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O poder de decidir juntos

Movita em Reflexo
Opinião \ quinta-feira, junho 05, 2025
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O desafio está lançado: participar mais. Propor mais. Julgar menos. Colaborar com quem serve e desafiar com respeito. Fazer parte.

Movita em Reflexo: Porque todos contam

Assinar este primeiro artigo da rubrica mensal Movita em Reflexo é mais do que um privilégio: é um compromisso. Um compromisso com a participação, com a escuta ativa e com a coragem de imaginar coletivamente o futuro que queremos para as nossas comunidades.

Importa esclarecer que a "política" de que falamos na Movita nada tem a ver com lutas partidárias ou ideológicas. Aliás, não esqueçamos que a própria palavra "política" vem do grego polis, que significa "cidade" – ou seja, diz respeito à vida em comunidade. É precisamente por isso que a Movita assume uma posição neutra, afastando-se da política ideológica. Esse campo, legítimo e necessário, cabe aos partidos – que devem apresentar propostas, esclarecer o eleitorado e disputar, com clareza, os caminhos que defendem para a sociedade. A nós, enquanto associação cívica, não nos cabe decidir por ninguém, mas sim criar espaço para que mais cidadãos tenham acesso, voz e capacidade de intervenção. Falamos da vida em comum. Do que é nosso e do que está ao nosso alcance mudar. Falamos da arte de decidir juntos, como comunidade, como cidadãos com voz e com ideias.

Este movimento começou nas Taipas, com um grupo de pessoas que acreditou que era possível fazer diferente. Não para ser contra ninguém, mas para ser por todos. Para trazer soluções, ideias, projetos e vontade de construir. Para substituir a crítica vazia por propostas concretas. Porque, sim, é fácil criticar quem decide. Mas mais importante do que apontar o dedo é dizer: "Eu não faria assim – e aqui está a minha proposta". É aqui que entra a Movita.

Temos de ultrapassar essa ideia de que todos os que ocupam cargos políticos estão por interesse ou ganância. Claro que há erros, como em qualquer setor. Mas há também muito esforço, dedicação e sacrifício pessoal. É fácil esquecer que há quem abdique de tempo com a família, de paz pessoal, para servir a sua terra, mesmo sabendo que será alvo de escrutínio – muitas vezes injusto. Essa realidade, tantas vezes silenciada, afasta pessoas valiosas da participação política e cívica. E com isso perdemos todos.

Por isso, na Movita acreditamos que é urgente devolver dignidade à participação pública. Valorizar quem se dá. E, sobretudo, criar condições para que mais pessoas possam contribuir. A política não pode ser um campo minado, reservado a quem está disposto a tudo – tem de ser um espaço aberto, plural, onde quem participa é respeitado, independentemente do cargo que ocupa ou da forma como se envolve.

A participação é o coração da democracia. E quanto mais pessoas participarem, melhor serão as decisões. Porque ninguém conhece melhor os problemas locais do que quem os vive. E ninguém encontrará melhores soluções do que aqueles que se preocupam e querem fazer parte do processo. Queremos cidadãos que digam: "Aqui está a minha ideia. Posso ajudar a concretizá-la".

Mas isso só acontece se houver canais, estruturas e ambientes que acolham essa participação. Foi por isso que criámos a Movita. Começámos por aqui, pelas Taipas, porque é a nossa casa, mas com a ambição de inspirar outras localidades. Acreditamos que a transformação começa localmente. Uma vila mais participativa é o primeiro passo para um país mais justo e mais democrático.

Desde o nosso arranque – num evento público cheio de vida, cultura e partilha – sentimos que estávamos a tocar num ponto essencial. As pessoas querem participar. Querem ser ouvidas. Querem sentir que fazem parte de algo maior. Que não estão apenas a assistir, mas a construir. Que não estão a reclamar, mas a propor.

E muitos dos que nos procuram querem ajudar, mas pedem para permanecer anónimos. Porquê? Porque não querem ser confundidos com "os políticos". Porque têm medo do julgamento, do rótulo, da exposição. Isso mostra como chegámos a um ponto crítico: onde o envolvimento cívico é visto com suspeita. E isso tem de mudar.

Precisamos de reconstruir essa ponte entre os cidadãos e o poder local. Com respeito, com verdade, com disponibilidade para ouvir e para propor. Sem ingenuidade, mas com esperança. Porque se mais pessoas com sentido de compromisso e espírito comunitário participarem, melhores decisões serão tomadas. Porque se mais ideias circularem, mais soluções surgirão. Porque se mais cidadãos forem ouvidos, teremos comunidades mais vivas.

Queremos também inspirar as novas gerações a terem um posicionamento mais participativo. E para isso, a tecnologia é fundamental. Queremos aproximar os jovens através de plataformas acessíveis, ferramentas digitais e uma linguagem que fale a sua voz, para que se sintam verdadeiramente parte da construção da sua comunidade.

O desafio está lançado: participar mais. Propor mais. Julgar menos. Colaborar com quem serve e desafiar com respeito. Fazer parte.

A Movita está aqui para isso. Para acolher ideias, aproximar vontades e provar que todos contam – e que quem participa, transforma.

Esta nova etapa com o Reflexo Digital representa mais do que uma simples colaboração editorial. É o prolongamento natural de um esforço maior: lançar pontes. Pontes entre o discurso público e a escuta ativa, entre quem informa e quem age. Para nós, esta parceria é uma declaração clara de que a comunicação social é, e deve continuar a ser, um pilar essencial da democracia.

Através da imprensa próxima e livre, as decisões ganham contexto e visibilidade. Os cidadãos compreendem melhor o que está em causa e sentem-se parte do processo. É nesse espaço – de leitura, reflexão e partilha – que a comunidade se reconhece e se revê. E é também aí que queremos estar presentes.

É um exercício difícil manter uma linha verdadeiramente apartidária num espaço público cada vez mais polarizado. Um parágrafo mal interpretado ou uma palavra mal escolhida pode gerar ruído. Ainda assim, esse é um dos compromissos centrais da Movita. Não para agradar a todos, mas para garantir que não nos desviamos da nossa missão: criar espaço para a participação. Sem dogmas. Sem agendas escondidas. Sem filtros ideológicos. Apenas ideias, propostas, reflexões que ajudem a fortalecer a democracia.

Muitos dos que fazem a nossa terra avançar tiveram já o seu merecido reconhecimento nas páginas deste jornal. E, no entanto, quantas vezes paramos para reconhecer o papel do próprio jornal? Esta rubrica é também uma forma de o fazer. De valorizar o seu percurso, a sua resiliência, a sua dedicação. Não estamos aqui para competir. Estamos aqui para somar. Para dar voz a mais pessoas, a mais ideias, a mais perspetivas.

A Movita existe para isso mesmo. Para acrescentar, não para substituir. Para trazer pontos de vista, não para impor verdades. Eu próprio, enquanto presidente, não concordo com tudo o que leio ou oiço – e ainda bem. O pluralismo é a alma da democracia. O que não podemos fazer é retirar a voz a quem quer contribuir. O que não podemos permitir é que alguém se sinta excluído do processo de transformação social por não estar alinhado com uma estrutura partidária.

Sim, os partidos são fundamentais. Mas não esgotam a participação. Há muitas formas de se ser cidadão. De se intervir. De contribuir. E todas devem ser valorizadas. Porque o impacto da participação não se mede apenas pelo cargo que se ocupa, mas pelo compromisso com a comunidade.

É por isso que a Movita quer ser ponte. Entre quem decide e quem vive as consequências das decisões. Entre quem tem vontade de agir e quem precisa de apoio para o fazer. Entre gerações, setores, visões.

Sabemos que este é um caminho novo. Inovador. E como tudo o que é novo, traz desafios. Neste momento estamos a fechar o plano estratégico para este ano e o próximo. É fundamental ter rumo. Mas também é fundamental preparar a estrutura para o crescimento. Integrar novos associados. Criar processos simples e eficazes para que todos saibam como contribuir.

Este é também um apelo. A quem nos lê. A quem acredita. A quem tem vontade. Precisamos de mais mãos. De mais ideias. De mais gente que queira ver esta semente crescer com raízes fortes e saudáveis.

E sabemos por onde começar: pela raiz. Educar para a cidadania. Sensibilizar as novas gerações. Explicar como funciona a política, que direitos têm, que ferramentas existem. E cruzar isso com a experiência de quem já percorreu este caminho. Trazer à conversa quem sabe. E deixar quem quer aprender aproximar-se.

Será sempre por aqui que passará a nossa intenção. Cultivar democracia. Inspirar ação. E, com humildade e persistência, provar que todos contam.

 

Ismael Afonso
Presidente da Movita - Associação para a Participação e Ação Cívica