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O Cravo  de Abril e as Cartas

Teresa Portal
Opinião \ sexta-feira, abril 26, 2024
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Falar de abril sem falar do 25 de ABRIL, numa data marcante, no seu cinquentenário, seria como deixar ficar para trás um marco da nossa história.

O tempo encarreirou, diz-se à boca cheia. Não sei porquê, porque «abril águas mil» e «mau vai o maio em que a velha não come as cerejas ao borralho», ou seja, ainda vamos ter muita chuva e muito frio pela frente. Que o diga a meteorologia que já prevê uma nova frente polar. Não esqueçamos que a Senhora das Candeias riu e, por isso, o inverno está para vir. Adoro esta sabedoria popular a que o passar dos séculos deu estatuto e relevância.

Infelizmente, já são poucos os sábios, pois vão desaparecendo da nossa paisagem. Lavrar a terra caiu em desuso, é muito cansativo e não compensa, pelo que só o pessoal mais velho, formado por aqueles que vão teimando em permanecer nas nossas aldeias, continua a lançar aos ventos a sua sabedoria popular.

Falar de abril sem falar do 25 de ABRIL, numa data marcante, no seu cinquentenário, seria como deixar ficar para trás um marco da nossa história. Publiquei um conto «O Cravo de Abril» que começa por ser isso mesmo, mas, como todas as histórias, tem o seu quê de verídico, como o nome da Celeste que muitos julgam ter sido uma florista e foi apenas uma mulher de limpeza que, ao chegar ao restaurante onde trabalhava, apenas viu gente a correr pelas ruas e as «chaimites» e os soldados a gritarem slogans e, ao pedido de um cigarro por um soldado, lhe deu um cravo que ele colocou na G-3. Onde foi buscar o cravo? Aos molhos que à porta do restaurante se destinavam a oferecer a quem lá fosse manjar nesse dia que festejava um ano de existência.

Há muitas histórias do 25 de abril e muitas ficaram sem contar, muitos dos martírios por aqueles que passaram pelo lápis da Censura e por aqueles que os viveram física e psiquicamente infligidos pela PIDE. Hoje, muitos falam do 25 de abril, mas todos os que têm menos de 60 anos já só podem falar por ouvirem falar. Ainda disse no outro dia que eu andei de cravo ao peito, ainda na faculdade. E sofri com os que se instalaram depois e nos chamavam fascistas por andarmos trajados (uma roupa que igualiza pode ser fascista?), isto depois do 25 de abril.

Os que viveram o 25 de abril na primeira pessoa são cada vez menos e talvez estivesse aí um belíssimo romance no estudo das recordações daqueles que foram para o Ultramar e daqueles outros que andaram de cola e escadote a colarem cartazes nas primeiras campanhas eleitorais.

Muita coisa mudou e ainda bem, mas muita deveria ter mudado e permaneceu. À censura sucedeu a corrupção, ao estado sucedeu o partidarismo, com ideias que pretendiam ser de liberdade. Não me vou enfiar por partidos, porque não tenho e nunca tive nenhum. Muito sinceramente, digo mal deles todos. O estar em listas tem a ver com as condições que imponho para lá estar.

Há uma expressão bem portuguesa que resumo tudo « a m… é a mesma, as moscas é que mudaram». Acho que a partir de determinada altura, as eleições são isso mesmo, infelizmente. Estou política, talvez devido ao dia, porque, para mim é ou devia ser ABRIL SEMPRE.

E já falei q.b de abril, de forma vária: poesia, conto e agora crónica.

Lancei na Feira do Livro de Creixomil, no dia 20 de abril, o meu segundo romance «Cartas ao meu eu do outro lado do espelho». Vou ver se consigo fazer uma apresentação aqui, brevemente, mas para já aqui fica a informação.

O tema central é a depressão que, segundo a OMS, é a doença do século, acho que se referem ao século XX levando por arrasto o século XXI. É um diário, um tipo de texto não muito comum para adultos, mas que resolvi explorar. Não é tão grosso como o «Vidas Sofridas», mas é muito «sofrido» também e carrega uma chamada de atenção para muitos factos e acontecimentos para os que o desejem ler e façam o favor de o comprar. Atempadamente, anunciarei o seu lançamento na vila, pois, como sabem, moro mais propriamente numa freguesia perto dela que adotei como segunda casa.

E pedia um favor às escolas do concelho de Guimarães. Chamem-me, porque edito há quatro anos e ainda só fui a três escolas e, acima de tudo, recebam bem os escritores, tanto a mim como a outros. Receber por receber não leva a lado nenhum. Utilizem a prata da casa que é mais económica, porque está ao alcance da mão. Divulguem os escritores e, no meu caso, chamem-me para fazer oficina de Escrita Criativa. Só se aprende a escrever escrevendo. Se não houver esse exercício com alguma frequência, os alunos não gostarão da leitura, precisamente porque não sabem descodificar o eu leem.

Uma não existe sem a outra. São as duas faces da mesma moeda: o conhecimento, o divertimento, o esquecer mágoas, o partir para novos mundos.

Venham voar comigo. Obrigada.

ABRIL SEMPRE.