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O desvendar d’Os Segredos

Teresa Portal
Opinião \ sexta-feira, janeiro 20, 2023
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Em vez de noticiar, ou seja, reportar, porque sou muito mais repórter do que redatora, resolvi falar, fazer um relatório talvez da minha apresentação d’Os Segredos da Casa Abandonada.

No acolhedor Auditório Mário Rodrigues da EB23, decorado para o efeito (não faltaram as heras a meu pedido, sinal de que a casa abandonada voltou a ser habitada) e com os efeitos sonoros do mar e das gaivotas (a obra passa-se à beira-mar, numa aldeia piscatória e numa casa branca nas falésias com muitos segredos), os palestrantes foram falando para as pessoas que apareceram: família, amigos… quem quis ou pôde aparecer.

Foram poucos mas bons e a principal, eu, adorei. Mais uma vez agradeço o convite feito pela EB23 de Caldas das Taipas, hoje Escola Básica das Taipas, para apresentar a obra naquele espaço, numa casa que também foi a minha durante tantos anos, como salientou o atual diretor, incentivando-me a utilizá-la sempre que o desejasse no presente e no futuro.

Abro aqui um parêntesis para relembrar o quão difícil é para alguém que não seja taipense vingar neste meio. Há 42 anos que aqui vivo e volto a sentir o mesmo. Foi difícil impor-me como mulher e professora, mais difícil ainda como rotária (nem se se consegui!) e volta a ser difícil ganhar visibilidade como escritora. Já sei do que a casa gasta, por isso não estranho. O contrário é que seria de admirar.

Pela boca de Lucinda Palhares, diretora do CFFH, que apresentou a obra, muitos fizeram uma viagem ao passado, à juventude, em que ansiavam a chegada da carrinha Citroën cinzenta, as bibliotecas itinerantes, para requisitarem a coleção Os Cinco, depois Os Sete da Enid Blyton, mais tarde a Morgadinha dos Canaviais e outros. A comparação estabelecida com grandes escritoras como Enid Blyton, Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães elevaram o meu ego. “Agora as escolas têm bibliotecas fantásticas e, com este livro, a Teresa aventura-se na aventura, recriando num cenário muito ao gosto dos portugueses – a casa na falésia junto ao mar. Distante da aldeia piscatória, praticamente invisível, inacessível, assombrada, arquitetonicamente elaborada com corredores, alçapões, gruta, paredes falsas… tudo aquilo faz o nosso imaginário entrar em ação, propensa aos mistérios que a vão rodear. A escola e a sua importância como alavanca social perpassa a narrativa desta aventura assim como o caráter pedagógico que lhe subjaz, porque a Teresa com a alma de professora que lhe reconhecemos, não foi capaz dele se dissociar. Ligados às aventuras vêm sempre factos ligados à História que é explicada. Os quatro amigos ficaram a ganhar dada a atitude cívica que a Teresa lhes emprestou.” Apresentou os quatro rapazinhos e incitou os presentes a comprarem a obra que valia a pena ler.

O editor João Manuel Ribeiro falou do desejo atual da editora, desde a pandemia, de despertar paixões e desejos nos escritores. As duas coisas estão interligadas. “Concretizamos sonhos, derrubamos muros, continuamos a fazer trinta por uma linha, no sentido literal do termo - fazer algumas tropelias, asneiras. Os contos As Bruxinhas têm uma unidade temática, este é um “petit roman”, uma pequena novela para adolescentes”. E agradeceu-me por acreditar na Trinta-por-uma-linha que fez 15 anos, dando prioridade aos escritores portugueses e aos presentes.

A vereadora da educação, Adelina Pinto, salientou a importância crucial da paixão entre o leitor e o escritor e que “a Teresa foi sempre apaixonada e tinha uma maneira muito própria de transmitir o seu amor pela escrita aos jovens, um ótimo chamariz para atrair as crianças para a leitura. Leitora compulsiva, escritora compulsiva, sempre com um papel e uma caneta na mão, sempre a registar tudo na sua letra redondinha, acrescentando a prática que teve nesta casa e noutras, atraindo alunos para a leitura e para a escrita. Sempre me lembro da Teresa ser apaixonada pela História e que os livros sejam indutores de muitos sonhos e muitos mergulhos na aventura e na História não só das crianças mas também dos nossos.”

A apresentação do PPT que se seguiu, mais tarde o booktrailer já publicado, foi muito breve e desvendavam-se mais alguns segredos e davam-se algumas indicações.

Após uma breve apresentação, apenas esclareci o porquê de serem quatro jovens as personagens principais, pois, como todos sabem, sou feminista. Os rapazes surgiram espontaneamente, porque é uma aldeia piscatória e o futuro deles seria a pesca. Serem pescadores seria o seu destino, na altura e ainda hoje, fora do alcance das raparigas que seriam peixeiras. Também dei a conhecer o quando a ideia para as aventuras surgiu. Precisamente há 21 anos quando a vice-presidente podia não lecionar, uma lei que apenas se aplicou durante quatro anos, dos quais só aproveitei dois, pois, sendo professora de uma das turmas que mais gostei de lecionar acabei por levá-los ao nono ano. Nos dois últimos anos, surgiu a Oficina de Jornalismo e de Escrita Criativa, pois não aguentei estar sem alunos e apenas aturar professores, funcionários, pais e alunos indisciplinados que me estavam a deixar “maluca”.

Não fiz nenhuma brincadeira mas, pressionada, acabou por sair o texto que se segue em verso feito uma meia hora antes da apresentação: “O ruído de fundo/ do mar bravo e profundo/ ecoava na gruta / onde a caixinha de música / se fazia ouvir. / A casa abandonada/ praticamente arruinada / foi palco de grandes aventuras /quando foi restaurada/ de que não quiseram fugir./ Surgiram com fartura / narcotráfico e contrabando / desmantelaram o bando / dos narcotraficantes tratantes. / Paredes falsas segredos / aos catraios não causaram medos. / Eram aventureiros / da falésia guerreiros. / A casa remoçou / a nova dona chegou / e os mistérios explorou./ Era escritora e pintora / a todos admirou/ e neles acreditou. / Nazis? Arcas? Joias? / De tudo apareceu / mas tudo se resolveu./ E o Rufus também ajudou / quando a verdade se apurou. / Se queres saber / para tudo esclarecer / compra o livro/ e diverte-te a ler. / Este é só o primeiro /e do mistério o cheiro / permanece no ar. / Há mais livros para comprar.”

A sessão de autógrafos foi breve e o mar, que perpassa toda a minha obra, nunca deixou de se ouvir. Tal como Sophia de Mello Breyner Andresen, o mar é a minha praia. As aventuras, o amor pelo oculto, o facto de se falar do desmantelamento de uma rede de narcotraficantes, de falar do flagelo que o contrabando é para a economia mundial, de abordar a 2ªGuerra Mundial e os males que trouxe, de se conhecer uma ínfima parte do cérebro humano pelo que não explico os “poderes” do Zé… Pois bem, se se misturarem estes ingredientes num almofariz de alquimista (A ALQUIMIA DAS PALAVRAS é o nome do meu site) e lhe juntarem o meu amor pela aventura, pelo “oculto”, uma caixinha de música, um diário, umas arcas, uma caixa de prata trabalhada com joias, obtém-se uma mistura explosiva que se conjuga n’ Os Segredos da Casa Abandonada.

Comprem o livro que vale a pena.

Boas leituras!