«No amor, só existem infinitos»
Mia Couto ganhou o prémio PEN/ NABOKOV 2025 para literatura internacional, o primeiro autor de língua portuguesa a ser distinguido com este galardão.
É sua esta frase: "O suficiente é para quem não ama. No amor, só existem infinitos". Com ela, somos convidados a refletir sobre a natureza do amor, que, desafiando a lógica e a razão, está na base de todos os valores que nos regem, influenciando as nossas ações e decisões.
Fundamentais para a formação da identidade individual e coletiva são como uma bússola moral. No caos em que vivemos, em permanente mudança, os valores são as âncoras que nos ajudam a navegar por tantas situações desafiadoras. Contudo, não são universais; eles podem variar nas diferentes culturas, sociedades e indivíduos. O que é considerado valioso numa sociedade pode ser irrelevante noutra.
O amor é um dos sentimentos mais profundos e universais do homem, tmbém ele comandado pelos valores que cultivamos: o respeito, a empatia, a solidariedade e a honestidade, essenciais nas relações amorosas, para que se torne mais rico, profundo e duradouro.
Voltando à citação de Mia Couto, a ideia de que "o suficiente é para quem não ama", sugere que o amor não pode ser medido em termos de quantidade. O amor verdadeiro não se contenta com o "suficiente"; a sua barreira é o infinito. O amor expande-se, e as suas manifestações podem ser infinitas. Quando amamos de verdade, estamos dispostos a dar mais de nós, a sacrificar, a perdoar e a crescer com o outro.
Isto faz lembrar o lema rotário «Dar de si antes de pensar em si».
Se nos contentarmos com o que é "suficiente", corremos o risco de não buscarmos o crescimento pessoal e relacional. O amor exige um compromisso contínuo, sempre em inovação constante.
Os valores existem nas interações pessoais, mas deviam também ter um impacto profundo nas estruturas sociais e políticas. Nas sociedades em que são promovidos a justiça, igualdade e respeito, há um maior grau de coesão social. Se predominar a desconfiança, a corrupção e a desigualdade, o amor e a empatia são sufocados, esmagados.
A educação é o espaço fundamental para cultivar valores. Desde a infância, as crianças devem ser ensinadas a adquirirem conhecimento, mas também a desenvolver empatia, respeito e solidariedade. A maneira como nos relacionamos com os outros, mostra o modo como interiorizamos os valores que nos foram transmitidos em casa, em primeiro lugar, e na escola, como complemento.
Num mundo cada vez mais ameaçado por crises ambientais e sociais, a importância dos valores torna-se mais evidente. A sustentabilidade, por exemplo, não pode ser alcançada apenas por meio de inovações tecnológicas; ela requer uma mudança de valores. A conexão com a natureza e o reconhecimento de que fazemos parte de um ecossistema maior desafiam-nos a repensar o nosso modo de vida e as nossas prioridades. Isso, por sua vez, está intimamente ligado à nossa capacidade de amar - não apenas a nós mesmos e aos outros, mas também ao planeta em que habitamos.
Infelizmente, a crise pode revelar o pior da natureza humana. O egoísmo, a desconfiança, a falta de informação séria e verdadeira podem emergir, criando divisões em vez de promover a união. Há que evitar que isto aconteça ou a sociedade enfrentará crises cada vez maiores.
O autoconhecimento, a consciência dos nossos próprios valores permitem-nos agir de forma mais intencional e autêntica nas nossas relações e na nossa interação com o próximo. A construção de pontes torna-se fulcral, na medida em que, ouvindo e entendendo os valores dos outros, encontramos pontos em comum e desenvolvermos sociedades justas e solidárias.
A citação de Mia Couto lembra-nos que o amor é uma força infinita. Não nos contentemos com a mediocridade, procuremos alcançar mais e mais.
O amor, quando nutrido, fundamentalmente, pelo respeito, empatia e solidariedade, torna-se uma fonte de inspiração e de transformação, capaz de criar um mundo mais justo e mais humano.
Nesta éposa pascal, em que revivemos a Sua morte e ressurreição, refletamos sobre os nossos próprios valores, desafiemo-nos a amar de maneira mais profunda, a agir com mais responsabilidade e a sonhar com um futuro melhor para todos.
Boa Páscoa.
Aleluia! Aleluia!