O (não) estudo sobre estacionamento
Em agosto de 2015, a Câmara Municipal contratou uma entidade especializada em mobilidade para elaborar o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (PMUS) de Guimarães.
No caderno de encargos dessa prestação de serviços podemos verificar que um dos princípios do plano é a Participação Pública: “envolvendo e incorporando a comunidade local e os atores que atuam sobre este tema na elaboração da radiografia do concelho e desenho do processo de superação e melhoria da mobilidade”.
Também a metodologia de trabalho proposta para esse plano prevê o envolvimento público em duas fases, sendo uma delas logo no início, na qual a população participa no debate crítico e propositivo de um “programa preliminar” sobre a visão do território e mobilidade.
Mas decorridos praticamente dois anos, e apesar do prazo de execução ser de apenas um, não existe PMUS nem qualquer participação pública. E foi sem PMUS e sem participação pública que ao longo destes anos foram tomadas decisões com relevante impacte na mobilidade do município, como é o caso da Ecovia e do Parque de Estacionamento da Caldeiroa/Camões.
Apesar do estacionamento automóvel ser uma das temáticas do PMUS que está em elaboração, a CMG decidiu encomendar um “Estudo sobre Estacionamento na Área Urbana Central de Guimarães” a um gabinete de arquitetura local pela quantia de 19.750€, com o objetivo declarado do estudo servir como base para uma reflexão pública alargada sobre o estacionamento na zona central da cidade.
O resultado desse estudo já foi divulgado, e veio na forma de “Contributos para a definição de uma Política de Mobilidade Urbana”.
Na verdade, o estudo não passa de uma opinião critica (mal fundamentada) sobre alguns documentos disponibilizados pelo município, mas onde é bem notória a falta de alinhamento dos autores com o paradigma da mobilidade sustentável que a CMG advoga, e a falta de conhecimentos técnicos sobre questões de mobilidade.
Um estudo sobre estacionamento que não tenha por base um diagnóstico da área pela quantificação e caracterização da oferta e da procura, tem pouca utilidade para qualquer reflexão sobre o tema, e muito menos para a sua gestão.
Se querem na verdade uma discussão púbica, séria e informada, sobre a mobilidade e suas componentes, façam cumprir o caderno de encargos para a elaboração do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável.
Pretender que este (não) “estudo” sirva de base para uma discussão pública alargada sobre estacionamento é uma farsa e um insulto à inteligência dos vimaranenses.