Não tenho humor britânico!
Posso ter cursado Filologia Germânica mas não tenho humor britânico.
Inconcebível para alguns, para mim não. Conheço realmente muita gente com o meu curso que alinha nesse tipo de humor, eu não.
Para me rir a piada tem de ser explícita, compreensível e também não alinho na piada porca, questão de educação, acho eu.
Adoro a brejeirice, com os condimentos necessários e picantes q.b. A piada intelectualoide ou demasiado rebuscada deixa-me completamente impassível; não condescendo nem com a sombra de um sorriso.
Às vezes, sinto-me perfeitamente imbecil quando, em certos círculos, todos à minha volta se riem desbragadamente e eu permaneço ali, impávida e serena, alvo de todas as atenções por não participar na risota geral.
Outras vezes, associo-me à multidão anónima, ela sim imbeciloide, para me rir da triste figura que fazem. Hipocrisia? Não. Saber viver em sociedade.
Não me rio por dá cá aquela palha, mas sou risonha de meu natural, a não ser quando embrenhada em pensamentos nem sempre agradáveis.
O riso tem de ser merecido tal como os aplausos e os louvores.
Esse franzir dos músculos do rosto que faz tão bem e é tão saudável tem de ser sentido, verdadeiro.
Como já disse, não sou sorumbática e procuro ver a vida “colorida”, embora adore vestir o preto. “Para te esconderes”! sussurram alguns. “Porque sou forte (subterfúgio para não dizer gorda) ” respondo eu.
Há quem diga que sou pessimista. Devo dizer que discordo mais uma vez. Sou a primeira a rir-me das minhas falhas, o que desarma os outros que estão sempre à espera de espetar o aguilhão do sarcasmo, da ironia, da “dor de cotovelo” para não utilizar uma expressão bem mais minhota. Eu sou extremamente realista. Posso ter vivido no “reino da lua”, como dizia a minha mãe, e num “mundo encantado”, como eu desejei, durante uns tempos… Porém aterrei e a queda teve consequências muito nefastas.
Isso fez com que começasse a olhar a vida com olhos otimistas, com olhos de ver, de analisar o que ocorria à minha volta, com olhos de “má” mas nem assim aprendi. Ser confiante e crédula é um dos meus maiores defeitos. Acho que os outros não fazem o que eu seria incapaz de fazer. E fazem … e de que maneira. Mais uma vez o meu feitio cordato a falar mais alto mas… alto lá, quando viro onça, viro mesmo… e depois de ter virado nunca mais há hipótese de “desvirar”.
Uma mãe disse-me um dia que o filho gostava muito de mim, porque me estava sempre a rir. É… com os jovens “ladro mais do que mordo”, pois acredito na juventude; com os adultos, porém, engulo, engulo e estouro “mordendo”, principalmente quando são hipócritas, falsos, mentirosos, egocêntricos.
Infelizmente ou felizmente, dependendo do prisma por onde se espreitar, sou inofensiva e considero-me muito boa pessoa. Não procuro elogios mas aceito-os quando são merecidos e lamento que, ao longo da minha vida, tenha recebido poucos quando teria merecido muitos mais.
Mais uma vez a “dor de cotovelo” a falar mais alto. A eficiência e a eficácia fazem com que os outros se sintam mal e eu não sei ser de outra forma. Quando me meto nas coisas é para as fazer bem feitas e dar o melhor de mim e, acima de tudo, não ando a contar aos ventos o que fiz ou deixei de fazer, como tanta gente faz e… mente.
Acho que mais uma vez é uma questão de educação. Creio que, realmente, sou demasiado bem-educada para o meio onde vim cair. Desculpem, mas avisei. Quando é preciso morder também mordo…. muito de longe a longe.
E, neste momento, precisamos mesmo muito de nos rir para não chorar ou entrar em depressão com as caras cobertas que mostram os olhos e não os sorrisos, em que frequentemente as pessoas só se reconhecem pela voz. Vivemos momentos muito tristes, de isolamento forçado e a sociedade começa a mostrar sintomas de rutura. Temos de nos juntar e rir nem que seja com a Terapia do Riso numa sala ou num espaço, pois o riso é contagioso e deixa-nos bem-dispostos e recarrega-nos as baterias.
Ria-se à boa maneira portuguesa da piada fina ou da brejeira e seja feliz!
Teresa Portal
20 janeiro 2022