O caminho de Guimarães como Capital Verde da Europa começa agora
Um dos dilemas no último verão foi a seca extrema que chegou a uma parte significativa do território português. A região norte de Portugal é onde mais chove e onde menos se sentem os efeitos que já são bastante notórios no Alentejo ou no Algarve. A ideia que a água um dia nos poderá faltar parece um disparate ou um mal que nunca nos chegará. Mas é bom que estejemos capacitados para isso.
Guimarães defendeu uma candidatura a Capital Verde Europeia, que desvalorizou o principal rio do concelho, que dá de beber a uma parte significativa da sua população. Ao longo dos vários momentos em que se assistiu a essa defesa, sempre se notou uma completa displicência em fazer de conta que o Rio Ave não é um problema.
É um facto que Guimarães pode ser capital de muitas coisas. Mas não é até agora uma cidade com tradições na aplicação de políticas de Ambiente, estando agora a dar os primeiros passos nesse sentido. São passos importantes porque apontam uma direção e um caminho a seguir. Isso sim, deverá ser fundamentado de forma consistente pelos nossos responsáveis políticos, além do horizonte dos mandatos autárquicos.
A Câmara Municipal de Guimarães, através do Laboratório da Paisagem, organizou um debate/ conferência sobre comunicação e Ambiente. Para o evento chamou vários responsáveis por órgãos de comunicação social, ao nível local e nacional. Como convidados especiais estiveram ainda Geoffrey Lean, apresentado como o primeiro jornalista ambiental do mundo e Richard Weyndling, da Environmental News Daily Service.
O programa previa uma apresentação da Capital Verde Europeia, por parte da coordenadora da Estrutura de Missão criada para gerir a candidatura. Isabel Loureiro não fez uma única referência ao Rio Ave, ao contrário dos oradores internacionais, que mencionaram de forma clara a importância dos recursos hídricos numa política de defesa e gestão do Ambiente.
Tal como aconteceu com a Cultura, a Capital Verde Europeia deveria ser o culminar do amadurecimento de um trabalho, com resultados substantivos. Guimarães ainda não tem nada disto: o PAYT ainda não saiu do centro histórico; o primeiro autocarro elétrico, pode ser simbólico, mas circulará vazio a maior parte do tempo, como os outros autocarros; de resto, não existem transportes públicos capazes de servir de alternativa ao automóvel; não há um Plano Municipal de Mobilidade; as vias cicláveis são unicamente para uso lúdico; e o rio continua a ser o sumidouro de descargas poluentes.
Neste ponto, é ainda significativamente mais longo o caminho que Guimarães tem para percorrer, do que aquele que percorreu até agora em matéria de Ambiente. A cidade é exemplar em muitas coisas, mas não o é seguramente neste domínio. Acredito que tem condições para ser e aí terá argumentos fortes para ser a Capital Verde da Europa. Por isso, o caminho começa agora.
É sabido o muito que a Câmara investe na sua comunicação institucional. Mas, além de pretenderem pintar um quadro todo muito verde, seria um ato de honestidade política apontar os aspetos que necessitam de ser corrigidos e assumir os respetivos compromissos sobre a forma de resolver os problemas que ainda existem em Guimarães.
Os vimaranenses vão querer sempre ver a sua cidade como sendo a melhor, mas aqui é primordial que sintam que Guimarães é o melhor concelho para eles próprios, em vez de se limitarem a fazer pose para ficarem bem numa fotografia. Guimarães tem todas as condições propícias para ser um dia Capital Verde da Europa, mas quando houver uma efetiva consolidação de muitas das boas ideias que surgiram nos últimos cinco anos.