Ler poesia às crianças... é fundamental
A aprendizagem da leitura e da escrita é um procedimento essencial para o desenvolvimento infantil. Entre as várias estratégias que podem ser utilizadas para que as crianças se encantem com as palavras e as aprendam a amar, pode destacar-se a leitura de poesia como uma ferramenta poderosa, mais ainda, a declamação de poesia. Mesmo não sabendo ler, a criança pode deliciar-se com os sons, os fonemas das cantilenas, dos trava-línguas, quantas vezes sem sentido.
Relembro o que aprendi há quase 65 anos no colégio de freiras franciscanas (escola oficial não particular), em que, na creche (não havia pré-escolar, nem no tempo dos meus filhos e o meu mais novo tem 31), já aprendíamos a cantilena:”una, duna, tena, catuna, cigarra, bugalha, pica, capés, conta que são dez” e são mesmo, e já para a rima “Rei, capitão, soldado, ladrão, menina bonita do meu coração” e se brincava com os botões ou com os dedos. Podia não ter sentido, mas tinham a apreensão dos sons, o desenvolvimento da parte fonológica da língua.
Mais tarde, aprendemos poesias inteiras. Ainda hoje as sei de cor: «A balada da neve» de Augusto Gil e «Os ninhos» de Afonso Lopes Vieira.
Quando as crianças se identificam com os textos poéticos, cheios de ternura, elas sentem-se mais motivadas a repetir, a manusear novas palavras e a inventar as suas próprias composições, fortalecendo a sua expressão escrita.
Era precisamente através da repetição que as aprendíamos, assim como fizemos com a tabuada que era cantada: 2x1=2, 2x2=4, 2x3=6... pelos vistos, erradamente, pois deveria ter sido 1x2=2, 2x2=4,2x3=6... E assim se sabia de cor a tabuada. Dizia uma anedota, verdadeira ou não, que um aluno chamado a dizer a tabuada, dissera ao professor que só sabia a música, não a letra. Porque era mesmo uma toada cantada. Que aprendíamos, aprendíamos. A repetição está na base do conhecimento e tudo quanto se fazia contribuía para a aquisição da capacidade de memorizar e assim se adquiriam conhecimentos que ficavam para a vida.
Já professora, punha as alunas a saltarem a corda repetindo as preposições simples ou os pronomes ou as conjunções. Estavam a divertir-se e, simultaneamente, a aprender.
O desafio à imaginação com a criação de adivinhas, por exemplo: “O que é o que é, quanto mais quente está, mais fresco é?” (O pão.) “O que é, o que é? Tem cabeça e tem dente, não é bicho e não é gente?” (O alho). “O que é, o que é? Não se come, mas é bom para se comer? (O talher).
Outro benefício importante da poesia é o desenvolvimento da compreensão textual. Diferentes formas de expressão levam as crianças à descoberta de um mundo maravilhoso ao interpretarem mensagens, ao identificarem recursos expressivos, ao compreenderem o significado das palavras em contextos variados.
A leitura de poesia leva à expansão do vocabulário, pois os poemas costumam utilizar palavras mais ricas e variadas, desafiando as crianças a utilizarem novas expressões na fala e na escrita.
A poesia não tem apenas um papel no despoletar do sentido cognitivo, também promove o desenvolvimento emocional. Os versos podem provocar emoções, sensibilizar para diferentes sentimentos e estimular o crescimento da empatia. Quando se envolvem com as poesias, as crianças aprendem a exprimir as suas emoções de forma mais trabalhada, o que se reflete positivamente na sua escrita criativa e na capacidade de comunicarem oralmente de forma mais clara e sensível.
Por fim, o contato frequente com a poesia fortalece o vínculo afetivo entre as crianças e os adultos. Leitura de poesias em casa ou na escola criam momentos de troca, de escuta atenta e de diálogo, primordiais para o desenvolvimento emocional e social. Esses momentos também ajudam a estabelecer uma atitude positiva em relação à leitura, tornando-a uma prática agradável e habitual.
Concluindo, incorporar a poesia na rotina de aprendizagem das crianças é uma estratégia eficaz, que traz benefícios que ultrapassam o simples reconhecimento de palavras. Ela promove a sua formação integral, estimulando a leitura, a escrita, a imaginação, a sensibilidade e o gosto pela linguagem. Ou seja, a poesia torna-se uma ferramenta valiosa para tornar a alfabetização mais significativa, lúdica e enriquecedora para as crianças.
E, vocês, pais e educadores, leem poesia às vossas crianças? Ficam aqui três sugestões que vi na minha prateleira «Rondel de rimas para meninos e meninas», «Pó-pó-pó, tiroliroliroló», «Um dois três, um mês de cada vez»de João Manuel Ribeiro da Trinta-por-uma-linha.