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(In)atividade física na pandemia – qual o impacto nas crianças e jovens?

Miguel Ângelo Ribeiro
Opinião \ segunda-feira, novembro 23, 2020
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Sabendo que as crianças aprendem por imitação, é a altura ideal para os adultos mudarem algumas rotinas, darem o exemplo e participarem conjuntamente com as crianças nessas atividades.

Diversos estudos científicos evidenciam os inúmeros benefícios da prática de atividade física regular. Em contraste, a inatividade física é um importante fator de risco para o desenvolvimento de diversas doenças, nomeadamente, a obesidade, diabetes, depressão, doenças cérebro-cardiovasculares, oncológicas e respiratórias. Além disso, estima-se que, anualmente, estejam diretamente relacionadas com a inatividade física, 14% do total de todas as mortes.

Em Portugal, os números de inatividade física, de uma forma geral, são preocupantes. Relativamente aos adolescentes entre os 11 e os 17 anos, os dados do Eurobarómetro de 2018 revelaram que 84,2% não atingiam os níveis de atividade física recomendados pela Organização Mundial de Saúde. Crianças e jovens fisicamente ativos têm maior probabilidade de manterem esses comportamentos saudáveis na idade adulta, reduzindo o risco do aparecimento de diversas doenças e a mortalidade. Desta forma, é essencial que, desde pequenas, as crianças sejam incentivadas a integrarem a atividade física na sua rotina diária.

A pandemia pela COVID-19 veio agudizar ainda mais estas preocupações. A necessidade de isolamento social, a suspensão de muitas competições e atividades coletivas, a limitação de treinos e o receio de contágio afastaram ainda mais as crianças e jovens das atividades em que estavam inseridas. Os comportamentos sedentários, como jogar computador ou outros videojogos, estar no telemóvel ou tablet, assistir a filmes e séries, começam a preencher a rotina diária da grande maioria dos nossos futuros adultos.

Durante o crescimento e desenvolvimento, a atividade física não contribui apenas para o crescimento saudável. Está provado que o exercício físico melhora a concentração e o desempenho escolar das crianças e jovens. Contribui para uma sensação de bem-estar, com melhoria da autoestima e ajuda no desenvolvimento da comunicação e interação social. Para além disso, permite que as crianças conheçam o seu corpo, a sua força, agilidade e elasticidade e contribui para o desenvolvimento das suas habilidades psicomotoras e emocionais.

Em relação à atividade física formal, em clubes ou associações, por exemplo, é importante salientar a contribuição educativa dos professores e treinadores. É durante esta fase da vida que adquirimos valores e formamos a nossa personalidade. Neste sentido, estes elementos têm um papel central, que vai muito além do desenvolvimento das qualidades físicas e das habilidades motoras e desportivas. Têm o dever profissional e moral de participar diretamente na transmissão de valores éticos e humanos, como o respeito, a responsabilização, o empenho, o cumprimento de regras, o trabalho de equipa, o espírito desportivo, entre muitos outros.

Neste momento, a retoma em pleno destas atividades é ainda um mar de incertezas. Corremos o sério risco dos comportamentos sedentários se tornarem um hábito consolidado e ainda mais difícil de contrariar. Desta forma, é importante que os pais percebam o papel fundamental que podem desempenhar. O apoio e incentivo dos familiares para que as crianças e jovens sejam ativos é determinante para que mantenham este hábito no futuro. E, sabendo que as crianças aprendem por imitação, é a altura ideal para os adultos mudarem algumas rotinas, darem o exemplo e participarem conjuntamente com as crianças nessas atividades. Os espaços ao ar livre, como por exemplo os parques, são os locais de eleição pela possibilidade de manter o afastamento entre as pessoas. No entanto, mesmo em casa, há diversas coisas que podemos fazer para nos mantermos ativos, é uma questão de criatividade e, acima de tudo, vontade.