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Instabilidade política e desinformação: o risco que deixamos para o futuro

Alexandra Pimenta
Opinião \ quinta-feira, maio 22, 2025
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Jovens desinteressados, descrentes ou manipulados não se envolvem. E uma democracia sem envolvimento é uma democracia enfraquecida.

Vivemos um tempo em que a velocidade da informação supera a capacidade de reflexão. A política, espaço por excelência do debate público e da construção coletiva, encontra-se cada vez mais vulnerável a crises de confiança, polarizações extremas e à crescente disseminação de desinformação. Este cenário, longe de ser apenas um problema do presente, representa um risco profundo para as gerações futuras — particularmente para os jovens, que enfrentam o desafio de construir um futuro num terreno cada vez mais instável.

A instabilidade política manifesta-se não só na sucessão de governos frágeis ou na volatilidade partidária, mas também na crescente desvalorização da política como instrumento de transformação social. Cada escândalo, cada promessa não cumprida, alimenta um ciclo de desconfiança. Em contextos como o nosso, em que a proximidade com o poder local é muitas vezes mais tangível do que com o poder nacional, a desilusão política torna-se ainda mais grave: mina-se o tecido comunitário e desmotiva a participação cívica.

A juntar a isto, a desinformação, alimentada pelas redes sociais e pela falta de literacia mediática, compromete seriamente o acesso dos cidadãos à verdade. Meias-verdades, títulos sensacionalistas e teorias da conspiração tornam-se, muitas vezes, mais virais do que os factos. E se os adultos por vezes se deixam levar, os jovens, com menos experiência e ferramentas para filtrar o que consomem, estão ainda mais expostos a este fenómeno.

As consequências são preocupantes. Jovens desinteressados, descrentes ou manipulados não se envolvem. E uma democracia sem envolvimento é uma democracia enfraquecida. O afastamento da política torna as instituições mais vulneráveis a discursos populistas e extremistas, que se aproveitam da frustração para prometer soluções fáceis para problemas complexos.

É urgente apostar na educação cívica e mediática. É preciso ensinar os mais novos a questionar, a verificar e a pensar criticamente. Mas também é necessário que a política volte a ser espaço de escuta, diálogo e confiança. Que se construa, com e para os jovens, uma visão de futuro em que possam acreditar.

A política não pode ser um espetáculo. Nem a mentira pode ser confundida com opinião. As escolhas que fazemos hoje, enquanto comunidade, terão impacto direto na qualidade da cidadania de amanhã. E é nossa responsabilidade deixar como herança não a descrença, mas a capacidade de imaginar — e construir — um país mais justo, informado e estável.