Ficar ou partir? A encruzilhada silenciosa da juventude vimaranense
Num tempo em que o mundo parece “mais acessível” do que nunca, muitos jovens vimaranenses vivem divididos entre a vontade de ficar e a necessidade de partir. Esta não é uma decisão leviana: é um dilema moldado por realidades económicas, sociais e emocionais.
Embora a taxa de emigração jovem em Portugal ronde os 1,1 % entre os 20 e os 34 anos, os números não revelam tudo. A emigração já não se resume a partir por aventura. Hoje, para muitos, é uma fuga à precariedade, à dificuldade de encontrar trabalho qualificado e à pressão do custo de vida. Viver em Guimarães, apesar de todas as suas qualidades — cultura vibrante, instituições de ensino, dinamismo empresarial — não chega para garantir estabilidade a quem está a começar a vida adulta.
Por outro lado, há um profundo sentido de pertença que liga os jovens à cidade. Muitos sentem que Guimarães tem tudo para ser um lugar onde vale a pena investir no futuro: é segura, próxima da natureza, tem uma identidade forte e oportunidades para crescer. Ainda assim, o fosso entre o potencial da cidade e as condições reais para a juventude permanecer é, por vezes, difícil de ultrapassar.
O mercado de trabalho continua marcado por contratos a termo, baixos salários e escassa progressão. A habitação, cada vez mais cara, é outro obstáculo — as rendas absorvem grande parte dos rendimentos e dificultam a autonomia. Tudo isto empurra a geração mais nova para uma decisão que muitas vezes é vivida em silêncio: continuar a lutar por um lugar aqui ou procurar alternativas além-fronteiras.
Ainda assim, a permanência pode ser uma escolha ativa. A juventude tem mostrado capacidade para inovar, criar e resistir, mesmo em cenários adversos. Iniciativas locais, empreendedorismo jovem e o acesso a programas europeus oferecem caminhos para quem deseja ficar e construir. Mas para que isso seja sustentável, é urgente reforçar as políticas de habitação, emprego e apoio à emancipação.
A discussão sobre a emigração não pode ser apenas estatística. É um tema humano, social e político. Ficar ou partir não é apenas uma escolha individual — é um reflexo daquilo que uma cidade oferece (ou não) a quem nela quer viver. Guimarães tem todas as condições para ser uma cidade de futuro. Cabe à comunidade, às instituições e às políticas locais torná-la, cada vez mais, uma cidade onde a juventude queira e possa ficar.