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Maré descartável

José Cunha
Opinião \ quinta-feira, junho 14, 2018
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Apesar de Guimarães estar a quarenta quilómetros do mar, não podemos pensar que não temos responsabilidade na sua contaminação.

No passado dia 8 de junho celebrou-se o Dia Mundial dos Oceanos, mas a julgar pelas notícias que nos chegam, não há qualquer razão para festejar, pois foram recentemente reveladas estimativas indicando que em 2050 o peso do plástico nos oceanos irá superar o dos peixes.

Já todos ouvimos falar das ilhas de lixo flutuantes, e do quanto a nosso modo de vida está dependente dos plásticos, mas estes números são ainda mais assustadores quando nos dizem que da totalidade dos plásticos já produzidos, metade ocorreu nos últimos 15 anos.

Nesta tragédia que afeta os oceanos, existem dois locais que são símbolo da sua grandeza e de campanhas de alerta para este flagelo.

Um deles é a pequena ilha desabitada de Henderson no Pacífico Sul, que tendo uma área pouco superior à de Guimarães, foi estimado que na sua costa estejam “atracados” 38 milhões de desperdícios plásticos oriundos de toda a parte do mundo.

O outro local é também uma ilha, e também no Pacífico, mas de proporções bem maiores (estima-se que do tamanho de França), e de origem não vulcânica: é a famosa Ilha do Lixo. Constituída por uma massa de resíduos flutuantes que as correntes marítimas transportam e retêm no local, esta “ilha” ganhou uma nova projeção com a intenção de a tornarem num novo país. Numa campanha que visa combater a indiferença dos líderes mundiais face ao problema do consumo massificado do plástico, foi solicitado à ONU que a ilha fosse reconhecida como um estado, tendo para tal até sido criada a bandeira nacional, moeda, selos, e sido atribuído passaporte a Al Gore.

Um local bem mais próximo, que infelizmente pode vir a ser também uma “bandeira” desta catástrofe ambiental anunciada, é o Mar Mediterrâneo.

O alerta é da WWW - World Wide Fund for Nature, que lhe chama “Plastic Trap” (armadilha plástica). A sua geografia, aliada à alta densidade populacional, que se agravada com a procura turística, e aliada ao consumismo descartável, potencia uma acumulação de resíduos na sua bacia, que regista uma concentração de microplásticos quatro vezes superiores à da Ilha do Lixo no Pacífico.

Apesar de Guimarães estar a quarenta quilómetros do mar, não podemos pensar que não temos responsabilidade na sua contaminação. São os rios que alimentam os oceanos, levando a água, e tudo o mais que nela for depositado. Quando chove, os resíduos que se acumulam nas bermas das estradas (que são bem visíveis com o corte de vegetação preventivo de incêndios) são encaminhados pelos sistemas pluviais para os nossos ribeiros e rios. Quem nunca reparou no estendal de plásticos na vegetação ribeirinha após chuvas fortes? Essa é a pequena parte que fica (temporariamente) por cá. O resto anda algures por aí…