar-se escritor é o desejo de fazer algo semelhante àquilo que lhe deu tanto prazer durante a leitura” dizia Jean Paul Sartre.
Verdade. Na base de um escritor está sempre um leitor. Roland Barthes dizia que “o que faz uma pessoa querer ler é a busca de algo que falta na sua vida”. Sei de muitas coisas que faltam na minha vida, mas também sei que tenho a necessidade imperiosa de escrever, de deixar que as palavras escorram para o papel, quantas vezes quase por vontade própria. Dou comigo a ser espetadora do que escrevo como se de um filme se tratasse. As linhas enchem-se e surgem crónicas, contos, poesias, histórias infantojuvenis e, até, romances.
A criatividade, quando desafiada, é um motor que leva à escrita. Sou disso exemplo. Desde que descobri os desafios diários das Histórias em 77 palavras da Margarida Fonseca Santos não perco um. Uma ótima forma de fazer ginástica mental e de impedir que a ferrugem se instale e que o traiçoeiro “alemão” surja súbita e prematuramente.
Digamos que escrevo pelo puro prazer de escrever e de transmitir o amor que tenho à minha língua, utilizando diversas formas que cheguem ao(s) meu(s) público(s), seja ele o infantojuvenil ou o adulto.
Os concursos literários podem ser e são um desafio. A poetisa nasceu porque os concursos daquele ano eram quase todos de poesia. E fui-a escrevendo, essa sim tem hora, é matinal e escrevo-a no caderno que tenho à cabeceira, sem acender a luz e calculando as linhas que vão sendo preenchidas. Quantos textos não aparecem em cima de outros!
Tantas histórias se perderam por não ter o caderno no quarto ao alcance da mão. Nem sempre apetece levantar e ir à sala escrever a ideia que surgiu e que, no dia seguinte, já partiu. Não resta nada.
E, como muitos, fui escritora de “literatura de gaveta”. A escritora esteve sempre amordaçada, enquanto a professora viveu. Apenas aparecia esporadicamente no Jornal Escolar O Pequeno Jornalista, na Elo (revista do Cffh), nas crónicas do Reflexo (e do Povo de Guimarães entretanto desaparecido).
Resumindo, escrevo para quê? Estes motivos enumerados poderiam ser o meu
DECÁLOGO DA ESCRITA:
1.-Escrevo para te cativar para a leitura e para a escrita;
2.-Escrevo para te mostrar o poder das palavras orais e escritas;
3.-Escrevo para te divertires com as letras lendo histórias, contos, poesias… que encham o teu quotidiano de fantasia;
4.-Escrevo para te refugiares do stresse do dia nas nuvens do sonhar acordado do livro que lês;
5.-Escrevo para te desafiar a encaixares as palavras na ordem correta do puzzle gramatical;
6.-Escrevo para te ensinar a usufruíres do contacto do lápis com o papel e sentires as ideias a deslizarem para a folha branca;
7.-Escrevo para te autodesafiar a seguires veredas desconhecidas que te levam ao mundo secreto dos escritores/ poetas;
8.-Escrevo para desafiar a tua criatividade quando me lês;
9.-Escrevo para te embalar na toada poética, no enredo narrativo, na informação jornalística, …
10.-Escrevo para que partilhes comigo o amor pela Língua e Cultura Portuguesas.
Leiam muito e aventurem-se na escrita. Boas leituras e melhores escritas!