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Floresta autóctone em destaque

Gonçalo Cruz
Opinião \ quinta-feira, outubro 22, 2020
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É de facto admissível que a bolota fosse um alimento mais presente na dieta dos habitantes dos castros do que é hoje em dia.

[caption id="attachment_42835" align="alignnone" width="1500"] Sobreiros jovens por entre as ruínas da Citânia de Briteiros[/caption]

Quando se menciona o consumo da bolota pelo ser humano no atual Norte de Portugal, a informação remete quase sempre para o tempo dos castros, não raras vezes recorrendo a uma ideia que não é mais que uma suposição vaga: que antes dos Romanos só se comia pão de bolota, e que aqueles terão trazido o trigo. Ora, não só já havia trigo (e pão feito com este) antes da chegada dos Romanos, como a bolota continuou a ser um alimento ao longo da história. Mas a ideia que referimos foi retirada de uma breve citação de Estrabão, geógrafo da Antiguidade, que fala nas gentes dos castros do Norte da Península (das "montanhas") e que diz que eles faziam pão com bolota previamente seca.

É de facto admissível que a bolota fosse um alimento mais presente na dieta dos habitantes dos castros do que é hoje em dia. Mas na Idade do Ferro consumia-se um leque variado de alimentos, tal como nos períodos históricos seguintes, sendo também possível que o "pão de bolota" fosse feito a partir de uma mistura de farinhas, incluindo provavelmente cereais como o trigo e o painço. É certo que se recolhem, com frequência, bolotas carbonizadas em escavações arqueológicas, o que testemunha a sua utilização e ajuda a caracterizar a vegetação da época, que incluiria algumas espécies de carvalho, incluindo sobreiro.

A vegetação que vemos, hoje, no espaço das ruínas da Citânia de Briteiros, integra árvores que já existiriam na Antiguidade, particularmente sobreiros, que povoam o sítio arqueológico e que são talvez os principais embaixadores do que usamos chamar floresta autóctone. Esta abundância de sobreiro deu o mote para uma iniciativa conjunta da Sociedade Martins Sarmento e do Armazém da Bolota para assinalar o Dia da Floresta Autóctone em 2020, com um conjunto de atividades em torno do tema da recolha e utilização deste fruto silvestre, "parente pobre" de outros frutos secos, mas que foi, no passado, base importante da nossa dieta.

Foi por isso que se procedeu, na Citânia, a uma primeira apanha de bolota, no passado dia 17, que terá seguimento no próximo dia 24 de Outubro, numa iniciativa aberta à colaboração de todos, mediante inscrição prévia. Pretende-se assim não apenas informar sobre o recurso à bolota no passado, mas também perceber como este fruto é ainda hoje relevante e pode vir a ser um importante recurso no futuro.