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Vivemos a ficção científica

Teresa Portal
Opinião \ sexta-feira, maio 12, 2023
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O tempo não volta para trás e, nos últimos sessenta anos, os danos causados ao planeta são já considerados irreversíveis. Estamos, pois, atados de pés e mãos.

Não era sobre isto que ia escrever. Mas, como às vezes acontece, a mão ganha vida própria e decide o que quer. Talvez tenha sido influência do último livro que li ou da série que acompanho na televisão, tudo ficção científica.

Março entrou com caretas, fazendo jus aos ditados «Março, marçagão, de manhã inverno, à tarde verão», «Abril águas mil» e «Mal vai o maio em que a velha não come as cerejas ao borralho» mostraram que a primavera e as outras estações deixaram de ser fiáveis. Tão depressa está frio como calor, chove como faz sol, os ciclones aparecem subitamente em todo o lado, bem como as cheias, os tsunamis, os terramotos… para não falar das doenças e das guerras. A economia vai de mal a pior, os bens alimentares subiram em flecha, a inflação não para e nunca houve tanta fome nem tanta ganância. Uns têm tudo e outros não têm nada. A população está a envelhecer a um ritmo assustador. Em Portugal, o nosso índice está no 1,1 quando devia estar em 2,2 para se refletir num rejuvenescimento populacional daqui por 25 anos.

O homem continua a fazer reuniões para discutir as questões climáticas, a tomada de medidas para que as mudanças drásticas, causadoras de todos os desastres naturais, se pacifiquem, se aquietem e, aos poucos, possamos voltar a ter o clima de que todos sentimos saudades. Impossível, dizem os cientistas. O tempo não volta para trás e, nos últimos sessenta anos, os danos causados ao planeta são já considerados irreversíveis. Estamos, pois, atados de pés e mãos.

Como será a Terra, quando a minha neta tiver vinte anos? Eis uma questão que, no momento, me preocupa pela pequena amostragem do que temos vivido este ano. Será que os filmes de ficção científica fizeram uma correta antevisão? Para sobreviver, teremos de construir cidades subterrâneas e ficar a viver lá em baixo, sob pesados controlos, como se fôssemos toupeiras? Ou vamos procurar outro planeta habitável e viver em estações espaciais até o podermos habitar, se não for já habitado? Será que os governos vão, finalmente, tomar as medidas restritivas de emissão do CO2 que já deviam ter tomado há muito se os interesses económicos não comandassem o mundo?

Infelizmente, não confio no homem que só tem um ídolo para idolatrar - o dinheiro. Com tantos alimentos que se deitam fora ou se estragam, como se pode tolerar que haja fome no mundo? A explicação primeira é precisamente a brutal desigualdade da distribuição das riquezas no mundo. É horrível pensarmos que a cada três segundos há uma pessoa a morrer de fome no planeta e que, atualmente, milhões de pessoas estejam a viver abaixo da linha de pobreza. Mas de que adianta falar dos milhões lá longe, quando há gente ao nosso lado a quem não damos a mão que morre de fome, que passa necessidades básicas? E, por arrastamento vêm todos os outros problemas: as guerras, a iliteracia, a falta de cuidados básicos, a falta de saneamento, a falta de água (futura fonte de disputa e já não devem faltar muitos anos!)… Por este andar, ainda vamos ter de pagar pelo ar que respiramos.

Havia profecias que apontavam o fim do mundo para 2012. Afinal já se passaram 10 anos e ainda cá estamos. De que modo? Fazer futurologia não está ao alcance de ninguém, penso eu, e não é preciso ser-se um vidente ou um “entendido” no assunto para se dizer que, face ao quadro que se está a pintar com tintas negras, acredito que já estejamos a viver o princípio do fim do mundo tal como o conhecemos.

O que me vale é crer na inteligência do homem e ser fã da ficção científica, pelo que penso que, antes de tudo isto acabar, terei hipótese de embarcar numa nave espacial e de me mandar por esse espaço fora para uma outra galáxia, em busca de um outro planeta ou então que habitemos as cidades subterrâneas até a Terra se tornar novamente habitável. A esperança é a última a morrer!