Fantasia Verde
Guimarães não foi finalista na candidatura ao galardão de Capital Verde Europeia (CVE). Ainda assim, obteve um resultado verdadeiramente extraordinário e surpreendente, com a quinta posição (entre 13 candidatas) na ponderação dos rankings dos doze indicadores analisados, tendo mesmo ficado em segundo lugar em quatro deles.
Quem estava focado na “meta”, deve estar muito satisfeito. E quem estava mais interessado no “caminho”, deve estar perplexo: como é possível tão bom resultado com tão pouco percurso?
Foi essa pergunta que me assaltou quando soube da classificação de Guimarães, e assim que ficou disponível, fui procurar explicações no documento da candidatura a CVE.
Uma rápida leitura foi suficiente para confirmar as minhas suspeitas. Reconheci o estilo da escrita, muito semelhante ao do gabinete de comunicação municipal, mas não reconheci a realidade de Guimarães. Com maior ou menor cosmética ou fantasia, e com referência a práticas, planos e estratégias que desconheço, o que este documento em boa parte retrata, é uma projeção, uma aparência, que vai de encontro aos requisitos do concurso.
De facto, conhecendo a nossa realidade, quem não fica perplexo ao saber que no indicador Natureza e Biodiversidade, apontado pelo município como um dos mais débeis da candidatura vimaranense, obtivemos a segunda posição do ranking?
E quem não fica perplexo com um outro segundo lugar: a Governação?
Nesse indicador, segundo a candidatura, temos um Plano para a Sustentabilidade Guimarães 2030 (PSG 2030), que serve de “cunho de toda a ação política e administrativa que as instituições replicam e os cidadãos interiorizam diariamente”. Dizem ainda que “o continuado envolvimento de instituições e cidadãos é fundamental para esta política ambiental, incorporado em modelos de participação pública na análise, tomada de decisão e intervenção em todas as propostas e projetos definidos”.
Quem conhece o PSG 2030? Quem foi convidado a participar na sua elaboração?
Apesar disso tudo, existem aspetos positivos na candidatura que refletem práticas e melhorias ambientais efetivas.
Haverá certamente oportunidade para esse balanço, e para a análise detalhada de cada um dos indicadores, numa reflexão onde importa mais o caminho (feito ou por fazer), que o resultado obtido na candidatura, cuja renovação se deve questionar.
Em minha opinião, a sustentabilidade ambiental de Guimarães passa bem sem a pressão dos prazos de candidaturas e da partidarização do processo. O que precisamos é de uma abertura (sem censura) ao diálogo, reconhecendo que nem tudo está bem, e reconhecendo, na prática, a mais-valia da participação dos cidadãos.
Um bom começo será assegurar que um importante documento estratégico como o plano orientador para a sustentabilidade ambiental de Guimarães (PSG2030) reflete uma visão construída pelos vimaranenses.