26 abril 2024 \ Caldas das Taipas
tempo
18 ºC
pesquisa

Escavações no Balneário Este da Citânia, em 2018

José Antunes
Opinião \ quinta-feira, dezembro 06, 2018
© Direitos reservados
A intervenção deste ano nesta estrutura visou sobretudo terminar a sondagem iniciada em 2016, que não chegou aos níveis arqueológicos de construção do balneário.

A Arqueologia, na sua génese, surge da paixão de algumas individualidades pela aventura, pelo mistério, pela procura de resposta sobre certos vestígios e objectos que se revelavam enigmáticos. Um desses objectos é sem dúvida a Pedra Formosa de Briteiros, que desde o século XVII sempre levantou hipóteses, e dúvidas, sobre a sua utilização e proveniência, sendo que a única certeza era ter vindo do monte de São Romão. A certeza dessa proveniência nunca poderá, como quase tudo em Arqueologia, ser assegurada a 100%, no entanto, na atualidade e usando como base comparativa outros edifícios similares, é seguro afirmar que se trata de um elemento arquitectónico de um balneário “castrejo”, e que parece, comparando as suas dimensões com as da estrutura, proveniente de uma das zonas intervencionadas nos trabalhos arqueológicos da Citânia de Briteiros neste ano de 2018.   

Esta associação entre a “Pedra Formosa” e a estrutura intervencionada, havia já sido desenvolvida por Mário Cardozo nos anos 1930, no seguimento da construção da atual estrada nacional 309, que pôs a descoberto o Balneário Sul, e que destruiu parcialmente o Balneário Este.

A intervenção deste ano nesta estrutura visou sobretudo terminar a sondagem iniciada em 2016, que não chegou aos níveis arqueológicos de construção do balneário, mas apenas ao contexto de revolvimento do século XX e à deteção do que pareceu ser um grande corte que visou despojar o edifício dos seus elementos arquitetónicos mais impressivos. Este saque pode ser identificado com o realizado no século XVII, sob ordem do pároco de Sto. Estevão de Briteiros, que retirou a “Pedra Formosa” do seu local original.

Na campanha de 2018, a primeira decisão foi a de alargar a sondagem, de forma a abranger o pavimento da câmara e antecâmera da estrutura. Nestes balneários o pavimento destas duas câmaras era composto por lajes de grandes dimensões. Como o balneário foi afetado pela construção da estrada, tal como todo o edifício foi destruído em metade, também estas grandes lajes foram cortadas, o que incontornavelmente originou o seu deslocamento, afetando os níveis estratigráficos que poderiam contextualizar a sua construção. É exatamente nestes contextos, por entre as lajes, que nos surgiram grande parte dos achados que nos poderiam fornecer uma datação mais aproximada da construção do edifício, mas cujo revolvimento compromete uma datação segura. Os materiais recolhidos incluem alguns elementos em pedra, cerâmicas do final da Idade do Ferro e cerâmica comum de época romana. A nível de materiais importados recolheu-se apenas um gargalo de ânfora do tipo Haltern 70. Tal como na escavação no Balneário Sul, estes edifícios não nos dão uma grande quantidade de achados, se compararmos com escavações realizadas em contextos de utilização doméstica no centro do núcleo urbano do oppidum, posto que estes edifícios parecem ser sempre marginais à malha urbana.

A escavação deste balneário, mesmo com toda a perturbação que o edifício sofreu com diferentes ações ao longo da sua existência, revelou-se profícua para o aprofundamento do conhecimento destes misteriosos espaços, revelando-nos níveis arqueológicos intactos como o alinhamento da parede da câmara de sauna, ou o que poderá ser interpretado como o encaixe da Pedra Formosa.

Esta campanha foi promovida pela Sociedade Martins Sarmento, com alunos estagiários do curso de Arqueologia da Universidade do Minho, e com o apoio logístico da Casa do Povo de Briteiros e da Câmara Municipal de Guimarães.